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Pavilhão Azul para coleção de Julião Sarmento ficará concluído em maio de 2023

03 set, 2022 - 13:47 • Lusa

Anunciada em 2017, a iniciativa surge na sequência de parceria com o artista para cedência da sua coleção privada, com cerca de 1.200 obras de artistas portugueses e estrangeiros.

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O projeto de recuperação e adaptação do Pavilhão Azul, em Lisboa, para acolher a coleção de arte privada do artista Julião Sarmento (1948-2021) deverá estar concluído em maio de 2023, segundo a Câmara Municipal de Lisboa (CML).

Contactado pela agência Lusa sobre o ponto da situação do projeto, o gabinete de comunicação da CML indicou que "a empreitada, sob gestão da SRU [Sociedade de Reabilitação Urbana - Lisboa Ocidental] está a decorrer conforme programada, com a sua conclusão prevista para maio de 2023".

Anunciada em 2017, a iniciativa surgiu na sequência da assinatura de um protocolo de parceria com o artista Julião Sarmento para cedência da sua coleção privada, com cerca de 1.200 obras de artistas portugueses e estrangeiros.

Por desejo do artista, o projeto arquitetónico ficou a cargo de João Luís Carrilho da Graça e direção do curador Sérgio Mah, visando a criação de uma programação própria naquele espaço municipal.

Contactado pela Lusa sobre o andamento da obra, o arquiteto Carrilho da Graça considerou "realista" o prazo de conclusão indicado pela autarquia, avaliando que o projeto "está a correr bem".

"É normal acontecerem atrasos", disse, face às iniciais previsões de conclusão do Pavilhão Azul para 2019, no seguimento do protocolo assinado entre a CML e o artista, que viria a morrer em maio de 2021.

A obra "está a desenrolar-se, e um bocadinho atrasada por razões justificáveis, pelo que tenho percebido", indicou o arquiteto, que era amigo próximo de Julião Sarmento.

A coleção privada de Julião Sarmento, iniciada pelo artista plástico em 1967 quando estudava na faculdade - sem que tenha parado de colecionar desde aí -, reúne obras em pintura, objetos, instalações, vídeos e esculturas de artistas portugueses e estrangeiros que conheceu, com quem fez amizade ou conviveu em algum momento da vida.

Carrilho da Graça concebeu o projeto tendo em mente "o diálogo com Julião Sarmento, que organizou a coleção, muitas vezes através de trocas com outros artistas", disse à Lusa, sobre a intenção de manter, neste trabalho, o espírito contemporâneo do criador, que representou Portugal na Bienal de Arte de Veneza de 1997, entre outras exposições internacionais como a Documenta, em 1982 e em 1987, e na Bienal de São Paulo, em 2002.

"Ele considerava esta coleção como uma obra de arte", salientou o arquiteto, distinguido com o Prémio Valmor em 1998, 2008, 2010 e 2017.

Só 5% das obras da coleção privada do artista plástico foram compradas, tendo trocado outras por peças da sua autoria, ou recebido de oferta, de outros artistas e colecionadores.

"Como fui sempre muito amigo dele, gostava agora de corresponder à importância da coleção, e o que tentei fazer foi um espaço que tivesse caráter, mas também que fosse relativamente discreto, para fazer viver com grande intensidade a presença das obras de arte, que é o seu objetivo principal", vincou o arquiteto à Lusa.

O edifício, antigo armazém de alimentos, presumivelmente edificado no final do século XIX, insere-se na Zona Especial de Proteção da Torre de São Vicente de Belém e encontrava-se devoluto, segundo a autarquia.

A ideia de doar a coleção à Câmara de Lisboa surgiu depois de o artista plástico ter exposto parte da sua coleção, em 2015, na mostra "Afinidades Eletivas", dividida entre o então Museu da Eletricidade, integrado no atual Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), e na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa.

As centenas de obras, fechadas em casa ou em armazéns, poderiam tornar-se visíveis mediante um espaço expositivo próprio, que viria a recair no Pavilhão Azul, na Avenida da Índia, em Lisboa, e, ainda em vida, Julião Sarmento considerou-o "perfeito", pela localização no eixo museológico de Belém.

Autor de uma obra multifacetada, Sarmento, nascido em 1948, em Lisboa, foi alvo de uma exposição pela Tate Modern, em Londres, em 2011, momento alto de um trabalho que fez dele um dos artistas portugueses com grande projeção internacional.

A coleção de Julião Sarmento inclui obras de Joaquim Rodrigo, de quem Sarmento foi assistente, e de outros artistas que cruzaram a sua vida, como Álvaro Lapa, Eduardo Batarda, Jorge Molder, Rui Chafes, João Vieira, Rui Sanches, Pedro Cabrita Reis, Fernando Calhau, Rui Toscano, Alexandre Estrela, Vasco Araújo, entre outros criadores portugueses.

Artistas estrangeiros também estão representados na coleção privada de Sarmento, como Andy Warhol, Marcel Duchamp, Robert Frank, James Turrell, Jeff Wall, Wolf Vostell, Cindy Sherman, Nan Goldin, Adriana Varejão ou Marina Abramovic.

"A coleção é extraordinária, é única, mesmo", salientou Carrilho da Graça, vencedor do Prémio Cecil de Arquitetura em 1994, e por várias vezes nomeado para o prémio europeu Mies van der Rohe de Arquitetura, acrescentando que o "edifício municipal vai permitir uma programação de relação desta coleção com outras realidades".

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