Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Entrevista

Carlão: "Sempre houve pessoas racistas em Portugal, mas agora assumem-se"

11 jun, 2024 - 15:10 • Lusa

O cantor Carlão diz que sempre houve racistas em Portugal, mas a extrema-direita "abriu portas" para que se assumissem, notando, no entanto, que há movimentos contrários e que o país é seguro para imigrantes.

A+ / A-

O cantor Carlão diz que sempre houve racistas em Portugal, mas a extrema-direita "abriu portas" para que se assumissem, notando, no entanto, que há movimentos contrários e que o país é seguro para imigrantes.

"Essas pessoas existem, são muitas, mas as pessoas do bem são muitas mais", disse à Lusa o músico, que atuou na segunda-feira à noite nas comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas, em Angola.

O músico criado em Almada, que foi apresentado pelo embaixador português em Luanda, Francisco Alegre Duarte, como um símbolo pujante do Portugal moderno e de cultura mestiçada, diz que sempre houve racismo em Portugal, mas o aparecimento de certos atores políticos abriu portas "para que as pessoas se assumissem".

Deu como exemplos Trump, Bolsonaro e políticos da extrema-direita europeia "que dizem barbaridades e não são punidas por isso", o que ajudou a que muitas pessoas se sentissem à vontade para falar.

"Essas pessoas sempre foram racistas, sempre foram xenófobas, agora acham que têm essa legitimidade", comentou o artista, afirmando que, se por um lado é bom saber quem são essas pessoas, porque "já mostraram a cara", por outro "é muito assustador porque não é uma luta limpa".

Carlos Nobre, o Pacman dos Da Weasel, agora mais conhecido como Carlão, assinalou que a extrema-direita "mente descaradamente e deturpa factos", apontando o Chega que "mente todos os dias", mentiras que atraem os menos informados o que é "muito perigoso".

Destacou, no entanto, que se registam também movimentos que contrariam esta tendência, notando que logo depois das eleições que deram 50 deputados no Parlamento ao Chega, se registou uma enorme afluência nas comemorações do 25 de abril "como não havia há muito tempo".

Questionado sobre se ser imigrante hoje em Portugal apresenta riscos, admite que os movimentos de extrema-direita vieram tornar a agressão "corriqueira", mas considera que Portugal não se tornou inseguro.

"Quando as pessoas estão descontentes, por várias razões, agarram-se àquilo que têm e está ali uma pessoa a alimentá-los com mentiras e vão atrás", disse o artista à Lusa, contestando afirmações associadas à emigração como a falta de segurança, o roubo dos empregos ou o viver à custa dos subsídios.

A ascensão de partidos como o Chega, mas não só, mostrou que "há muitas pessoas xenófobas e racistas e com medo da emigração, com medo da diferença, homofóbicos, sexistas, machistas, há essa gente toda, mas muito mais gente que é completamente contrária a essas pessoas. As pessoas do bem vão prevalecer, não estamos nesse ponto em que não é seguro", observou.

Nascido no Huambo, filho de emigrantes cabo-verdianos que depois se instalaram em Portugal em 1975, quando tinha apenas dois meses, Carlão confessa que não tem "uma ligação forte a Angola", mantendo-se mais próximo das suas origens familiares de Cabo Verde.

"Os meus pais foram muito felizes aqui (em Angola), infelizmente tiveram de sair, foi uma altura complicada. Acho que da próxima vez que cá voltar tenho de ir ao Huambo, o sítio onde eu nasci",.

Sobre a Angola de hoje tem "muita curiosidade".

"Acho que é um país com um potencial gigantesco, mas que ainda está a sair um bocado dessa tragédia da guerra que assolou durante muitos anos toda a gente. Isso marca gerações, não marca só a economia, as estruturas, mas a própria alma das pessoas. Angola sofreu muito e continua a sofrer. A esperança é que esse potencial venha a ser bem canalizado, bem aproveitado com uma sociedade justa para todos os angolanos", almejou.

O vocalista dos Da Weasel, banda que fundou em 1993 e com a qual conheceu o sucesso, vendendo milhares de discos, expressou "felicidade" nestes regresso a Angola, país onde já tinha atuado em 2006, manifestando a vontade de voltar "noutras circunstâncias".

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Joaquim Correto
    11 jun, 2024 Paços 22:04
    E quanto mais falarem nisso, mais haverá! Ainda ninguém percebeu isso! Ou então perceberam!!!
  • EU
    11 jun, 2024 PORTUGAL 20:45
    Diz, Angola SOFREU MUITO. Pergunto, que Angola? A Angola dos primeiros anos de 70 ou a Angola da GUERRA DO CUITO CUANAVALE nos anos de 85 a 88? Gostava de ir ao HUAMBO? Eu QUASE todos os fins de semana passava-os em NOVA LISBOA. Os OUTROS, quando NÃO de Serviço Militar, eram passados em LUANDA ou no LOBITO. Há MUITAS VERSÕES, umas VERDADEIRAS e MUITAS MENTIROSAS. Se necessário façam o seguinte exercício: entrem em COMANDO AGRUPAMENTO 6004. Entrem onde diz Kuito vejam as FOTOGRAFIAS e depois digam o que ACHAREM. Kuito, era a cidade de Silva Porto, cidade LINDA, SOSSEGADA, situada no Planalto do BIÉ onde nascia o Rio Kuanza. As imagens que estão DISPONÍVEIS, mostram como ficaram os PRÉDIOS nessa TAL GUERRA. Chegar ao aeroporto de Angola e ser levado em viatura com VIDROS FUMADOS é uma MARAVILHA, não É?
  • Sara
    11 jun, 2024 Lisboa 17:48
    E depois há os racistas disfarçados de coitadinhos
  • Maria
    11 jun, 2024 Palmela 15:05
    Isso foi o macron pra se vingar !

Destaques V+