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"Mais de metade dos AVC podiam ser, pelo menos, adiados", alerta especialista

02 fev, 2023 - 08:25 • André Rodrigues

Presidente da Sociedade Portuguesa do AVC, Vítor Tedim Cruz, denuncia atrasos na criação de unidades dedicadas a esta doença em hospitais do SNS, numa altura em que “quase todos os países da Europa estão a evoluir para a certificação das unidades de AVC”.

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Mais de metade das mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC) poderiam ser “evitadas, ou, pelo menos, adiadas”, avança à Renascença o presidente da Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC).

Vítor Tedim Cruz confirma que, em Portugal, “ocorrem anualmente cerca de 25 mil AVC” e que, desses, “mais de metade podiam ser adiados”, se a prevenção fosse mais eficaz.

Segundo este especialista, o AVC “tem fatores de risco que não se modificam, como, por exemplo, a idade”.

Há, no entanto, três passos que podem ser dados para reduzir o peso da doença: “em primeiro lugar, controlar os fatores de risco que se podem modificar, como o tabagismo, a obesidade, auricular, a diabetes e o sedentarismo; em segundo lugar, imediatamente; finalmente, apostar na reabilitação. Existem 200 mil pessoas que vivem com danos do AVC, seja falta de força num dos lados do corpo, seja alterações cognitivas”, detalha o presidente da SPAVC.

Para além da aposta na prevenção, Vítor Tedim Cruz defende a criação de mais unidades de AVC nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde para contrariar assimetrias no acesso a tratamentos.

Um passo que não é possível sem uma melhor organização dos serviços que passa por critérios claros: “um hospital com mais de 300 camas de internamento deve ter uma unidade de AVC com seis a 10 camas. Mas, normalmente, o grau de detalhe na definição de um hospital não chega a este ponto. Isto muitas vezes gera atrasos”.

Exemplo disso, prossegue o presidente da SPAVC, são “zonas como Santarém, que tem dificuldade em implementar a sua unidade de AVC e está no meio de uma zona muito populosa; temos o mesmo problema em Portalegre, em Beja e mesmo no Algarve. É aí que o Ministério da Saúde tem de intervir, dando orientações mais claras para impedir o atraso de certas regiões”.

“Isto não é um luxo”

Tudo isto numa altura em que “quase todos os países da Europa estão a evoluir para a certificação das unidades de AVC”.

No entanto, em Portugal, “só temos uma unidade certificada pela Organização Europeia do AVC, que fica no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho”.

Para Vítor Tedim Cruz é urgente “replicar os bons exemplos, aquilo que se vai fazendo bem em algumas zonas do país”, mas esse passo “só é possível com alguma atenção centralizada por parte do Ministério da Saúde. E isto não é um luxo”, até porque “o AVC é, desde há décadas, a principal doença aguda em Portugal e a maior causa de mortalidade e perda de capacidade do indivíduo adulto”.

Menos mortes do que na pandemia. Mas ainda há riscos

No primeiro ano da pandemia, o número de mortes por AVC aumentou, devido ao atraso na procura de cuidados, sobretudo pelo receio dos doentes de ficarem infetados com Covid-19 por recorrer às urgências.

Hoje, o cenário já é diferente, mas Vítor Tedim Cruz identifica sinais de risco que persistem.

Tem tudo a ver com comunicação: “em dezembro houve crises nas urgências. No terreno, nós identificamos muitas pessoas com sintomas de AVC que, ouvindo as notícias de urgências congestionadas, tiveram tendência para irem pelos seus próprios meios a um médico ou a um hospital privado para só depois serem reencaminhados para o SNS, que é onde se concentram as vias verdes do AVC”.

Por isso, conclui o presidente da SPAVC, “é muito importante cuidar das vias verdes do AVC, do enfarte agudo do miocárdio, do trauma e da sepsis, sempre que há notícias alarmantes sobre os serviços de urgência”.

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