17 set, 2024 - 20:49 • Ricardo Vieira
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O Governo declara situação de calamidade em todos os municípios mais atingidos pelos grandes incêndios desta semana e avisa que os próximos dias serão difíceis.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, no final de um Conselho de Ministros extraordinário, dedicada aos fogos.
A situação de calamidade vai permitir ao Governo "oferecer o apoio mais imediato e urgente" a quem perdeu a casa ou ficou sem meios de subsistência.
Luís Montenegro também promete fazer um levantamento dos prejuízos o mais depressa possível, com a ajuda das CCDR e do INE.
"Sabemos que há pessoas que ficaram sem casa, pessoas impedidas de irem trabalhar, há empresas inibidas de poder produzir, e sabemos que a população e as empresas são exemplos de bravura e merecem celeridade para todas as respostas necessárias", salientou.
O estado de calamidade também vai permitir "regimes excecionais para que todos os funcionários públicos possam estar disponíveis para as operações nos próximos dias, a começar nos bombeiros".
Luís Montenegro promete que o Estado vai atrás dos responsáveis pelos incêndios florestais nos casos em que há mão criminosa.
"Não podemos perdoar a quem não tem perdão. Não podemos perdoar atitudes criminosas que estão na base de muitas ignições nos últimos dias. Sabemos que há fenómenos naturais e situações de negligência, mas há coincidências a mais e necessidade dos portugueses saberem que o Estado em seu nome vai atrás dos responsáveis por estas atrocidades", avisou o primeiro-ministro no final do conselho de ministros extraordinário.
Montenegro garante que o Estado "não vai largar estes criminosos" e promete vida difícil para quem "quem coloca todo um país em causa".
"Não vamos largar aqueles que, em nome de interesses particulares, são capazes de colocar em causa direitos, liberdades e garantias e a própria vida dos nossos cidadãos e são capazes de empobrecer o nosso país", reforçou.
Nesse sentido, o primeiro-ministro pretende criar "uma equipa especializada em aprofundar com todos os meios a investigação criminal à volta dos incêndios florestais".
Sem concretizar, o chefe do Governo diz que “há interesses que sobrevoam estas ocorrências e que, só mesmo se não pudermos. Nós tudo vamos fazer para identificar e levar às mãos da justiça".
Luís Montenegro admite, também acionar o fundo de solidariedade europeu para fazer face aos danos provocados pelos incêndios dos últimos dias.
"Fizemos uma primeira análise, e se possível, se houver enquadramento nesse sentido, não deixaremos de acionar o fundo de solidariedade europeu, se os requisitos desse acionamento se vierem a verificar", disse o primeiro-ministro.
O Presidente da República também marcou presença no Conselho de Ministros extraordinário. Marcelo Rebelo de Sousa espera que a situação dos incêndios melhore até ao fim de semana, pelo efeito do combate de populações e operacionais e da evolução favorável das condições meteorológicas, mas desaconselhou facilitismo.
"Não podemos ter a tentação da facilidade", defendeu Marcelo Rebelo de Sousa.
Sobre o que poderá acontecer nos próximos dias, o chefe de Estado declarou: "Não podemos garantir que o dia de hoje não tenha ainda a projeção daquilo que foi vivido nos últimos dias. Mas esperamos que amanhã [quarta-feira] e depois de amanhã [quinta-feira] e nos dias subsequentes seja já muito mais claro o efeito do combate corajoso das populações, de todos os operacionais da Proteção Civil, das Forças Armadas, da Guarda Nacional Republicana (GNR), dos meios aéreos, dos meios aéreos já em operação e os que vão operar a partir da manhã".
"Tudo isso permite esperar, para além da eventual evolução favorável das condições meteorológicas, que no fim da semana estejamos muito longe daquilo que foi vivido no início dessa mesma semana", considerou.
Segundo o Presidente da República, os portugueses têm manifestado uma "serenidade que deve ser agradecida e realçada, sobretudo nas zonas atingidas" perante os incêndios dos últimos dias.
No seu entender, "nesse sentido, foi bom que quer o senhor primeiro-ministro quer o Presidente da República não tivessem tido uma mensagem facilitista dizendo que a realidade mudava de um momento para o outro".
"A pergunta seguinte é: e esta noite, e o dia de amanhã, e os próximos dias? Pois também aí não podemos ter a tentação da facilidade", acrescentou.
Desde domingo, já morreram sete pessoas e cerca de 40 ficaram feridas, duas com gravidade, nos incêndios que atingem as regiões norte e centro do país, em concelhos como Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha e Sever do Vouga, no distrito de Aveiro, que destruíram dezenas de casas e obrigaram a cortar estradas e autoestradas, como a A1, A25 e A13.
As mais recentes vítimas são três bombeiros que morreram hoje num acidente quando se deslocavam para um incêndio em Tábua, distrito de Coimbra.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 62 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que indica que nas regiões norte e centro, desde o fim de semana, já arderam 47.376 hectares.