19 jun, 2024 - 00:34 • Ricardo Vieira , Liliana Monteiro , com Lusa
O Ministério Público (MP) anunciou esta terça-feira a abertura de um inquérito para investigar fugas de informação e divulgação de escutas da Operação Influencer.
A investigação foi confirmada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em resposta por escrito à Renascença.
“O Ministério Público determinou a instauração de um inquérito para investigar factos relativos ao acesso e à publicação de elementos constantes de processo integrante da designada Operação Influencer”, refere o comunicado da PGR.
Em causa está a divulgação da transcrição de escutas a conversas telefónicas entre o então primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba.
Segundo noticiou esta terça-feira a CNN Portugal, uma escuta telefónica apanha António Costa a ligar a João Galamba, que estava sob escuta, para ordenar a demissão da CEO da TAP, por motivos políticos.
Na escuta, Costa assume que "politicamente nós não nos safamos mantendo a senhora, nem a senhora se safa politicamente", o que contradiz a justificação oficial do Executivo da altura para despedir por justa causa Christine Ourmières-Widener.
"Se isto se torna num inferno é ela ou nós", disse Costa na escuta, cita a CNN Portugal.
Na terça-feira, na Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação, o presidente executivo da TAP, Luís Rodrigues, disse que não conhece nem nunca falou com António Costa, declarações feitas após a divulgação das escutas.
Contactado pela Lusa sobre as escutas relativas à TAP intercetadas no âmbito do processo Operação Influencer, João Lima Cluny, advogado de António Costa, disse apenas que "o processo em que António Costa foi ouvido está em segredo de justiça" e que o ex-primeiro-ministro "não foi confrontado com nenhum desses elementos ou factos", não tendo mais comentários a fazer.
Em reação às escutas divulgadas, os subscritores do manifesto que pede uma reforma da Justiça e critica a atuação do Ministério Público, nomeadamente na Operação Influencer, que levou à queda do Governo de António Costa, pediram na terça-feira em comunicado "explicações do Ministério Público e da sua hierarquia, designadamente da procuradora-geral da República", Lucília Gago.
Para os subscritores deste manifesto, a divulgação das escutas "é mais um momento, entre outros, de violação das regras básicas do Estado de Direito Democrático, com envolvimento e participação de responsáveis dos setores da justiça e da comunicação social, que deviam estar na primeira linha da sua defesa", criticando não apenas a divulgação, mas a sua transcrição e o facto de ter sido considerado que têm "relevância criminal para um processo-crime em curso".
A Lusa contactou Inês Arruda, advogada da ex-CEO da TAP, que não quis comentar.
[notícia atualizada às 8h35 de 19 de junho de 2024]