22 ago, 2024 - 00:39 • Marisa Gonçalves
A Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) critica o processo de vacinação contra a gripe e a Covid-19, na época de 2023/2024, e que veio a ser centralizado nas farmácias comunitárias. A associação considera que ficaram patentes “vários problemas”, especialmente a nível “logístico e financeiro”.
À Renascença, o presidente da associação que representa as Unidades de Saúde Familiar, André Biscaia, diz que “o processo foi desviado para as farmácias”, e aponta que “não houve o publicitado aumento de postos de vacinação”.
André Biscaia garante que o número de doses administradas pelos Centros de Saúde baixou de forma drástica, não por falta de disponibilidade em vacinar, mas sim por falta de stock de vacinas.
“É importante que não se repitam erros e que o processo passe para os centros de saúde, como sempre foi feito, de forma mais ágil e com o maior número de inoculações”, declara.
O presidente da USF-AN sublinha que a medida adotada na época gripal de 2023/2024 ficou associada a um aumento de casos de gripe que necessitaram de internamento.
“O que é certo é que chegámos a dezembro com uma cobertura vacinal muito, muito abaixo, o que levou a mais casos de gripe e mais graves. Refletiu-se, por exemplo, na taxa de internamento, em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), que foi o dobro do ano anterior. São percentagens baixas, mas é o dobro. E houve um pico de casos de gripe também em UCI”, sustenta.
Por outro lado, o presidente da USF-AN acusa um desvio de verbas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para o setor privado, com mais gastos financeiros acrescidos para o Estado.
“Aquilo que se pagou às farmácias comunitárias podia ter sido feito pelo Centro de Saúde e tinha-se poupado o equivalente ao vencimento anual de 639 enfermeiros. Ou seja, em vez de se ter feito um processo que correu mal e que era redundante com aquilo que realmente era possível fazer nos centros de saúde, gastou-se esse dinheiro e não se contrataram os enfermeiros que o SNS precisava”, aponta.
André Biscaia acredita que o processo de vacinação pode ser diferente para a próxima época de outono/inverno e diz que, apesar de não ter garantias, já desencadeou reuniões com a tutela, nesse sentido.
Tivemos uma reunião com a Direção Executiva (do SNS) tivemos uma reunião com a Diretora-Geral da Saúde e vincámos a nossa posição. A Diretora-Geral da Saúde disse que o processo iria sofrer melhorias em todo este processo, não nos foi dito em quê, e aguardamos agora as diretrizes. Esperamos que, realmente, não se repitam erros e que se consiga melhorar todo o processo”, defende.
O presidente da USF-AN espera “uma nova estratégia de vacinação” e considera que centralizar este processo nos centros de saúde “garantirá uma utilização mais eficiente dos recursos do SNS” e “melhorará a qualidade” dos cuidados prestados aos utentes.
A campanha de vacinação para a gripe e Covid-19, para o próximo inverno, deverá arrancar na segunda quinzena de setembro, de acordo com o anúncio feito no mês de junho, pelo Governo.