02 jul, 2024 - 19:04 • Anabela Góis
Cerca de 200 mil utentes foram apagados das listas dos centros de saúde por questões administrativas no espaço de um ano, indica à Renascença a Associação de Médicos de Medicina Geral e Familiar.
A situação está a afetar, sobretudo, os mais vulneráveis, que são os idosos com mais de 80 anos que ainda têm bilhete de identidade e os imigrantes, e isto porque o registo no centro de saúde é apagado ou inativado sempre que os dados administrativos não são atualizados.
Na prática, diz António Pereira, vice-presidente da Associação de Médicos de Medicina Geral e Familiar, há utentes que são privados de médicos de família mesmo que sejam utilizadores regulares.
“Foram considerados uma série de dados como obrigatórios para a manutenção de um registo comum como ativo, nomeadamente o número de Identificação Fiscal, o número da Segurança Social, a data de validade, algum desses documentos e o que se passa é que existem utentes que pelo facto, terem Bilhete de Identidade ou por serem migrantes, muitas vezes não têm esses dados atualizados e estão a ser retirados das listas de utentes”, explica António Pereira, em declarações à Renascença.
“Na realidade, existem utentes que são utilizadores que nós conhecemos que continuam a necessitar dos nossos serviços de saúde, mas estão a ser retirados e considerados inativos e com isso, perdem o direito a ter o seu médico de família”, sublinha.
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O processo começou no início do ano passado. Na opinião do vice-presidente da Associação de Médicos de Medicina Geral e Familiar, estamos perante uma questão de cosmética que prejudica quem mais precisa de médico.
“Inicialmente foram dadas listagens aos centros de saúde com os utentes que iriam ser retirados nestas condições. Houve um enorme trabalho dos secretários clínicos dos centros de saúde para informar e solicitar aos utentes a atualização desses dados. Mas infelizmente, nem sempre essa atualização foi possível”, refere António Pereira.
“Infelizmente, estão a ser retirados utentes que existem e essa é a nossa, a nossa questão. Não devem ser utilizados esses mecanismos para retirar utentes que que são utilizadores e que necessitam dos cuidados numa questão apenas de cosmética, da questão, do número de utentes sem médico de família”, lamenta o vice-presidente da Associação de Médicos de Medicina Geral e Familiar.
Ouvido pela Renascença, António Pereira diz que, apesar da redução de 200 mil utentes das listas, não há mais pessoas com médico.
“Já foram retirados do ano passado para este, cerca de 200 mil utentes, mas a verdade é que nós não temos mais utentes com médico de família e não temos mais utentes com médico de família, exatamente porque grande parte desses utentes não tinham médico de família porque eles na realidade não existem, mas também porque temos menos médicos de família do que tínhamos no ano passado e sem ter mais médicos de família, é muito difícil nós termos mais utentes com médico de família”, conclui António Pereira.