09 jun, 2024 - 23:01 • Guilherme Correia da Silva
A direita radical sorri na Alemanha. O partido AfD ficou em segundo lugar nas eleições europeias, acima do partido do chanceler, Olaf Scholz. Os conservadores da CDU/CSU, na oposição, venceram as europeias e dizem ao governo federal que tem de mudar, porque assim não dá.
As eleições são europeias, mas parecem ter sido também uma sondagem à governação de Olaf Scholz. E o chanceler não ficou bem na fotografia.
O partido de Scholz, que, nos cartazes de campanha, aparecia lado a lado com a cabeça de lista dos sociais-democratas às europeias, Katarina Barley, ficou em terceiro lugar, com 13,9% dos votos, segundo as últimas projeções.
"É um resultado eleitoral bastante amargo", admitiu o secretário-geral do SPD, Kevin Kühnert, em declarações à televisão pública alemã ARD. E é um resultado que terá agora de ser analisado ao pormenor, acrescentou Kühnert.
O partido de extrema-direita, AfD, ficou acima dos sociais-democratas de Scholz, com 15,9% dos votos. Subiu 4,9 pontos percentuais em relação às últimas eleições.
Em frente às câmaras, Alice Weidel, co-líder da AfD, sorriu de satisfação ao ver o "enorme sucesso" do partido nestas europeias.
A AfD foi a segunda força mais votada a nível nacional, foi a mais votada no leste da Alemanha, e ficou acima de todas as forças políticas na coligação governamental — o SPD, os Verdes (11,9%, que sofreram uma queda de 8,6 pontos) e os liberais do FDP (5,1%). Para trás parecem ter ficado os escândalos que ensombraram o partido nas vésperas das europeias, seja as acusações de espionagem contra um assistente do cabeça de lista Maximilian Krah, as alegações de pagamentos a Krah vindos da Rússia e da China ou a expulsão do grupo Identidade e Democracia (ID), a família europeia da AfD.
"Depois do fogo de barragem das últimas semanas, somos o segundo partido mais votado. Muito obrigado!", disse Weidel.
17% dos jovens entre os 16 e os 24 anos votaram na AfD, segundo estatísticas divulgadas pela televisão pública ZDF. Além disso, muitos eleitores que, nas últimas eleições, tinham votado em partidos tradicionais confiaram, desta vez, na AfD.
Temas como a segurança, o alto custo de vida, a migração preocupam os alemães, e a AfD defendeu durante a campanha que a Alemanha tem de estar "em primeiro lugar". O partido é contra o envio de armas para zonas em conflito e contra casas mais ecológicas, que aumentem as rendas ainda mais; por outro lado, defende o reforço da vigilância nas fronteiras europeias e mais restrições à imigração.
Os conservadores da CDU/CSU foram os vencedores da noite, com 23,8% dos votos. A União é a família política da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se recandidata ao cargo.
"Este é um bom dia para nós", afirmou o líder da CDU, Friedrich Merz. Mas "é sobretudo uma grande derrota eleitoral para o chanceler federal. Este resultado tem de servir de reflexão para o governo, que tem de corrigir a sua política. É preciso mudar de política", sublinhou Merz.
Entre os conservadores, há até quem peça uma moção de confiança ao governo depois destes resultados nas europeias. Para já, o chanceler Olaf Scholz mantém-se em silêncio.
Daqui a três meses, há três eleições estaduais, na Turíngia, na Saxónia e em Brandemburgo, no leste da Alemanha. A AfD está em primeiro lugar nas sondagens; os conservadores estão em segundo lugar.