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Mercado de trabalho acentua desigualdades sociais entre os jovens

05 jul, 2024 - 21:46 • Fátima Casanova

Um estudo desenvolvido por investigadores do ISCTE alerta que o aumento das qualificações nem sempre funciona como elevador social, uma vez que as origens sociais dos jovens portugueses condicionam as suas aspirações e oportunidades profissionais. Para além da origem social, ser mulher também é penalizador.

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Os jovens portugueses têm dificuldade em ingressar no mundo do trabalho, especialmente quando são de origem social desfavorecida. É o que revela o estudo “Os Jovens e o Trabalho em Portugal – Desigualdades, (Des)Proteção e Futuro”, desenvolvido por investigadores do ISCTE, que alerta para o facto de o aumento das qualificações nem sempre funcionar como elevador social.

Em declarações à Renascença, Renato Miguel do Carmo, que coordenou este estudo, admite que seguir para o ensino superior é importante, mas, por vezes, “em alguns estratos da população não está a ser uma condição suficiente”.

O investigador acrescenta que “isso significa que a entrada dos jovens no mercado de trabalho é marcada por processos de precarização, grande rotatividade e, muitas vezes, associada ao desemprego”.

Renato Miguel do Carmo, que também é coordenador do Observatório das Desigualdades, sublinha que as “origens sociais da família ainda condicionam” muito o futuro profissional dos jovens.

O investigador explica que “a origem social é medida pelas habilitações literárias dos pais, que são produtores de fortes níveis de desigualdade entre os jovens”, acrescentando que “a maioria dos que vêm de famílias com menores recursos, sobretudo se viverem no Interior, fica limitada a trabalhos mal pagos e a empregos mais precários”.

Renato Miguel do Carmo denuncia que são estes jovens que também ficam mais desprotegidos em caso de desemprego.

"Mulheres tendem a auferir rendimentos significativamente menores que os homens"

Para alem da origem social, ser mulher também é penalizador: no mercado de trabalho, há mais dificuldades em ascender a lugares de direção e o salário é inferior ao dos homens, mesmo que as mulheres tenham as mesmas qualificações.

Segundo o estudo coordenado pelo investigador do ISCTE, Renato Miguel do Carmo, “as mulheres tendem a auferir rendimentos significativamente menores que os homens com níveis de escolaridade similares e isso é mais evidente em níveis de escolarização mais elevados”.

Para este investigador do ISCTE, podem ser explicações o facto de as “mulheres, por vezes, trabalharem em setores menos valorizados, tem a ver também com a questão da parentalidade e com a dificuldade em chegar a posições de chefia, em que o prémio salarial é maior”. Renato Miguel do Carmo destaca que são elas a grande fatia de trabalhadores que recebe o salário mínimo nacional.

Face a estas conclusões do estudo sobre os jovens e o trabalho em Portugal, os investigadores começam por apontar como prioridade “uma política continuada do aumento dos salários". Renato Miguel do Carmo não tem dúvidas em defender que “isso é fundamental para o país, não só aumentar os salários mais baixos, mas aumentar também os salários intermédios”.

Este investigador considera ainda que é importante "melhorar a relação das pessoas com o trabalho”, o que passa por “valorizar os trabalhadores, para travar a insatisfação e a frustração”, conclui Renato Miguel do Carmo, coordenador do estudo “Os Jovens e o Trabalho em Portugal – Desigualdades, (Des)Proteção e Futuro”.

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