10 jun, 2024 - 03:32 • Susana Madureira Martins
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Foram duas semanas inteirinhas de campanha com Pedro Nuno Santos a pedir e quase a implorar ao Governo por "diálogo" e "cooperação" com o PS. A noite eleitoral não foi exceção, mas já aconteceu noutro contexto, o de vitória.
Já perto da madrugada de segunda-feira, o líder do PS garantiu que não será fonte de "instabilidade" e que os socialistas estão "disponíveis para dialogar e disponíveis para construir, em conjunto, uma oposição responsável".
Comecemos, porém, pelo que aconteceu horas antes antes de tudo isto, porque tudo foi diferente nesta noite eleitoral face ao que aconteceu nas eleições legislativas de março. Este domingo o PS apercebeu-se cedo que podia estar a desenhar-se uma vitória, ainda que à tangente. E manteve-se em silêncio.
Até à hora em que Pedro Nuno Santos começou a falar, nenhum dirigente nacional tinha feito declarações aos jornalistas a partir do palco instalado no hotel Altis, em Lisboa. Nem sequer houve a habitual declaração sobre a abstenção, que nestas europeias até diminuiu em relação a 2019.
A meio da noite, o presidente do PS, Carlos César, apareceu na sala e numa conversa informal assinalou que o cenário das legislativas se tinha invertido, ou seja, a AD perdia por quase tantos votos quanto os dos socialistas nas legislativas.
Em março, o PS assumiu antes das 20H00 a derrota nas legislativas. Nas europeias, o PS em peso apareceu perto da meia-noite para assumir plenamente a vitória. E fê-lo quando o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, ainda respondia aos jornalistas, a partir de outro hotel em Lisboa.
Não houve pressa nessa assunção de vitória, mas o PS fê-lo com requintes de vingança face ao que tinha acontecido em março e com muitos recados nas entrelinhas. Voltemos ao início, ao apelo de Pedro Nuno Santos para o "diálogo" com o Governo.
O líder socialista acusa este Governo de ter optado "por ignorar e evitar o Parlamento, transformou o Conselho de Ministros numa direção de campanha", e portanto, conclui Pedro Nuno, "se há a leitura a tirar é que os portugueses querem, pelo menos, que o Governo tenha uma atitude diferente em relação ao Parlamento e à oposição".
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Os socialistas mantêm, assim, a porta aberta para negociar o Orçamento do Estado de 2025 (OE), até tendo em conta o "bom resultado" nas legislativas, lembra o líder do PS, que alerta Luís Montenegro: "Saiba o Governo ler o que os portugueses quiseram dizer" nas europeias.
Se o "bom resultado" das legislativas deu ao PS o papel principal na oposição, o resultado das europeias dá músculo aos socialistas para negociarem mano a mano o OE. Isto "apesar de o Governo ter nacionalizado estas eleições", atirou Pedro Nuno Santos.
Depois de na campanha eleitoral o presidente do partido, Carlos César, ter pedido "paciência" aos socialistas e para não terem pressa nas legislativas, Pedro Nuno reforça essa ideia com uma vitória na mão: "Não temos pressa nenhuma".
"Não contem connosco para a instabilidade política", avisou o líder do PS, criando um desanuviamento em relação à frase oficial de que é "praticamente impossível" viabilizar o OE. Os socialistas garantem, pelo menos para já, que querem ser fator de "estabilidade" e dizem-se "disponíveis para construir em conjunto" com o Governo.
Para já, Pedro Nuno diz que não está "sossegado" e considera que o líder da AD não tirou "nenhuma ilação destas eleições". E é do Governo que "emana a vontade de construir" e a quem cabe "dar esse passo", avisa o líder socialista. Ou seja, a bola está do lado de Luís Montenegro.
Com esta vitória nas europeias e com a queda eleitoral do Chega em relação às legislativas, o PS ganha uma outra vantagem. A de descolar da ideia em que a AD apostou, antes e durante a campanha eleitoral, de que os socialistas são o reverso da medalha do partido de André Ventura.
Essa colagem "não tem credibilidade", garante Pedro Nuno Santos, que considera o resultado eleitoral "muito importate a esse nível". O líder socialista, visivelmente satisfeito, registou que "a extrema-direita em Portugal baixou e isso deixa os socialistas muito felizes", notando ainda que "o Chega reduziu e não foi a AD que subiu", numa nova farpa a Montenegro.
Para os próximos meses, o líder do PS anunciou o lançamento dos Estados Gerais, à semelhança do movimento que António Guterres criou para fazer oposição ao Governo do PSD em 1992, assumindo assim a herança do ex-líder do PS contra a herança de Cavaco Silva, personificada em Montenegro.
A única convergência da noite entre o PS e a AD foi o apoio a uma eventual candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu. Montenegro garante apoio, Pedro Nuno também e o ex-primeiro-ministro surge neste domingo como um dos grandes vencedores da noite eleitoral das europeias.