03 jun, 2024 - 22:04 • Anabela Góis
No dia em que o Governo anunciou novas regras para a entrada de imigrantes em Portugal, o Explicador Renascença olha para os estrangeiros que trabalham em Portugal. A caracterização é feita pelo Banco de Portugal tendo em conta a base de dados da Segurança Social. Ouça o podcast.
Quantos estrangeiros trabalham em Portugal?
A caracterização feita pelo Banco de Portugal tem em conta apenas a base de dados da Segurança Social. Em 2023 eram cerca de 500 mil, quase nove vezes mais do que em 2014, ano em que havia cerca de 56 mil estrangeiros a trabalhar por conta de outrem.
O número de contratos com estrangeiros tem registado um aumento expressivo ao longo da última década, mas não foi uniforme: em 2018 e 2019 houve um aumento acentuado, entre 38% e 48%. Depois, nos anos da pandemia, o aumento foi mais moderado, mas, nos últimos dois anos, voltou a acentuar-se com taxas de crescimento de 41% em 2022 e 35,5% em 2023.
Os imigrantes já são uma importante força de trabalho?
Sim. Em termos globais, representam 13,4% do número total de trabalhadores. Em 2014, só 7,9% das empresas portuguesas tinham colaboradores com outras nacionalidades. Essa proporção subiu para 22,2% em 2023. E o curioso é que não há diferenças entre pequenas, médias e grandes empresas.
É no setor agrícola e das pescas que os imigrantes têm mais peso: quatro em cada dez trabalhadores são estrangeiros, o dobro do que acontecia em 2019. Seguem-se o alojamento e restauração, atividades administrativas e construção.
E estão espalhados por todo o país?
Estão, mas o seu peso é maior nos concelhos com mais atividade agrícola, sobretudo, no sul do país. Em Odemira, Ferreira do Alentejo, Almeirim, Albufeira, Aljezur, Odivelas, Vila do Bispo, Tavira e Loulé os estrangeiros são mais de um terço dos trabalhadores. Sendo que o grande destaque vai para Odemira, onde o peso da comunidade estrangeira atingiu os 76,1% no ano passado. Em Ferreira do Alentejo, a percentagem é de quase 50%.
Quais são as nacionalidades com maior peso?
Continua a ser a brasileira, que representa quase metade dos estrangeiros a trabalhar em Portugal. Aliás, em 2022 o número de trabalhadores oriundos do Brasil cresceu quase 60%. São mais de 200 mil indivíduos inscritos na Segurança Social.
Depois, surgem os indianos, com cerca de 41 mil pessoas, os nepaleses (a nacionalidade que mais cresceu), cabo-verdianos e bengalis. No seu conjunto, estas quatro nacionalidades representavam 22,1% do total de trabalhadores por conta de outrem com nacionalidade estrangeira em 2023. Quanto aos trabalhadores europeus representam 12,6% dos estrangeiros.
Se olharmos para a sua distribuição pelos vários setores económicos, há prevalência dos trabalhadores brasileiros em todos os setores, exceto na agricultura e pesca. Aqui são sobretudo indianos, nepaleses e bengalis.
Os imigrantes ganham mais ou menos do que os trabalhadores portugueses?
Ganham menos do que os portugueses: em 2023, a mediana das remunerações mensais dos trabalhadores estrangeiros foi muito próxima do salário mínimo nacional (760 euros), situando-se em 769 euros nos trabalhadores jovens e em 781 euros nos trabalhadores com mais de 35 anos.
Para os trabalhadores nacionais, as remunerações medianas foram de 902 e 945 euros, respetivamente.