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Reportagem da Renascença nos Açores

São Jorge: a segurança, para muitos, está a leste

26 mar, 2022 - 15:58 • João Cunha , enviado da Renascença aos Açores

Mais oriental não há: freguesia do Topo, em São Jorge, terá duplicado a sua população, por estes dias. Temendo os efeitos da crise sismo-vulcânica, muitos pediram emprestadas casas vazias, muitas de emigrantes nos Estados Unidos, para ali encontrar refúgio.

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Mónica Barbosa está à porta de uma casa, numa zona conhecida como o Farol, na freguesia do Topo. É a parte mais oriental de São Jorge, mais afastada dos epicentros dos cerca de dois mil e setecentos sismos que já se sentiram, desde o início da crise sismo-vulcânica em São Jorge.

Emprestaram-lhe um segundo andar de uma casa, onde Mónica vive com o marido e dois filhos, com uma cunhada e um sobrinho. Foi o que se arranjou, para evitar o constante sobressalto na Fajã de Santo Amaro, junto ao aeroporto, onde residem. Tem colchões e cobertores para todos, que “ajeitam” todas as noites no espaço disponível.

“Tenho filhos pequenos e devido à situação em que nos encontramos e devido ao mau tempo, achámos por bem deslocarmo-nos para aqui”, diz, com semblante carregado.

Ontem trabalhou normalmente. Os filhos ficaram com familiares no Topo, onde vai passar o fim de semana. Uma estadia forçada apenas interrompida pela necessidade de ir alimentar os animais.

“Se eventualmente acontecer alguma situação mais grave, vou recolher os meus animais e refugiar-me no Topo”, admite, esperando que até segunda-feira a situação melhore. Porque “a gente tem de fazer a nossa vida”.

Mónica é da Terceira e o marido do Pico, para onde pode ir quando quiser. Mas tem o trabalho e a rotina dos filhos, com a escola. Por isso, para já, não pretende abandonar São Jorge.

Porque, refere, a crise sismo-vulcânica “pode demorar meses ou semanas, ou pode até não acontecer nada”. Mas se eventualmente acontecer alguma coisa, tem uma solução.

No centro da vila do Topo, Sandy Ramos acompanha os trabalhos em curso de construção de um pequeno “hostel” de que é proprietária. Os pais vivem em Manadas, próximo do aeroporto. Admite ter ficado preocupada aquando do início desta crise sismo-vulcânica.

“É a nossa família, queremo-la sempre num lugar seguro”.

Por isso, não hesitou em pedir aos pais para, em vez de passarem o fim de semana, como era habitual, ficarem o tempo que fosse necessário, até tudo normalizar.

“Outras pessoas já não têm, esta vantagem”, lembra Sandy. Há quem durma dentro do carro, por falta de alojamento no Topo.

Espera que tudo não passe de um susto que passe rapidamente. E até que assim seja, deixa um convite aos habituais residentes no concelho de Velas que agora se mudaram para aquela zona da ilha: amanhã é domingo, há missa. “Venham á nossa igreja, que é bonita. E rezem, porque é a única coisa que nos resta.

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