26 ago, 2024 - 18:03 • Lara Castro
Durante a madrugada desta segunda-feira, por volta das 05h11, foi sentido em várias zonas de Portugal um sismo de magnitude 5.3 na escala de Richter, ao largo de Sines. Mas o que pode haver em comum entre o abalo desta segunda-feira e o grande terramoto registado em Lisboa há três séculos?
O terramoto seguido de tsunami de 1755 foi gerado no Cabo São Vicente, a cerca de 100 quilómetros a sudoeste de Sagres. Arrasou Lisboa e provocou milhares de mortos. Com uma magnitude entre 8.8 e 9.0 na escala de Richter, foi 40 vezes superior ao sismo desta segunda-feira, que não registou vítimas nem estragos.
À Renascença, o geólogo Martim Chichorro explica que é “bastante provável que a área de rutura [do sismo de 1755] teve que se transferir para outras falhas.”
O geólogo acredita que há uma grande probabilidade de que “a falha, que gerou o sismo de hoje, seja uma dessas estruturas para onde se transferiu o movimento do sismo 1755”.
Martim Chichorro relembra a grandeza do sismo de 1755 que foi sentido em Lisboa, mas também em Salamanca e que “os efeitos chegaram ao Saara, à Mauritânia e a Marrocos”.
“O assunto é sério, mas não é sério por causa do evento de hoje, que é relativamente insignificante. É sério porque nos alerta que devemos pensar nestes assuntos no futuro”, acrescentou.
Estes sismos indicam que as estruturas sismogénicas - que têm potencial para gerar sismo, estão lá. Ainda assim, “não é assim tão linear dizer que houve uma libertação de energia e as tensões diminuíram, portanto o potencial diminuiu”, adverte o especialista.
“Não devemos ficar assim tão aliviados com o que aconteceu hoje. Temos é que saber que existe esse potencial”, sublinhou.
Para o geólogo, a crosta do sudoeste da Ibéria é bastante complexa e precisa de ser conhecida. “Esta estrutura não significa que outras estruturas próximas adjacentes não continuem a acumular e não estejam a atingir um ponto máximo de tensões crítico”, afirma.
Há quem diga que a Ibéria é uma margem continental estável, contudo há outros investigadores que sugerem que este é o princípio da passagem de uma margem continental estável para uma margem continental ativa.
“Para tentar explicar, eu diria que é como se a nossa margem continental do Oeste estivesse, aos poucos, a transformar-se numa margem ativa como a margem leste do Japão. Estamos nesta situação muito particular, que dá a sensação que estamos nos primórdios dessa transformação”, explicou.