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Bastonário do Médicos. Abrir novos cursos é “empurrar problema para a próxima década”

15 ago, 2024 - 13:57 • Vítor Mesquita

Carlos Cortes reage ao anúncio de duas novas escolas de medicina feito por Luís Montenegro. O bastonário insiste que o problema do SNS não é falta de médicos. E lembra que a abertura de um curso na Covilhã não resolveu o problema do SNS naquela região do Interior.

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“Nos últimos 25 anos, foram criadas mais sete novas Faculdades de Medicina. Existiam cinco e passaram a ser 12. E essas faculdades não resolveram, mais uma vez, os problemas do país”. O bastonário da Ordem dos Médicos critica o anúncio do primeiro-ministro e líder do PSD de criação de duas novas faculdades de Medicina, uma em Évora, outra em Trás-os-Montes, esta quarta-feira, na Festa do Pontal.

É adiar soluções, defende Carlos Cortes. O bastonário considera que “não podemos dizer ao país que vai haver mais vagas em Medicina, que vão ser criadas mais faculdades, quando sabemos que esses médicos só estarão capacitados para integrarem os quadros do Serviço Nacional de Saúde [SNS] daqui a 13 ou 15 anos". "Isto é empurrar o problema para a próxima década", diz à Renascença, defendendo que “aquilo que é necessário, efetivamente, é termos mais médicos especialistas no SNS, agora”.

O bastonário considera que é enganar os portugueses dizer que ter mais médicos resolve os problemas na Saúde. E lembra a criação de um curso de Medicina na Covilhã, que, sublinha, “infelizmente não resolveu os problemas do Interior", porque "o Hospital da Covilhã, o Hospital da Guarda e o Hospital Castelo Branco são dos hospitais com maior carência, em termos de recursos humanos médicos”.

Questionado sobre o momento em que, no discurso do Pontal, o primeiro-ministro Luís Montenegro acusa os médicos de terem uma visão demasiado corporativista e que contribui para que não fiquem no SNS, o bastonário diz discordar, alertando para os atrasos nos concursos e consequente falha no preenchimento de vagas. “O que eu encontro é exatamente o contrário: muitos médicos a quererem ir para o Serviço Nacional de Saúde". "Repare no que aconteceu, por exemplo, nesta contratação, ou neste falhanço da contratação de médicos que acabaram o internato da especialidade em abril: muitos deles, a esmagadora maioria, ainda não está contratada pelas unidades locais de saúde, que necessitam deles para os quadros", diz.

"Não foram contratados porque os processos de contratação foram desencadeados demasiado tarde”, lamenta, acrescentando que “são por vezes até muito burocratizados do ponto de vista administrativo, criam barreiras a que os médicos possam entrar no Serviço Nacional de Saúde, nas vagas que acabam por abrir”.

Carlos Cortes assinala, contudo, um possível contributo para resolver o problema do preenchimento de vagas no SNS, que diz ser, muitas vezes, administrativo. Numa recente reunião com a ministra da Saúde, o bastonário revela ter confirmado a abertura de Ana Paula Martins para a “publicação de mapas de vagas para especialistas, antes que os médicos acabem a sua especialidade”. Uma forma de “mostrar aos médicos que o SNS os quer e os médicos poderem começar a programar, enfim, aquelas vagas, aqueles locais onde possam ir trabalhar".

“Já passou maio, junho, julho... estamos em agosto, três meses e meio em que alguns dos concursos não foram desenvolvidos. A maior parte dos médicos, muitos deles, não foram ainda contratados para o SNS, mas posso lhe dizer que uma grande parte deles já foi abordado pelo setor privado”, revela. Os hospitais privados “não esperaram pelo mês de agosto”.

Já sobre o anúncio do diretor-executivo do SNS, que, em entrevista ao Expresso, diz que tem pronto o Plano para o Inverno, Carlos Cortes diz estar muito expectante. Considera “de louvar, um passo muito importante”. O médico defende mesmo que, “se o plano realmente tiver medidas, que possam facilitar" o aumento do número de médicos no SNS, "podemos ter aqui uma melhoria”. No entanto, deixa um aviso. “Se a estratégia não contemplar mais médicos, o último inverno vai repetir-se”.

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