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Europeias 2024

O fim do sonho trouxe o líder de volta. Uma campanha depois, Rui Tavares admite que devia ter feito mais

10 jun, 2024 - 03:02 • Alexandre Abrantes Neves

Depois de rejeitar essa hipótese várias vezes durante a campanha, Rui Tavares assume que a presença pouco assídua na campanha pode ter prejudicado o partido. Livre adia a entrada em Bruxelas por mais cinco anos e admite ter de "ganhar fôlego" para lidar com perceções negativas.

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“Claro que faria mais”. A noite das eleições europeias foi de surpresas no quartel-general do Livre – não só pela desilusão de ficar a escassos votos de cumprir a expectativa de entrar no Parlamento Europeu, mas também porque Rui Tavares assumiu pela primeira vez que devia ter estado mais presente na campanha de Francisco Paupério.

Depois de mais de duas horas de espera infrutífera sem pestanejar à frente das televisões, os olhos na sede eleitoral do Livre no Teatro da Luz, em Lisboa, testemunharam o que foi rejeitado ao longo da campanha. Perante a insistência da Renascença, Rui Tavares confessou que o seu envolvimento na campanha ficou aquém e que isso pode ter prejudicado o partido.

“Eu estive em tudo aquilo que era suposto estar, ainda estive um pouco mais, mas claro que faria mais. Eu acreditei sempre que seria possível a eleição, mas acho que todos estamos com a sensação de que poderíamos ter feito um bocadinho mais”, admitiu.

Num discurso dominado pela palavra “reflexão”, o porta-voz do partido garantiu que os efeitos da sua assiduidade na campanha vão ser analisados pela direção, mas recusou que seja a principal causa para um resultado eleitoral que causa “frustração”.

Ainda antes das primeiras projeções, o líder falava em “responsabilidades que seriam assumidas por todos” – um discurso de responsabilização coletiva que continuou, já depois de ser dada a sentença de ficar de fora do parlamento europeu. Rui Tavares diagnosticou as dores de crescimento do partido como a principal causa para ter sido prejudicado pela confusão inicial com a escolha do cabeça de lista.

“Tudo faz a diferença e, certamente, [também faz] questões relacionadas com a união do partido e com lidar com perceções injustas e que o Livre não tem ainda o poder de fôlego para lhes responder. (…) O Livre não tem espaço de comentário praticamente nenhum. Quando aparece um comentador a dizer que era mentira e nós não temos ninguém para fazer o contraditório também faz a diferença”, assinalou.

Apesar dessas “perceções injustas”, Rui Tavares esclareceu pelo menos parte do futuro do partido. Apesar da polémica com estas europeias, o líder garantiu que não está sequer em cima da mesa mudar o esquema e fechar as primárias para escolher os candidatos numa próxima eleição: “não há a mínima dúvida em relação a isso”.

E num discurso onde Rui Tavares parece não ter sido capaz de mobilizar a plateia – as palmas mais efusivas chegaram apenas no final quando agradeceu “muito em particular” a Paupério –, o líder do partido não deixou passar a oportunidade para culpar os suspeitos do costume para um resultado eleitoral abaixo das expectativas – “a fragmentação política das eleições e o método de Hondt”.

O anónimo-estrela que acabou a noite "triste"

No Teatro da Luz, os dois corredores laterais encheram-se à espera de Francisco Paupério que, apesar da derrota, não deixou de ser a estrela da noite. A espera foi tão longa que ainda se contavam os votos nas últimas três freguesias quando se arrumou a maioria do catering disponível na sede eleitoral do Livre - talvez com sabor amargo pelo resultado eleitoral.

O protagonismo já estava perdido para os 12.500 votos que impediram a sua eleição – e, por isso, a equipa do Livre desistiu de reagir aos resultados apenas depois da Iniciativa Liberal, como tinha sido indicado inicialmente aos jornalistas.

Ainda Pedro Nuno Santos discursava quando Francisco Paupério subiu ao palco numa das poucas aparições públicas com Rui Tavares e com a número 2 do Livre, Isabel Mendes Lopes.

Apesar do entusiasmo na plateia que gritava o seu nome, Paupério teve o discurso mais breve da noite. Com o sorriso e a postura confiante que adotou desde o início da campanha, o cabeça de lista do Livre classificou como “triste” o desfecho da noite e apontou como causa o facto de “as europeias terem sido uma segunda volta das legislativas”.

Desalinhados no início destas legislativas, Paupério aproveitou a narrativa de Rui Tavares de um resultado que é “uma bola em cima da linha” e também fala num “crescimento” do Livre – que duplicou os resultados em relação às europeias de 2019 (de 60.575 para 148.117 votos) e que também teve o resultado percentual mais alto de sempre, 3,75% em comparação aos 3,16% das legislativas de março.

Para a próxima há mais, o importante agora é o futuro

Discurso diferente foi o que teve a número dois do partido. Foi pela voz da líder parlamentar do Livre que o partido afastou o passado e o presente e preferiu focar-se no futuro. Em vez de adotar a velha estratégia de “no fim, vencem todos”, Isabel Mendes Lopes colocou a mira nas autárquicas que “são o próximo desafio” e sublinhou a relevância do Livre que o torna “essencial a uma governação à esquerda em Portugal”.

E apesar de tudo apontar para que os Verdes Europeus percam 19 eurodeputados, até os resultados no estrangeiro serviram para desviar atenções – com a co porta-voz do Livre a destacar os bons resultados na Dinamarca, Países Baixos e Polónia.

Já lá fora, os militantes do partido que se acumulavam depois da noite eleitoral também destacavam “a vitória lá fora”, como uma forma de não desmoralizarem quanto a futuros resultados do partido.

“Há noites assim, há outras melhores, espero reencontrar-vos com outro desfecho”, dizia uma apoiante do Livre antes de abandonar a sede eleitoral.

Também Francisco Paupério mantém esta esperança. “Não foi desta”, mas daqui a cinco anos o Livre estará “com certeza” no Parlamento Europeu – nem que para isso tenha de “marchar todo o dia”, como manda o hino do partido.

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