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​Antevisão do ano

Cândida Almeida: Desafios para 2023

02 jan, 2023 - 21:51 • Cândida Almeida

É, para mim, intolerável que neste longo período de crise, desde a pandemia da Covid-19 às consequências negativas de uma guerra fratricida na vida quotidiana de cada um de nós, haja quem tenha enriquecido vergonhosamente.

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2023 chegou… envolvido em luz, fogo de artifício, alegria, abraços e muita música. Os portões abriram-se e milhões de crianças atravessaram-nos, correndo em busca do alimento que lá no fundo era distribuído por voluntários e voluntárias, com um sorriso nos lábios e muito amor no olhar.

Mulheres de todo o mundo palmilham o mesmo percurso, cantando a Liberdade, rasgando as roupas que as tapavam da cabeça aos pés, substituindo-as por vestes brancas que mais pareciam pombas da Paz.

Ao mesmo tempo, soldados caminhavam a par, com a felicidade estampada no rosto, apesar de feridos e esfarrapados, exibindo nas mãos cravos vermelhos e cantando o hino da Alegria.

Utopia… vivi o mais belo e criativo sonho da minha vida! Certo é que o ano de 2023 entrou e, sendo soturnas as expectativas, o meu otimismo transporta-as para um outro plano mais positivo. Afinal o ser humano sabe ser sublime, é capaz de praticar o bem, é tão criativo e inteligente que já deixou gravada na Terra a sua indelével pegada de humanista.

Este novo ano propõe-nos vários desafios, que não cabem neste espaço. Vou referir apenas alguns dos que me preocupam mais.

Estou convicta que a guerra na Europa vai ter o seu termo, por via diplomática, porque os povos assim o vão exigir. A opinião pública tem muita força e, se consertada, faz mover o mundo.

É isso em que acredito. Essa mesma força, coragem e determinação levará as mulheres do Irão e do Afeganistão a vitórias retumbantes no âmbito dos Direitos Humanos. A dignidade humana é inerente ao Ser Humano, livre, igual e fraterno.

Acredito que por causa da guerra na Ucrânia, o mundo irá retomar o caminho que trilhou após a 2ª Guerra Mundial. Novos Tratados surgirão para garantia da Paz, de um acolhimento e tratamento digno e humanizado dos migrantes, das crianças, enfim, dos abandonados da sorte.

Gostaria de acreditar que 2023 será o princípio da erradicação da pobreza. Gostaria de afirmar que as armas se calarão em todos os cantos do mundo. São desejos realizáveis porque só dependem da vontade do Ser Humano.

Mas otimismo não é, nem pode ser, insensatez. Acredito que muitos conflitos armados vão acabar e que muita da miséria e pobreza irá ser atenuada. Estes são desafios que os Governos mundiais irão tomar a peito.

A amargura, o sofrimento e a tristeza que a guerra na Europa espalhou pelo Planeta, criarão a Luz e o Engenho necessários à construção de um Mundo melhor. Os conflitos armados não terminarão, infelizmente, durante este ano, mas desafiamos a vontade democrática dos Países envolvidos para que resolvam os problemas à mesa das negociações.

No nosso País, motivados e fortalecidos pelo exemplo exterior, iremos construir uma Sociedade mais igual, justa e fraterna. As dificuldades sucessivas que tivemos de ultrapassar, todos juntos, povo, poder político, oposição e a comunidade no seu todo, tornaram-nos mais fortes, resistentes e com um maior desejo de ser solidários e bondosos.

Teremos de focar-nos essencialmente no apoio aos mais pobres, aos mais solitários, aos mais sofredores. Acredito que os fundos monetários provenientes da UE serão aplicados em projetos que catapultarão o nosso futuro para um patamar de abundância coletiva.

Como desafio à sua concretização e resultados, haverá que acompanhar e fiscalizar adequada e sistematicamente todos os agentes envolvidos. A economia terá de crescer para que possa ser real e efetivo o apoio aos desempregados, aos reformados e a todos os que demandem uma intervenção do Estado Social.

É, para mim, intolerável que neste longo período de crise, desde a pandemia da Covid-19 às consequências negativas de uma guerra fratricida na vida quotidiana de cada um de nós, haja quem tenha enriquecido vergonhosamente.

Cerca de mais 10 mil novos ricos, face ao crescendo de bolsas de pobreza, abandono e miséria é uma afronta insustentável. O maior desafio para este novo Ano é que ele nos transforme num País mais solidário, mais aberto, mais feliz! E para que assim seja mostra-se urgente que o Estado assuma uma luta aberta e sustentada contra a riqueza injustificável e injustificada, em defesa de quem trabalha e nada, ou quase nada, recebe.

Outro desafio que se impõe a todos nós e, nomeadamente ao Estado, é a luta contra a violência doméstica. Crianças e mulheres são agredidas, violentadas e mortas sobretudo em nichos que deveriam ser de felicidade, confiança e amor: A casa de família.

Controlar e minorar tal violência para percentagens mínimas é também um grande desafio que nos coloca o Novo Ano. Não há País saudável e feliz se minado pela violência, qualquer forma de violência e raiva. Muitos outros desafios nos são colocados, mas impossíveis de contabilizar e sequer referi-los neste espaço, porquanto eles nos chegam diariamente do Mundo, da Sociedade, da Casa de cada um. O que é importante é ter deles consciência e nunca desertar, esquecendo-os. Haverá sempre que lutar pela Paz, pela Liberdade, pela Igualdade, pela Humanidade, pelo Amor.


*Cândida Almeida, ex-diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), escreveu para os leitores da Renascença uma antevisão do novo ano de 2023

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