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Falta de professores? Solução passa “pela atratividade da profissão”

29 mar, 2022 - 15:46 • Filomena Barros , Marta Grosso

Sindicatos reagem ao estudo da Pordata, segundo o qual mais de 100 mil alunos vão ficar sem algum professor no próximo ano letivo. É preciso dar “um sinal claro de que é possível abraçar esta profissão sem passar anos de precariedade antes de vincular”, avisa Fenprof.

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As principais federações sindicais de professores não se mostram surpreendidas com a projeção da Pordata sobre o número de professores nos próximos anos. O sindicalista da Fenprof Vítor Godinho lembra que o problema já se verificou neste ano e ainda há milhares de alunos sem aulas.

“Na semana de 20 a 24 de setembro, afetava cerca de 100 mil alunos. Portanto, falar-se que para o ano estarão 100 mil alunos afetados pela falta de professores – ou seja, sem pelo menos um professor – não é surpreendente, porque já este ano isso se verificou num dado momento”, diz à Renascença.

“Neste momento, estão em falta, face ao número de horários que são lançados a concurso semanalmente, entre 25 e 30 mil alunos afetados pelo problema da falta de professores”, acrescenta.

Face ao cenário, a Fenprof abre a porta à contratação de docentes sem habilitação, mas deixa um aviso: “a Fenprof não vai assistir impávida e serena à desqualificação da profissão”.

Em causa, “fazer com que na contratação nacional ser também possível admitir a contratação de docentes sem habilitação profissional”, o que “implica, obviamente, a alteração da lei”. Tal implicaria que estes docentes contratados pudessem concluir a sua habilitação profissional.

Atrair e contratar

Vítor Godinho defende que é preciso ir mais longe para tornar a docência uma profissão atrativa e aumentar as vagas para entrar nos quadros.

“Tem de se dar um sinal claro de que é possível abraçar esta profissão sem ter de passar 15 e 16 anos de precariedade antes de vincular. E o primeiro sinal que deve ser dado e através dos concursos de professores, no alargamento dos horários das vagas a concurso para entrar nos quadros”, defende.

“O Ministério refere que neste ano aumentou em 35% o número de vagas relativamente ao ano anterior, mas, feitas bem as contas, é preciso não esquecer que neste ano, só até ao início do ano letivo, foram contratados em horário anual e completo 9.370 docentes. Ora, o Ministério admite 3.259 vagas, já não parece assim tanto”, destaca.

A contratação de docentes é uma prioridade e a Fenprof tenciona levar o assunto à mesa da reunião com o novo ministro da Educação, João Costa, que era secretário de Estado e que já conhece as propostas reivindicativas da Federação Nacional de Professores.

Na mesma linha, a FNE defende um novo modelo de formação de professores. Mas como nada ainda foi feito nesse campo, por agora, o que se pode fazer é chamar professores que estão formados e que deixaram a profissão.

“Não seria adequado que estivéssemos agora, sem alterar o modelo de formação, estarmos a fazer formação à pressão. Já devíamos ter pensado naquilo que devia ser do novo modelo de formação de professores, não foi feito, vai ser preciso trabalhar sobre isto urgentemente. Na nossa perspetiva, essas soluções passam pela atratividade da profissão, fazer com que muitas pessoas que têm formação para serem professores, que até já foram professores e que, por falta da atratividade da profissão, a abandonaram, que possam ser novamente chamados a vir para o sistema educativo”, defende João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional da Educação, em declarações à Renascença.

O representante da FNE sublinha que “são pessoas que têm experiência, que têm formação e que deveriam ser canalisadas para voltar a dar resposta às necessidades do sistema educativo”.

FNE pede medidas urgentes

A FNE pretende insistir nas propostas que já avançou com o novo ministro da Educação. João Dias da Silva lamenta que o Governo tenha ficado a olhar para os estudos que apontavam o horizonte de 2030, sem procurar respostas a curto prazo.

“O que é surpreendente é que o Governo tenha ficado completamente a olhar para o distante sem ter em conta aquilo que tinha de fazer agora relativamente a medidas que já deviam ter sido adotadas para responder a esse problema. Vamos estar agora confrontados com a necessidade de medidas políticas que sejam urgentes para terem impacto e no próximo ano e nos próximos anos não volte a repetir-se aquilo a que temos assistido, que é o facto de termos alunos sem professor”, diz.

O sindicalista adianta que, na quinta-feira, a FNE irá pedir uma reunião ao novo ministro.

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  • Alberto Santos
    15 mai, 2022 Porto 20:12
    O governo de Sócrates deu um tipo no pé ao restringir acumulação de horários de professores em escolas diferentes. Agora dizem que faltam professores.... Talvez o executivo repense em revogar a lei da restrição de acumulação.
  • Helena Gonçalves
    30 mar, 2022 Viseu 14:18
    Se lançarem os horários necessários para "efectivar", em vez de contratarem professores com profissionalização todos os anos, tornando a precariedade uma norma, talvez consigam uns milhares de bons professores que andam a contrato há mais de 20 anos! Depende do ME, e do movimento de todos nós também, querer efetivamente resolver o problema, que é muito para além da falta de professores! Essa só se deve à precariedade com que muitos sobrevivem, sendo obrigados a recusar horários nos quais, se lá ficassem, pagariam para trabalhar. Além dd que essas meios horários são fruto do envelhecimento e cansaço dos que lá permanecem muito para além dos 40 anos de serviço e dos 60 anos de idade, a atender a uma burocracia sem limites e a turmas de 25 até 35 alunos! Física e psicologicamente abusados e, ainda por cima, desvalorizados constantemente pelos sucessivos governos há cerca de 20 anos para cá! Uma Ministra que se esqueceu do que fez e agora anda a pedir justiça para os professores... Podia reformar, havia coisas que era necessário regular, mas não tinha nenhum direito de enxovalhar publicamente toda uma classe. Infelizmente, todos os outros continuaram e agora têm o resultado! Vou usar um chavão, mas é assim mesmo: Um país que não respeita os seus professores, não respeita a si mesma e nmerece ser respeitada por outras nações! É isso que se tem passado...
  • Paulo Anjo Santos
    30 mar, 2022 Lagos 11:14
    O que mais me choca e surpreende é o quase total alheamento da sociedade para este problema, como se o futuro do país não dependesse muito da qualidade da do ensino que temos... é triste!

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