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Covid-19 em Portugal

Dinâmica da pandemia pode ainda não estar controlada, admite DGS

11 nov, 2022 - 06:50 • Tomás Anjinho Chagas com redação e Lusa

Peritos e políticos estiveram reunidos esta manhã para um ponto da situação Covid-19 no Infarmed. O Governo já afastou a hipótese de novas "imposições em matéria de saúde pública".

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Reveja a conferência de imprensa desta manhã no Infarmed


A dinâmica da pandemia Covid-19 "pode ainda não estar controlada". O aviso foi deixado esta sexta-feira por um responsável da Direção-Geral da Saúde (DGS), durante a reunião com especialistas e políticos no Infarmed para um ponto da situação sobre o SARS-CoV-2 em Portugal.

"A dinâmica da Covid-19 pode ainda não encontrar-se estabilizada", indicou António Pinto Leite, da DGS, referindo que "o vírus da SARS-CoV-2 pode ainda sofrer mutações e, portanto, pode constituir novas variantes de preocupação".

O especialista destacou também que "a Covid-19 ainda constitui uma emergência de saúde pública internacional", o que "reforça a necessidade de uma abordagem integrada da Covid-19 com outras infeções respiratórias víricas, nomeadamente a gripe e o vírus sincicial respiratório".

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, foi o responsável por abrir os trabalhos esta manhã, destacando que “é com o objetivo de manter uma decisão adequada que realizamos esta sessão aqui no Infarmed”, declarou.

Anúncio da morte da pandemia foi "exagerado"

"A pandemia permanece", destacou durante a reunião Henrique de Barros, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

"Foi inequivocamente exagerado o anúncio da sua morte. deve agora ser vista como um fenómeno recentemente integrado no processo de identificação e resposta às infeções respiratórias, assim saberemos gerir."

O especialista destacou ainda que "a dimensão social e política da pandemia é central e é isso que faz ou não o sucesso da resposta sanitária e que contrariará a sua dimensão endémica".

Henrique de Barros pede "prioridade para as desigualdades"

“A pandemia atual é aquilo que os economistas chamam de incerteza radical”, indica o epidemiologista Henrique de Barros, defendendo que a resposta à Covid-19 deve "dar prioridade às desigualdades".

Na intervenção que fez na reunião de perito sesta manhã, o especialista em epidemiologia da Universisade do Porto deixou cinco lições que devem ser aprendidas nestes dois anos de pandemia, que resultam de um consenso de especialistas da associação de escolas de saúde pública europeias.

Sobre a questão da prioridade às desigualdades, Henrique Barros deu como exemplo que as probabilidades de infeção nos trabalhadores dos lares sempre foram o dobro das probabilidades nas pessoas que estavam nas suas casas.

“É preciso olhar para este tipo de desigualdades”, insistiu.

A segunda lição apresentada é a necessidade de atualizar o impacto da vacinação, que “preveniu mais de um milhão de infeções, dois milhões de dias de internamento, 130.000 dias de internamento em cuidados intensivos e 12 mil óbitos”.

“As vacinas foram centrais, mas podem não ser suficientes”, afirmou o especialista, sublinhando a importância de continuar a atualizar o impacto da vacinação, sobretudo pela possibilidade de fuga de alguma estirpe à proteção da vacina.

A este nível, Henrique Barros alertou ainda a necessidade de ultrapassar a desigualdade no acesso às vacinas a nível mundial.

Para o especialista, “não há evidência (prova) cientifica para cortar determinada idade à vacinação” e “havendo vacinas disponíveis nada justifica que não se possa vacinar qualquer que seja a idade”.

O especialista sublinhou ainda a necessidade de responsabilização de cada um, afirmando que “as pessoas quando estão doentes devem ficar em casa” e que é preciso manter cuidados como a lavagem de mãos, a distância física e o uso de mascara, sobretudo com sintomas.

A terceira lição apontada foi o facto de as decisões transparentes e informadas por prova científica gerarem confiança da população e a quarta a necessidade de manter a vigilância.

