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Seca no Algarve. Autarcas defendem "quotas de acesso à água" para a agricultura

01 fev, 2022 - 16:58 • Beatriz Lopes

"É preciso repensar que agricultura se faz no Algarve", afirma à Renascença o presidente da Comunidade Intermunicipal. "O consumo de água para a população, para já, "não está em perigo, se em abril ainda chover como é habitual".

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Mais de metade da região do Algarve está, nesta altura, em seca moderada. Na barragem da Bravura já não é mais possível usar a água para fins agrícolas. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, António Pina, pede aos agricultores que se adaptem e repensem a forma como é feita a produção agrícola no Algarve.

"Não vai haver mais água no futuro do que aquela que temos hoje, quanto muito teremos a mesma água, mas vinda de outras fontes", alerta o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, que diz ver "com preocupação" a situação de seca que a região algarvia enfrenta.

Depois de o Governo ter decidido suspender o abastecimento de água para a rega a partir da albufeira da Bravura, em Lagos, António Pina diz compreender a medida e alerta que, "mais do que nunca", está na altura de repensar a agricultura que se faz no Algarve.

"O consumo humano, para já, não está em perigo, se em abril ainda chover como é habitual. A barragem da Bravura é de uso agrícola: 60% da água é consumida para fins agrícolas e 32% para fins humanos. Este é mais um alerta de que é preciso repensar que agricultura se faz no Algarve."

À Renascença, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve garante que alertas aos agricultores não têm faltado e sugere até que insistam "num sistema de quotas de acesso à água à semelhança daquilo que se faz na pesca".

"Quanto mais rapidamente os agricultores encararem a realidade de que não vai haver mais água e se adaptarem, mais depressa se resolve esta situação. Não podemos continuar a ter uma produção agrícola a pensar que a água é inesgotável, muito menos no Algarve. Até para defesa daqueles que já fizeram os seus investimentos, deviam exigir um sistema de quotas de acesso à água para se protegerem, porque esta atitude expansionista para uma água que não existe, põe em causa aqueles que já cá estão", alerta.

"Chuva" de milhões para enfrentar seca no Algarve

Mais de metade da região do Algarve está, nesta altura, em seca moderada e a expectativa dos autarcas e do Governo é que chova em fevereiro e em março para que ainda seja possível reverter o atual quadro de seca, repondo parte das reservas nas barragens e aquíferos. Mas este "é um problema de anos" que levou o Governo a colocar de parte 200 milhões de euros para o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve, enquadrado no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o que leva António Pina a ter "alguma esperança".

"No PRR estão previstas várias medidas para aumentar as fontes de água como uma central de dessalinização, mas esta é apenas para fins humanos. Inclui também a ligação do Pomarão a Odeleite e este uso pode ser partilhado também para a agricultura e estão também em campo alguns projetos para remodelar as redes de abastecimento agrícolas - que têm níveis altos de perdas - e a reutilização das águas residuais para os campos de golfe e também para as produções agrícolas que estão próximas destas ETARs."

Dessalinização, uma solução para a falta de água?

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve considera que a construção de uma central de dessalinização no Algarve, paga por verbas do PRR, "é um seguro de água", mas alerta que só dentro de "três meses" é que deverá estar definida a localização da central, que fica ainda ser sujeita a um estudo de impacto ambiental.

"Foi apresentado um pré-estudo de localização por parte das Águas do Algarve com sete hipóteses de localização que vão agora ser discutidas caso a caso com os municípios para percebermos as circunstâncias que condicionam a sua localização, seja o acesso à tubagem das águas do Algarve para captar água do mar, seja a própria proximidade com o mar, para depois avançarmos no projeto de execução. Esperamos que nos próximos três meses se defina uma ou duas localizações para depois irmos para o estudo de impacto ambiental."

A central de dessalinização do Algarve terá um investimento de 45 milhões de euros.

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