20 mai, 2024 - 09:36 • Maria João Costa
José Norton é economista e olha para Portugal em 2024, como um país que vive um “atraso estrutural”. Em entrevista ao podcast Avenida da Liberdade o sobrinho neto do General Norton de Matos considera que esse atraso que impede o desenvolvimento económico do país explica-se devido aos populismos.
“O facto de serem preciso votos, leva a um recurso ao populismo; não o populismo que agora se caracteriza das franjas extremistas, mas daquela questão de como se dizia no tempo da minha mãe do “bacalhau a pataco”. Quando havia eleições, o bacalhau baixava de preço para toda a gente votar. Depois não se fazia aquilo que era necessário, ficava tudo dependente do bacalhau a pataco”.
Segundo José Norton que faz um paralelismo com o tempo presente, “agora é um bocadinho a mesma coisa”, afirma. “Para ter as pessoas nas palminhas, não se quer fazer nada que seja custoso. E, portanto, isso reflete-se num atraso estrutural que impede de ter um desenvolvimento económico necessário para o bem de todos”, critica.
Nesta entrevista, José Norton tem ao seu lado a filha Mariana Norton. A atriz e cantora considera que hoje seria revolucionário “não estarmos numa crise económica”. Na sua opinião era necessário haver “mais igualdade e condições de educação e saúde”.
Ao podcast Avenida da Liberdade com que a Renascença assinala os 50 anos do 25 de Abril de 1974, também José Norton fala da questão da educação. Em comparação com o passado, o escritor refere que Portugal “é outro país em vários aspetos”, contudo, refere que no que toca ao ensino “é muito mau saber que qualitativamente ainda não atingimos aquilo que se aspirava numa democracia mais evoluída, mais rica e proveitosa para todos”.
Na conversa sobre a atualidade, Mariana Norton levanta a questão das condições do trabalho artístico. “É sempre desafiante estar numa área artística, principalmente num país que continua sem valorizar muito a arte como identidade e como uma parte importante da vida”, aponta.
Ao olhar para o passado, José Norton, autor da biografia de Norton de Matos admite que vê a “descolonização com algumas reservas”. “Acho que foi muito apressada. Poderíamos ter poupado muitas vidas, se tivéssemos agido de outra maneira”, explica ao Avenida da Liberdade.
Numa altura em que se debate na cena pública a questão da reparação histórica, Norton considera que não se deve avaliar o passado com os olhos de hoje. Quanto ao estado atual da democracia, o autor considera: “costuma dizer-se que a democracia é o pior dos regimes, tirando todos os outros que são piores, mas tem de ser construído”, aponta.
Na sua opinião, a democracia “tem de ser melhorada”. “Acho que todos poderão ver que ainda há muito caminho a andar, e há muitas situações lamentáveis na nossa democracia. Sem dizer se é A ou B ou este ou aquele partido, há muita coisa a fazer para melhorar, porque em muitos aspetos não é satisfatória” a situação, admite.
Depois de ter vivido em ditadura, José Norton recorda o dia 25 de Abril em que pegou na filha ao colo e dançou de felicidade. Contudo, lembra que “a alegria dos primeiros momentos, depois foi-se transformando numa numa espécie de ilusão”.
“Óbvio que os valores principais, felizmente, se mantêm e um deles é a democracia e o facto de podermos votar. Eu nunca deixei de votar, e fico fulo com a questão da abstenção. Sempre votei e, de facto, o preço que a gente pagou por uma revolução, em vários aspetos, tem agora de ser recuperado através do aproveitamento desta situação”, explica José Norton.