14 ago, 2024 - 11:12 • João Cunha
Há quem chegue a meio da madrugada para tentar ser um dos primeiros, e mesmo assim, quando chega já há algumas dezenas de pessoas na fila, à porta da AIMA, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo.
Voluntarioso, um desses primeiros da fila pegou numa folha A4 e, por ordem, foi apontando os nomes, aos quais corresponde um número, para assim se organizarem e não haver quem chegue mais tarde e fure a fila.
Encostada a um dos pilares do edifício está Barbara Willy, grávida de alguns meses. Está na fila para tentar obter uma senha para que lhe expliquem onde anda uma segunda via da autorização de residência da filha.
"Desde outubro que tento levantar essa segunda via. Chego aqui e eles mandam-me para os Correios. Lá dizem-me que a carta está aqui". O pior é a janela de tempo que todos têm para conseguir essas senhas.
"Chega ao meio-dia e eles mandam todo o mundo embora e acabou. Dali fecha a porta, vira as costas e acabou", lamenta esta cidadã de origem brasileira, que está a faltar ao trabalho pelo quarto dia, sem que o problema se resolva.
Com um ar cansado, Miriam Carneiro - que chegou a Portugal há um ano - está sentada nas escadas de acesso ao edifício. Na altura, tratou sem grandes problemas dos seus papéis.
"Os dois primeiros documentos que obtive em Portugal foi muito fácil. Eu fiz o pagamento e logo a seguir, 15 ou 20 dias depois, recebi os documentos".
Mas, entretanto, tudo mudou.
"Agora, não consigo o terceiro documento, que é o definitivo para dar entrada da minha cidadania. Há um ano que estou nesta batalha. Desde que encerrou o SEF que eu não consigo o meu documento. Está pago, o SEF aceitou, e não consigo obtê-lo".
Em desespero, Miriam decidiu contratar os serviços de um advogado, para tentar agilizar o processo.
"Desde outubro que entrei com um processo com uma advogada, e a única informação que obtivemos foi um código a referir que o documento estava nos CTT, e os CTT dizem que não está lá, que foi devolvido. Paguei os serviços da advogada e ainda não tenho o documento".
Para agravar ainda mais a situação, os trabalhadores da AIMA - Agência para a Integração, Migrações e Asilo decidiram avançar com uma greve às horas extraordinárias, até ao final do ano.
A paralisação foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, como forma de contestar a falta de pessoal.
No final de julho, o Governo nomeou Pedro Portugal Gaspar para a direção da AIMA e transferiu o então presidente da organização, Goes Pinheiro, para a nova estrutura de missão para as migrações.
Uma estrutura que terá até 100 especialistas, 150 assistentes técnicos e 50 assistentes operacionais.
Quanto à AIMA, o Governo prometeu uma "mudança de orientação", procurando "implementar as medidas preconizadas no Plano de Ação para as Migrações apresentado no início de junho".