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​Governo compra helicópteros de combate a incêndios. Alguns têm 35 anos

16 set, 2022 - 11:32 • Liliana Monteiro

O Estado comprou am agosto seis helicópteros Black Hawk, no valor de cerca de 43 milhões de euros, comparticipados através do PRR. O antigo coordenador dos meios aéreos da ANPC diz que estes "helis" transportam mais operacionais, mas não têm tanta capacidade de descarga de àgua.

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O Estado comprou no passado mês de Agosto seis helicópteros Black Hawk, financiados em cerca de 81% por fundos comunitários, através do PRR, num valor de cerca de 43 milhões de euros. Alguns têm 35 anos de uso.

A decisão foi tomada em março do ano passado, o contrato foi assinado em agosto e será no primeiro trimestre do próximo ano que dois deles vão chegar às mãos da Força Aérea Portuguesa.

Sem revelar os custos de operação e de manutenção associados aos seis novos helicopteros, a Força Aérea (FA) apenas revela à Renascença que as aeronaves “cumprem integralmente os requisitos do caderno de encargos tendo uma idade igual ou inferior a 35 anos".

"As aeronaves serão entregues totalmente recondicionadas, modernizadas e adaptadas à missão de combate aos fogos rurais."

Perante a idade dos aparelhos, questionámos a FA sobre a aeronavegabilidade dos mesmos. “A garantia da Aeronavegabilidade dos helicópteros adquiridos, assim como de todas as aeronaves operadas pela Força Aérea, é um dever, uma obrigação e uma responsabilidade da Força Aérea em cumprimento com a legislação nacional e internacional”, explica a FA, que ficará com a guarda das aeronaves, garantindo a boa condição dos seis aparelhos.

Ainda em respostas a questoes levantadas pela Renascença, explica a FA que “os helicópteros adquiridos são, aeronaves de estado, operadas, mantidas e geridas pela Força Aérea pelo que as tripulações e os mecânicos serão militares da Força Aérea”.

Como militares, os pilotos responderão à hierarquia e estarão sujeitos aos regulamentos militares, embora taticamente aparelhos e militares tenham de obedecer à Autoridade Nacional de Emergencia e Protecção Civil.

“O emprego destes helicópteros na manobra tática de combate a incêndio rural, será conforme o que estiver estipulado na DON2 (Diretiva Operacional Nacional n.º2 - Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais - aprovada anualmente) e tendo em conta os procedimentos definidos no Manual Operacional de emprego de meios aéreos no combate a incêndios rurais. Aspetos como qual a frente de incêndio a combater e pontos de descarga serão indicados pela estrutura de comando da ANEPC responsável pelo combate ao incêndio”, acrescenta.

Black Hawk, “aeronave militar modificada que surgiu há uns anos e tem dado provas”

O antigo coordenador dos meios aéreos da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), coronel António Seabra, diz que estes "helis" transportam mais operacionais, mas não têm tanta capacidade de descarga de àgua.

O especialista explicou à Renascença que valências têm os helicópteros comprados pelo Estado Português (Sirokorski UH-60 Black Hawk) para combate a incêndios rurais, revelando que se trata de aparelhos com bom desempenho no combate a fogos e que também podem ser muito úteis noutro tipo de missões.

Boa autonomia, grande capacidade de transporte de meios e de ataque em zonas difíceis são algumas das características sublinhadas.

Mas que aparelhos são estes? Que vantagens trazem? António Seabra diz que "é uma aeronave de asa rotativa que tem uma capacidade de combate direto aos incêndios através da largada de água, ou produtos químicos se se colocar essa questão. Permite também o transporte de combatentes para o terreno o que é bastante importante em áreas onde o acesso por via terrestre é difícil, por exemplo, locais remotos e encostas de montanhas onde é difícil chegar ao incêndio, aí aumenta a capacidade de sucesso no combate ao fogo."

O Black Hawk, se comparado com outros helicópteros já existentes, “transporta mais combatentes, o que não fazem outras aeronaves pesadas como o Kamov, leva 12 elementos, as mais pequenas só comportam transporte de 5 combatentes”.

