06 jun, 2024 - 00:03 • José Pedro Frazão
A socialista Mariana Vieira da Silva teme uma vaga de imigração ilegal na sequência do Plano de Ação para as Migrações aprovado pelo Governo, que acaba com a manifestação de interesse e trava a entrada de imigrantes sem visto de trabalho. No programa Casa Comum, da Renascença, a antiga ministra da Presidência admite até que o plano possa levar a falta de mão de obra migrante necessária à economia do país .
"O Governo também diz que o país precisa de migrantes por dimensões demográficas, económicas e também sociais e humanitárias. A questão é que a economia não funciona assim. Nenhuma empresa pode estar um tempo à espera para fazer um contrato-promessa para esperar que um consulado dê um visto para o trabalhador vir e se regularizar. Não é assim que a economia funciona em nenhum país", critica a ex-ministra do PS na Renascença.
Mariana Vieira da Silva admite que, sem o instrumento da manifestação de vontade, as entradas de migrantes vão sempre acontecer, independentemente da cobertura legal, tendo em conta um quadro de "economia pujante" e um mercado de trabalho "em pleno emprego".
Casa Comum
Os comentadores do programa "Casa Comum" debateram(...)
"Ou a medida corre exatamente como o Governo pretende e temos um problema, porque o país precisa de mão de obra e o tipo de entrada com os vistos de trabalho que existe não é suficiente, ou isto não corre exatamente como o Governo pretende. E então ficamos pior do que estamos. porque se não correr como o Governo pretende, significa que as entradas vêm na mesma", argumenta a deputada do PS.
A dirigente socialista reconhece a preocupação do Governo com a necessidade de migrantes por razões demográficas, económicas, sociais e humanitárias, mas admite que um cenário possível da aplicação do novo Plano de Ação para as Migrações pode passar por um "constrangimento à atividade económica por via da falta de mão de obra".
O plano apresentado pelo Governo implica que os pedidos de visto sejam encaminhados para a rede consular. Para o social-democrata Duarte Pacheco, os consulados não estão em condições para lidar com as sobrecargas administrativas que o plano traz para esta rede diplomática.
"Basta visitar alguns dos consulados que não conseguem passar os vistos normais, de turista, para as pessoas que nos querem visitar, porque não têm mão de obra. As coisas são tão estranhas porque este é um serviço que normalmente se paga a si próprio, porque as pessoas pagam o visto e esse pagamento é mais do que suficiente para pagar o ordenado a alguém que esteja lá para os atribuir. Mas as coisas não têm funcionado", salienta Duarte Pacheco no programa Casa Comum.
Noutro plano, a deputada do PS questiona ainda o anúncio deste plano em plena campanha eleitoral para as europeias marcada pelo debate sobre imigração.
"O calendário era dispensável porque quando nós jogamos uma cartada destas, a uma semana das eleições, dificilmente pode terá sido por necessidade ou por esquecimento. Foi a procura de marcar num tema onde os dois maiores partidos ganham pouco a utilizá-lo desta maneira", lamenta Mariana Vieira da Silva.