12 set, 2024 - 06:30 • Anabela Góis
No Dia Europeu de Ação Contra a Enxaqueca, que se assinala esta quinta-feira, a Associação Migra Portugal e a Sociedade Portuguesa de Cefaleias alertam para a escassez de especialistas no Serviço Nacional de Saúde, o que deixa muitos milhares de portugueses sem resposta para o tratamento das enxaquecas, uma patologia que afeta mais de 15% da população.
Por causa desta situação, diz a neurologia Raquel Gil-Gouveia, há doentes que esperam anos por um diagnóstico.
“As pessoas têm dificuldade em chegar à consulta de especialidade, é comum chegarem quando já sofrem da doença, às vezes, há 20 anos.”
Felizmente, explica a neurologista, “só mais ou menos 10% dos doentes que sofrem de enxaqueca precisam mesmo de consulta de especialidade. Os restantes, em princípio, podem ser acompanhados nos cuidados de saúde primários, mas mesmo sendo só 10% de dois milhões, continua a ser muita gente”, conclui.
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Em média, por ano, apenas 300 doentes são tratados com medicamentos de última geração, mais eficazes e com menos efeitos secundários.
“Estes tratamentos mais inovadores estão reservados para as pessoas que já falharam várias terapêuticas prévias”, explica Raquel Gil-Gouveia, que conclui que “temos cerca de 300 doentes por ano tratados com esses tratamentos muito diferenciados, quando deviam de ser 10 vezes mais”.
A Sociedade Portuguesa de Cefaleias alerta, ainda, para a discriminação no acesso aos medicamentos de última geração que só são comparticipados no SNS.
Por falta de resposta, muitos doentes são forçados a recorrer ao setor privado, onde alguns fármacos podem custar mais de metade do salário mínimo nacional.
“Quando falamos de medicamentos biológicos, anticorpos monoclonais. Estamos a falar de preços médios, de tratamentos que andam entre 400 e 600 euros por mês”, afirma.
Para melhorar os cuidados de saúde da enxaquecas e cefaleias, a Associação Migra Portugal e a Sociedade Portuguesa de Cefaleias fizeram chegar ao Ministério da Saúde um documento com várias recomendações, sendo que a prioridade passa por melhorar a referenciação dos doentes, o que pode ser feito envolvendo outros profissionais, para além dos médicos de família, como os especialistas de medicina do trabalho e os farmacêuticos.