10 mai, 2024 - 20:04 • Anabela Góis
Um medicamento essencial para o tratamento de cancros está em rutura e o Hospital de Guimarães e a Unidade Local de Saúde do Alto Ave, como confirmou a Renascença, já tiveram de ajustar os esquemas terapêuticos a alguns doentes e ativar planos de contingências.
O caso é o da solução injetável Fluorouracilo. É um medicamento usado nos hospitais, em vários esquemas de combinação de quimioterapia, para tratar alguns tipos de cancro, e que está em rutura desde meados de abril. E quando falamos em rutura é mesmo por todo o mundo.
Em Portugal gastam-se em média 5 mil embalagens deste medicamento por mês. Há duas empresas farmacêuticas com autorização para o comercializarem no nosso país, uma delas prevê que um novo fornecimento chegue a partir de 11 de junho e a outra só em julho.
Porque, apesar de ser muito eficaz, é um medicamento antigo e, por isso, muito barato. E se é barato e não dá lucro, não é interessante para a indústria, que por isso não o produz.
A prova é que, nesta altura, há muito poucos fabricantes deste princípio ativo a nível mundial. O que significa que, se houver um problema na cadeia de produção, todo o mundo é afetado.
E este não é caso único. Há outros medicamentos para o tratamento de cancro que de forma recorrente entram em rutura, como é o caso da Capsitabina, por exemplo, que também já perdeu a patente, ou seja, é um medicamento genérico que frequentemente entra em rutura.
Sim, os medicamentos mais recentes e mais caros nunca têm rutura de stock. O problema é que nem todos podem substituir os antigos e, neste caso do Fluorouracilo, estamos a falar de um medicamento essencial e eficaz, de primeira linha para tumores do colón, reto, pâncreas, esófago e alguns tipos de cancro da mama, apesar de já ter mais de 50 anos.
Há ideias para tentar resolver o problema, só que até agora ninguém o fez. Há quem defenda, por exemplo, que a União Europeia tome posição e até possa criar condições para que este medicamento seja produzido no espaço europeu
Há várias estratégias combinadas: por um lado os hospitais, como é o caso dos IPO, fazem uma gestão criteriosa e racional dos medicamentos.
Alguns hospitais criam terapêuticas alternativas para os doentes, nos casos em que isso é possível e o Infarmed, que é a autoridade do medicamento, tem estado a dar autorizações de utilização excecional de fármacos com rotulagem em língua estrangeira.
Esta sexta-feira, o Infarmed anunciou que conseguiu adquirir 3 mil embalagens nestas condições que já estão a chegar aos hospitais e aguarda para breve mais 6.100. Em paralelo está proibida a exportação destes medicamentos, em situação de rutura.