A autonomia destes helicópteros é destacada como sendo um trunfo na operação destes aparelhos. “Têm também uma grande capacidade de autonomia no teatro de operações com a diferença que não têm tanta capacidade de largada de àgua se comparamos o sistema de bambi bucket , os baldes pendurados nas aeronaves, com outras aeronaves”, embora o coronel António Seabra diga que estes helicópteros “têm a característica também de poder ter um sistema acopulado (não sei se está previsto) de um tanque externo que é colocado por baixo da aeronave e pode fazer largada de mais àgua”.

A maior prova que têm dado sublinha “é que tem sido uma aeronave adotada por outros países para combate a incêndios florestais porque tem uma capacidade alargada de projeção de combatentes como também a grande capacidade de autonomia que andara à volta de duas horas e meia. Sendo muito usado nos Estados Unidos na Califórnia”.

Os helicópteros Black Hawk não foram concebidos diretamente para combate a incêndios. “Foi uma aeronave militar adaptada e modificada que serviu diversos fins operacionais. A modificação surgiu há uns anos e tem dado provas é de admitir que possa trazer um acréscimo de vantagens na utilização pelo estado português para outras missões também”, acrescenta.

Quando questionado sobre se a escolha de uma aeronave já com vários anos, mais antiga, é uma boa escolha responde sem hesitar: “dizer que uma aeronave é nova ou velha não é a terminologia mais adequada. Os meios aéreos estão sujeitos a manutenções constantes, processos de revisão, modernização, alteração, atualização e estão sujeitos a um processo seguido por autoridades nacionais a fim de assegurar a aeronavegabilidade, se isso estiver assegurado podem cumprir a sua missão sem qualquer tipo de problema”.

O contrato para aquisição dos novos meios aéreos de combate a incêndios “inclui fornecimento de material e ferramentas, apoio técnico de manutenção até 2026 e formação para seis pilotos e 21 mecânicos” anunciou a Força Aérea Portuguesa.

“Eu diria que à primeira vista é uma boa aposta, estando até previsto até 2026 a manutenção da frota, mas enfim muitas vezes existem pormenores e os problemas surgem aí, não quero estar com isso a especular nada. Mediante o que é do conhecimento público eu diria que ao contrário de situações do passado esta é uma aposta correta. Houve, e muito bem, investimento na formação de pessoal de manutenção e pilotos, um pacote de serviços, isso será um ponto de partida aceitável e bastante razoável”, conclui o antigo responsável pela coordenação de meios aéreos na proteção civil.

Quanto à empresa de aviação a quem foram comprados os seis helicópteros a Arista Aviation Services afirma que “tem muito pessoal, proveniente das forças armadas dos Estados Unidos, tanto a nível de pilotos, mecânicos e engenheiros e que tem tido muito sucesso na transformação de aeronaves”.

Para terminar conclui que “houve erros do passado que ninguém pode dizer que não foram erros, exemplo disso a aquisição dos Kamov, o facto de ainda não termos -passados 30 ou mais anos do anúncio de que íamos adquirir Canadairs- estamos em 2022 e não se vê a sombra nem de um! O importante é ir corrigindo erros e adotar soluções mais praticáveis e mais de acordo com as necessidades do interesse público”.

Estes aparelhos forma comprados financiados em 81% por fundos comunitários, através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). O helicóptero UH-60 Black Hawk permite o transporte de uma equipa de 12 bombeiros e respetivo equipamento, com uma autonomia, com largada de água, de cerca de 150 minutos. Possui a capacidade de transportar até 2950 litros de água por largada.

Nesta altura Portugal tem apenas 4 helicopteros acureil aos quais se juntam agora estes seis recentemente adquiridos, num total de 10 meios próprios de combate a incêndios ( embora os seis não estejam já em território nacional). Aguarda-se pelo ano de 2024 para a chegada de dois Canadair. No passado, Portugal tinha 10 meios, entre eles estavam seis Kamov que acabaram por ficar todos inoperacionais e nenhum deles anda no terreno.

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  • Digo
    16 set, 2022 Eu 13:44
    Se é para pôr "coisas vetustas" a voar, podiam tirar dos armazéns os antigos C-130 e colocar-lhes os kits anti-incêndio que eles podem transportar e era menos uns milhões a contratar meios privados, quando a Força aérea pode fazer o trabalho. Ou não, se os "velhotes" se recusarem a voar e nessa altura, os 43 milhões foram deitados à rua e como sempre, não deve haver culpados.

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