“A infeção veio, está cá e transformou-se em infeção com uma sazonalidade óbvia. Temos de estar preparados para responder e minimizar o impacto e os esforços de resposta podem ser desenhados com o que aprendemos”, afirmou o especialista, que sublinhou a necessidade de acompanhar a chamada ‘long covid’ (efeitos prolongados na saúde deixados pela infeção).

A última lição apontada por Henrique Barros foi a necessidade de olhar para todos os componentes do excesso de mortalidade.

“A pandemia não será resolvida se apenas nos centrarmos na epidemia”, afirmou, frisando que com a pandemia não podia deixar de haver um excesso de mortalidade e que, em Portugal, há um peso associado ao envelhecimento da população que deve ser tido em conta.

“Há uma fração de pessoas que morre a mais porque à medida que os anos passam o prolongar a vida vai-se pagando com mortes, sem substituição de gerações”, concluiu.

Sónia Dias e a perspetiva do cidadão sobre a Covid-19

A diretora da Escola Nacional de Saúde Pública, Sónia Dias, enfatizou a necessidade de se conhecerem os impactos sociais da pandemia. As áreas mais afetadas, aponta, são as relações interpessoais (familiares e amigos), a saúde mental, a situação profissional e a saúde física.

De acordo com os estudos até agora realizados, as mulheres referem mais o impacto negativo nas relações interpessoais do que os homens.

"Os jovens são mais afetados na área da saúde mental, educação e situação económica. As pessoas com mais de 65 anos nas relações interpessoais. A população em idade ativa na situação profissional. São as pessoas com menores rendimentos que referem mais impacto na saúde física", referiu.

Aspetos como perdas de rendimento, desemprego, sobrecarga de trabalho e alterações no estilo de vida tiveram impactos negativos acumulados.

Uma das principais constatações foi de que, de facto, "fatores sociais têm impactos diretos e indiretos sobre a saúde física e mental".

Também foram reportadas situações positivas, nomeadamente com a generalização do teletrabalho: "Mais qualidade de vida e bem-estar, alterações positivas no estilo de vida."

Quanto à perceção do risco da doença, uma em três pessoas perceciona risco baixo ou nulo e 60% está nada ou pouco preocupado com a Covid-19.

Especialistas e políticos voltam a reunir-se no Infarmed, em Lisboa, esta sexta-feira, para fazerem o ponto da situação da pandemia. Ao que tudo indica não são esperadas novas medidas de contenção.

Entretanto, a Direção-Geral da Saúde atualizou a norma relativa à campanha de vacinação sazonal contra a Covid-19, incluindo as pessoas a partir dos 50 anos na população elegível. Uma situação que já tinha sido confirmada à Renascença por Graça Freitas.

Segundo a informação divulgada, as pessoas desta faixa etária (50-59) “começarão a ser convocadas para vacinação brevemente”.

Numa informação divulgada no seu site, a DGS diz que o último parecer da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 aponta benefícios neste alargamento, “já que se alcança um nível mais elevado da cobertura de reforço sazonal”, prevendo-se, consequentemente, uma maior redução do número de hospitalizações relacionadas com a Covid-19 ao longo dos próximos meses de inverno.

O índice de transmissibilidade (Rt) do vírus que provoca a Covid-19 aumentou para 0,97 em Portugal e a média diária de casos subiu para 820 infeções, anunciou esta quinta-feira o Instituto Ricardo Jorge (INSA).

O relatório semanal sobre a evolução da Covid-19 avança que a média do Rt – indicador que estima o número de casos secundários de infeção resultantes de cada pessoa portadora do vírus – subiu para 0,97 a nível nacional entre 1 e 5 de novembro, depois de estar em 0,87 no período entre 25 e 29 de outubro.

Portugal registou, entre 25 e 31 de outubro, 5.920 infeções pelo coronavírus SARS-CoV-2, 53 mortes associadas à covid-19 e um novo aumento dos internamentos, indicou o mais recente boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

[atualizado às 12h19]

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