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Açores. Taxa de abandono escolar entre os 18 e 24 anos é a mais alta da Europa

02 fev, 2022 - 20:46 • Lusa

Em causa estão jovens entre os 18 e os 24 anos, “que já deixaram o sistema de ensino e não completaram pelo menos o 12.º ano”.

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O sociólogo e professor da Universidade dos Açores, Fernando Diogo, alertou, esta quarta-feira, para a estagnação da taxa de abandono escolar precoce de educação e formação entre os 18 e os 24 anos nos Açores, que é já a mais alta da Europa.

“Em 2020, acontecem duas coisas muito preocupantes. A taxa regional é o triplo da média nacional, por um lado, e, por outro lado, infelizmente torna-se a taxa mais alta de entre todas as regiões da União Europeia”, afirmou, em declarações aos jornalistas em Angra do Heroísmo, à margem do Fórum da Educação, integrado no Conselho Coordenador do Sistema Educativo.

Segundo o sociólogo, é sobretudo “preocupante” a estagnação da taxa de abandono escolar precoce de educação e formação entre os 18 e os 24 anos, que em 2020 atingia os 27% na região, quando a média do país era de 8,9%.

“Até 2017, os Açores acompanhavam a tendência nacional de uma forma muito paralela de descida desta taxa, mas a partir de 2017 a taxa nacional continua a descer e a regional estabiliza”, explicou.

“As outras regiões continuam a descer e a Guiana francesa, que era a mais alta, já está ligeiramente abaixo do valor dos Açores”, acrescentou.

Em causa estão jovens entre os 18 e os 24 anos, “que já deixaram o sistema de ensino e não completaram pelo menos o 12.º ano”.

Para o sociólogo, é importante estudar as causas deste fenómeno e promover o sucesso escolar para travá-lo.

“O problema é conseguir que estes jovens tenham mais sucesso escolar, para quando chegarem aos 18 anos e estiverem a pensar em deixar a escola já tenham o 12.º ano, ou até continuem um pouco mais”, defendeu.

O especialista lembrou que os Açores são “a região portuguesa onde há menos gente com o ensino superior”.

A proposta do Governo Regional de criação de uma estratégia da Educação para a década é vista com bons olhos por Fernando Diogo, que alerta ainda assim para o perigo de o programa se focar demasiado nas infraestruturas e nas condições laborais dos professores.

“Uma primeira ameaça é ficar refém das reivindicações laborais dos professores, que são muito importantes, obviamente, mas que muito facilmente se sobrepõem a tudo o resto graças à dinâmica reivindicativa e capacidade de intervenção pública dos sindicatos”, frisou.

O investigador criticou por outro lado o “excessivo foco” nas construções escolares, alegando que as verbas da Educação no Plano e Orçamento da Região são praticamente destinadas às infraestruturas.

“É bom termos boas escolas, mas isso não é de todo importante, nem decisivo, para a questão que é fundamental, que é a construção do sucesso escolar dos alunos nas suas várias componentes”, apontou.

Fernando Diogo propõe uma estratégia com foco nos alunos e para isso defende uma maior aposta na “organização das escolas, na formação pós-escolar dos professores e na supervisão do trabalho dos professores”.

“O trabalho dos professores é totalmente decisivo para o sucesso escolar dos alunos, num contexto em que nós também sabemos que o principal preditor do sucesso escolar dos alunos é a escolaridade da mãe”, avançou.

“Num contexto de uma região autónoma onde as escolaridades são baixas, podemos esperar resultados baixos dos alunos e se nós queremos quebrar esse problema terá de ser por via do trabalho dos professores e da organização das escolas”, acrescentou.

Questionado sobre o programa Pro-Sucesso, implementado pelo anterior Governo Regional, o sociólogo reconheceu que teve “inúmeras coisas positivas e importantes”.

“É preciso de facto sobretudo organizar melhor e não tanto deitar fora um trabalho que já está feito, porque recomeçar será ainda pior”, apelou.

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