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Estudo. Nas grandes cidades é mais difícil ser pobre

25 jul, 2022 - 08:34 • Filipa Ribeiro , Olímpia Mairos

As grandes áreas urbanas são atrativas pelas oportunidades de trabalho, mas o interior tem índices de bem-estar elevados, devido às redes de entreajuda e a qualidade do ambiente, conclui um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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Em 28% dos concelhos, mais de metade das famílias são pobres, na maioria dos casos, são concelhos com baixa densidade populacional, mas é nas grandes cidades, densamente povoadas, que é mais difícil ser pobre.

É uma das conclusões do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos que avaliou o impacto das condições de vida no bem-estar das populações nos diferentes territórios do país.

A coordenadora do estudo, Rosário Mauritti, diz que a proximidade entre as pessoas faz a diferença. “A distribuição da pobreza não está uniformemente distribuída pelo território. Ela tem faixas de concentração. E quando a pobreza é vivida no contexto mais urbano, porventura, ela é vivida e sentida de uma forma bastante mais negativa, do que quando estamos no contexto de comunidades, onde existem estas redes de proximidade que permitem localizar as implicações de falta de rendimentos e de meios, para dar resposta a necessidades básicas do quotidiano.”

Este estudo mostra, por outro lado, que em seis municípios - Lisboa, Porto, Coimbra, Cascais, Oeiras e Alcochete - ganha-se mais 9 mil euros por ano do que em 35% do país. E em 96% dos municípios há mais idosos do que crianças, sendo que em 60%, um em cada 5 idosos vive sozinho.

O país em cinco grupos

De acordo com o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que caracteriza os perfis de bem-estar e desigualdade dos municípios portugueses, é possível dividir o país em, pelo menos, cinco grupos, onde, de acordo com a investigadora Rosário Mauritti, os índices de bem-estar variam conforme as aspirações individuais.

“Chegamos a cinco configurações de municípios que são os municípios industriais em transição, os municípios intermédios, os municípios ou territórios, digamos assim, urbanos em rede, os territórios inovadores e os territórios de baixa densidade”, elenca.

E foi possível concluir que o bem-estar “não significa o mesmo para todas as pessoas e em todos os lugares. Não é possível, de todo, dizermos que é muito melhor viver nos territórios inovadores do que viver, por exemplo, nos territórios de baixa densidade. Depende muito do contexto relacional e das condições em que a própria pessoa se posiciona”.

Rosário Mauritti chega a dar como exemplo a diferença entre territórios inovadores, que agrupam as grandes cidades de Lisboa e Porto, e os territórios de baixa densidade que englobam as regiões de Trás-os-Montes e das beiras.

Interior com índices elevados de bem-estar

Se, por um lado, as grandes áreas urbanas são atrativas pelas oportunidades no mercado de trabalho, o interior tem índices de bem-estar elevados, devido às redes de entreajuda e a qualidade do ambiente.

O bem-estar é multidimensional. Os centros urbanos oferecem condições de trabalho para quem tem altos níveis de qualificação, que são melhorados, mas colocam problemas muito complicados na conciliação trabalho e vida familiar, na precariedade, no acesso à habitação. No extremo oposto, os territórios de baixa densidade, que atravessam toda a faixa interior do nosso país, as pessoas até têm uma maior longevidade, precisamente porque, embora possam viver em maior pobreza, contam com esta rede densa de relações e de apoios sociais que está muito presente nestes territórios”, observa.

“Embora o trabalho que existe seja um trabalho muito concentrado em atividades de baixa qualificação, na verdade, estas pessoas, se calhar, têm condições, do ponto de vista da conciliação entre trabalho e vida familiar, que estão muito facilitadas”, acrescenta.

Territórios intermédios reconfiguram atividades para segurar jovens

A coordenadora do estudo destaca ainda entre os cinco grupos de municípios: os territórios industriais em transição - que correspondem às áreas do Vale do Ave, Tâmega e Sousa e Aveiro - e os territórios intermédios - como as regiões do Minho, Alentejo e Algarve, onde já está a haver uma reconfiguração da atividade económica para se conseguir segurar os mais jovens.

“Os territórios intermédios, apesar de estarem também no processo de esvaziamento populacional e envelhecimento, vivem, hoje, processos profundos de reconfiguração da sua atividade económica muito intensificada na sua capacidade de renovação, precisamente pela aliança que tem com a presença nesses contextos de instituições de inovação científica e tecnológica, nomeadamente universidades, instituições politécnicas, unidades de investigação”, observa.

“Curiosamente, nos territórios industriais em transição, que têm um passado industrial muito forte e que ainda é muito presente, os jovens ali estão a conseguir encontrar respostas para os seus anseios”, conclui.

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