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Marcelo Rebelo de Sousa. “São o Portugal que sonhamos para o futuro”

11 jun, 2022 - 19:49 • António Fernandes , a Renascença em Londres

Presidente da República reforça aliança com Reino Unido em encontro na Imperial College.

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O circuito de visitas de Marcelo Rebelo de Sousa a diferentes comunidades no âmbito do Dia de Portugal continuou este sábado na Imperial College, em Londres. Mais uma sala cheia, com muitos alunos e investigadores de várias áreas presentes e onde o Presidente foi recebido por Nadhim Zahawi, ministro da Educação inglês.

Zahawi, que é um nome forte dentro do Governo inglês e que é apontado a uma sucessão de Boris Johnson como primeiro-ministro, disse estar contente por fazer parte da celebração do Dia de Portugal “com um dia de atraso mas a tempo do Dia de Santo António”. o ministro inglês falou da presença dos portugueses na educação no Reino Unido, dizendo que 2 mil portugueses trabalham no sistema de ensino universitário britânico e que há mais de 8400 estudantes portugueses no Reino Unido.

“Essa presença é bem recebida”, disse, e que “traz novas ideias e perspetivas para o Reino Unido”. O seu grande enfoque, no entanto, foi para a aliança com Portugal que relembrou estar perto de chegar aos 650 anos, a aliança diplomática mais antiga do mundo. Esta presença de Marcelo no Reino Unido, disse, funciona como uma renovação de votos numa altura em que “nunca foi tão importante que os países se unam” para lidar com os desafios atuais.

A importância da aliança foi também o grande destaque do discurso do Presidente da República, dizendo que esta não é só “do passado, mas também do futuro” e disse que os presentes estão a “construir o futuro da nossa aliança e dos dois países”. Falando diretamente para os estudantes e investigadores, disse-lhes que “são o Portugal que sonhamos para o futuro.” Zahawi tinha referido ser adepto do Manchester United e falou de Cristiano Ronaldo e Marcelo disse que Portugal não enviou “só um Ronaldo, mas centenas de Ronaldos para a comunidade científica.”

As palavras sobre a aliança luso-britânica, não passam despercebidas num dia em que o Ministro dos Negócios Estrangeiro adiantou à Lusa que “está a ser um acordo chapéus entre os dois países” com particular incidência em áreas como a Defesa ou a Ciência. Será um acordo pós-Brexit cuja assinatura está só dependente da recuperação do estado de saúde de António Costa, que tinha cancelado a viagem a Londres. Com reunião com Boris Johnson marcada para dia 13, Marcelo disse aos jornalistas que acreditava que Costa ia recuperar a tempo e estar presente na reunião.

Os investigadores

Nadia Zahawi falou do papel dos portugueses na docência britânica, e na Imperial College há um excelente exemplo disso mesmo. Francisco Veloso é Director da Business School na Imperial College - a escola de gestão - há 5 anos. Para Francisco Veloso a diáspora que está “ligada à comunidade cientifica deve contribuir para ligação a Portugal” até porque a ciência e educação são “naturalmente colaborativas” que é por isso fácil criar iniciativas para colaborar com Portugal

O director fala da grande “comunidade de portugueses” na Imperial, onde há 155 alunos portugueses e mais de 100 docentes a fazer trabalho de investigação. Estão, diz Veloso, a contribuir para o Reino Unido, mas também para “Portugal, porque há centenas de artigos colaborativos entre Portugal e UK, alunos que se mudam para o Reino Unido e voltam para Portugal, essa movimentação é muito importante”.

A visita do Presidente é vista como “muito importante” porque acredita que o facto de Marcelo escolher estar com a comunidade cientifica e educativa em Londres é “olhar para o futuro dos dois países, um futuro sem fronteiras”.

Ao longo da sala há conversas, há investigadores junto a painéis que falam dos seus projectos. Marcelo começou a fazer essa volta, mas parou junto ao primeiro deles e continuou a sua tour de selfies.

Entre os investigadores está Frederico Magalhães, pedopsquiatra em Oxford e que está ligado à Imperial College, onde faz pesquisa na área da saúde mental: “Faço parte de uma equipa na área da neurociência e da medicina, em que exploramos o potencial dos psicadélicos em duas potências vertentes: como intervenção terapêutica, para problemas de saúde mental e como ferramenta para estudar a consciência”.


Num estudo em que Francisco trabalhou com pessoas com depressão há muitos anos e com resistência ao tratamento, foi conseguida a remissão da doença. “Um resultado muito importante”, considera. Mais recentemente a equipa publicou um artigo no New England Journal of Medicine onde se demonstrou que “o tratamento com psicadélicos, não é inferior ao tratamento com antidepressivo” com a vantagem de no caso dos psicadélicos se utilizarem “duas doses ou três e no caso dos antidepressivos é um tratamento a longo prazo, com toma diária de medicação “

Como funciona então um tratamento desses? Primeiro, junta psicoterapia e medicação, e é por isso chamada “terapia assistida por psicadélicos”. É feita em 3 fases - preparação, dose, integração. Na preparação os “terapeutas falam com o doente e preparam a experiência”, dando apoio para lidar com a experiência é sempre diferente e “pode ser desafiante”. Na dosagem, o doente passa “quase um dia inteiro numa sala que é decorada, apesar de se tratar de um contexto clinico”. Por fim, na integração, no dia seguinte, é altura de procurar “significados ou informação, ideias novas que a pessoa possa integrar na sua vida”. Francisco acredita que este tipo de tratamento pode estar integrado na terapêutica no prazo de “5a 10 anos”. Sobre a comemoração do Dia de Portugal, diz que é “bom sentir que se lembram de nós e que o Presidente tenha feito esse esforço”, de se deslocar a Londres. “Sentimo-nos mais próximos de casa”, conclui.


Do outro lado da sala está Jocelyne Vasconcelos, chefe do centro de investigação em saúde em Angola e que está no primeiro ano de doutoramento no Imperial College, a estudar a diversidade genética dos vírus que circulam em Angola. Isto porque “reparámos “índices elevados de síndromes febris em pacientes hospitalizados com vírus como Zika ou Dengue”. A ideia agora é utilizar uma plataforma de sequenciamento genético portátil que “permite identificar bactérias, vírus, microrganismos que podem causar doenças para ajudar a detectar casos que podem não ser identificados”. Neste momento, diz há casos de pessoas hospitalizadas ou vistas em rastreio e vai “tentar identificar se há presença de outros microorganismos que causem doença, que não são os que testamos geralmente, como Zika.” No final os resultados podem influenciar medidas de saúde pública e serão passados também à “ Organização de Saúde sobre outros vírus que ainda não estejam identificados”. O centro de investigação que lidera tem vínculo “forte com Portugal” tendo sido criado pelo Governo angolano com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Camões.

Terminado o encontro, Marcelo Rebelo de Sousa vai jantar com membros da comunidade portuguesa, na embaixada em Londres. Amanhã parte para Andorra, onde seguem as comemorações.

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