29 mai, 2024 - 08:00 • Luís Aresta
Entramos na máquina do tempo até 1960.
Estamos na presença do primeiro Campeonato da Europa, o primeiro dos primeiros, e o sorteio dos quartos de final dita um União Soviética-Espanha.
A primeira mão da eliminatória, em Moscovo, seria decidida no gabinete do generalíssimo Franco, em Madrid, porque duas décadas antes o ditador espanhol decretara o corte de relações com a URSS.
Devido ao apoio soviético às forças comunistas na guerra civil de Espanha, Franco proíbe qualquer contacto entre cidadãos espanhóis e soviéticos. E também não permite viagens aos países de Leste.
Confrontados com um União Soviética-Espanha para o Campeonato da Europa, os dirigentes da Real Federação Espanhola de Futebol não sabem o que fazer. A decisão está nas mãos de Franco. E o ditador espanhol não cede: a Espanha retira-se do Europeu. É a União Soviética que segue em frente por falta de comparência do adversário e acabaria por ser a primeira campeã europeia da história.
Mas esta lengalenga não acaba aqui.
Quatro anos depois, cabe aos espanhóis organizar o Campeonato da Europa em que a União Soviética defende o título. A UEFA é obrigada a negociar com Madrid vistos especiais para que a comitiva soviética possa viajar até Espanha e defrontar a Dinamarca em Barcelona. Os campeões europeus goleiam os dinamarqueses, por 3-0, e avançam para a final. Contra quem? A Espanha, que eliminara a Hungria.
Franco opõe-se frontalmente a que o jogo se realize. É o ministro José Solís que acaba por convencer o ditador espanhol a autorizar a final como se se tratasse de uma batalha contra os “vermelhos” do leste. Autorizada a realização da final, o estádio Santiago Bernabéu acolhe a decisão a 21 de junho de 1964.
Nesse dia a Espanha bate a União Soviética por 2-1 e sagra-se pela primeira vez campeão da Europa.