25 mar, 2024 - 11:28 • Olímpia Mairos
Uma investigação liderada pela Universidade de Coimbra (UC) concluiu que a invasão das florestas ribeirinhas por acácias (mimosas) afeta as comunidades aquáticas nos ribeiros.
“Este estudo mostra que as invasões biológicas num ecossistema terrestre podem ter efeitos em ecossistemas adjacentes, como os ribeiros, pelo que é importante considerar a interdependência entre ecossistemas na avaliação dos efeitos destas invasões”, afirma Verónica Ferreira, citada em comunicado da Universidade de Coimbra.
A investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), acrescenta que “a diversidade de microrganismos decompositores e de macroinvertebrados são mais baixas em ribeiros que atravessam acaciais, comparativamente a ribeiros associados a floresta de espécies nativas, muito em resultado da menor diversidade dos detritos vegetais que entram nos ribeiros em acacial e que são dominados por detritos de mimosa”.
“Por outro lado, os ribeiros em floresta de espécies nativas recebem uma grande diversidade de detritos vegetais, resultado da maior diversidade de plantas”, assinala.
Segundo a investigadora, “estas alterações na diversidade dos organismos aquáticos nos ribeiros em floresta invadida são preocupantes, uma vez que comunidades menos diversas estão menos preparadas para lidar com alterações ambientais que possam ocorrer, como as associadas a mudanças climáticas, e podem ser menos eficazes a desempenhar funções no ecossistema, como a reciclagem dos nutrientes”.
Tendo em conta a difícil gestão de espécies invasoras na floresta ribeirinha, devido há existência de grandes áreas, ao difícil acesso, à necessidade de controlo continuado e às sementes transportadas de zonas invadidas a montante, Verónica Ferreira defende que a melhor opção “é proteger as zonas ribeirinhas nas zonas altas das bacias hidrográficas, que estão geralmente em melhor estado de conservação, o que pode implicar a limitação do acesso humano e a monitorização contínua para eliminar presença de indivíduos de mimosa isolados”.
Para chegarem a estas conclusões, os investigadores da UC realizaram amostragens e medições mensais, ao longo de um ano, em seis ribeiros na Serra da Lousã, uma área grandemente invadida por mimosa, três ribeiros em floresta de espécies nativas e três ribeiros em floresta invadida por mimosa.
O estudo, já publicado na revista Freshwater Biology, foi realizado no âmbito do projeto “EXSTREAM - Effects of EXotic tree species on STREAM communities and processes: the case of invasion of native forests by Acacia spp.”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
O trabalho contou com a colaboração do professor e investigador Albano Figueiredo, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, da Faculdade de Letras da UC.
Segundo o mais recente relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema, a invasão por espécies exóticas é uma grave ameaça à biodiversidade e ao funcionamento dos ecossistemas. A mimosa (Acacia dealbata), árvore exótica originária da Austrália, é uma das principais espécies invasoras na Região Centro de Portugal, especialmente na bacia do rio Mondego, onde ocupa já áreas significativas.