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Urgências cheias na Estefânia. Diretor culpa linha saúde 24 e centros de saúde

15 nov, 2022 - 14:21 • Liliana Monteiro , Cristina Nascimento

Diretor da área pediátrica apela à alteração do algoritmo do SNS 24. "Verde não é cor para vir a um hospital", afirma Cordeiro Ferreira.

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O Hospital Pediátrico Dona Estefânia, em Lisboa, apela aos doentes que recorram às urgências apenas em caso de extrema necessidade.

As urgências do hospital têm estado com uma grande afluência. Na segunda-feira foram registados mais de 400 atendimentos de crianças, com uma média de cinco a seis horas de espera.

Em declarações à Renascença, o director da área Pediátrica da unidade hospitalar, Cordeiro Ferreira, refere muitos vêm referenciados pelo SNS 24, mas sem justificação. A Linha SNS 24 "está a referenciar muito para os hospitais, nos últimos tempos temos noção que referencia doentes sem qualquer motivo clínico da parte de quem os recebe para tal" , sublinha.

"Temos de olhar para os algoritmos da Saúde 24 porque verificamos que muitos dos doentes referenciados pela saúde 24 caem, de facto, na cor verde. O verde é uma cor muito bonita, gosto muito, mas não é cor para se vir a um serviço de urgência hospitalar", diz Cordeiro Ferreira.

O mesmo responsável considera também que o funcionamento dos centros de saúde tem de ser revisto, para que possam ser "uma casa onde estes doentes possam ir em primeiro lugar".

"Tenho a certeza que médicos e enfermeiros estão dispostos a ver e a acolher estas crianças, estas famílias, mas se calhar ainda se mantêm muitos dos procedimentos administrativos do tempo do Covid, o que restringe o acesso destes doentes. Eu acho que está na altura de se levantar esses procedimentos e começar a treinar os cuidados primários uma casa onde estes doentes possam ir em primeiro lugar e só depois aqueles referenciados vir ao hospital", afirma.

O director do Hospital Pediátrico Dona Estefânia considera que os centros de saúde são parte do problema, "porque durante muito tempo ficaram fechados à comunidade e só a fazer Covid, e à custa da pandemia estamos a viver estes momentos de grande aflição".

"Os centros de saúde não estão a responder e as pessoas, não tendo confiança para ficar em casa, acabam por vir sempre para o hospital", sublinha.

"Se calhar ainda se mantêm muitos dos procedimentos administrativos do tempo do Covid, o que restringe o acesso destes doentes"

Cordeiro Ferreira argumenta que se verifica, neste momento, "uma interseção de imensos vírus, alguns do outono, outros do inverno e há um grande caldo de cultura. Eles [doentes] vêm com um vírus e daqui a uns dias estão cá com outro".

"Gerou-se agora a tempestade perfeita de vírus que estiveram adormecidos e estão a surgir, alguns fora de época. Estão a misturar-se vírus do verão/outono com os do outono/inverno, nomeadamente o VSR a gripe A e o adenovírus, que dá febre e sintomas variados", explica o responsável.

Segundo o clínico, "muitos destes vírus dão febres e tosses prolongadas, não são os habituais três dias de febre, mas são muitas vezes cinco a seis dias de febre, às vezes com um dia de interrupção pelo meio, e a tosse então, essa, dura muito tempo".

Cordeiro Ferreira apela às famílias que o melhor é ficar a recuperar em casa e não ir à urgência, no caso em que “as crianças foram vistas e o diagnóstico é um processo viral” ou tenham “febre, mas não estão piores e estão bem dispostas, mesmo que tenham muita tosse”.

O diretor do Hospital Pediátrico D. Estefânia também pede aos pais que tentem contactar o médico de família antes de se deslocarem às urgências.

“Se, por outro lado, são crianças que estão com febre alta e baixa facilmente com medicação e sabe-se que na sala de aulas há mais com a mesma situação, também calma antes de irem à urgência, falem com os pediatras, tentem localizar o médico de família, contactem antes de ir à urgência porque ficam melhor servidos do que estar tanto tempo à espera."

Em resposta ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que descreve estas situações de picos de afluência às urgências como pontuais, Cordeiro Ferreira considera que o problema é que os doentes “estão a vir na hora errada ao sítio errado”.

"Eu acho que as autoridades querem dizer que não há aqui nenhum drama e ninguém vai morrer por causa disto e que será mais o inconveniente do que um problema de saúde pública. Eu concordo com isso, mas o problema é que as pessoas estão a vir na hora errada ao sítio errado, estão a arriscar-se a esperar e ficar dececionadas com o resultado e arriscam-se a apanhar outras coisas", conclui.

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