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Campanha nas redes. A semana em que Rio passou de personagem “simpática” a “autoritária”

27 jan, 2022 - 15:18 • Inês Rocha

A personagem genuína e simpática com que Rio marcou o início da campanha eleitoral deu, esta semana, lugar a discussões sobre o seu passado e a críticas sobre o seu lado mais autoritário. Uma “inversão” na imagem do candidato social democrata nas redes sociais, para o investigador Nuno Palma.

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Rui Rio tem sido um dos candidatos com mais destaque nas redes sociais, nas últimas semanas - em particular no Twitter. Mas se a primeira semana de campanha foi mais dominada por uma imagem positiva do candidato, para Nuno Palma, investigador do Media Lab do ISCTE, as coisas mudaram bastante nos últimos dias.

Nos primeiros dias de campanha, para o investigador, foi “tudo bastante favorável a Rui Rio” - desde uma ideia de haver uma “onda laranja” no país, com arruadas muito concorridas, à participação do gato Zé Albino na campanha, trazendo ao de cima o lado mais descontraído e genuíno do candidato do PSD.

Mas desta vez, “parece-me que houve uma inversão, ou seja, aquilo que está a por Rio no centro das redes esta semana são mais coisas relacionadas com a antiga antiga governação, o passado de Rui Rio”, diz o especialista à Renascença.

Tudo começou com a publicação do jornalista Paulo Moura no Facebook, em que recorda um episódio vivido em 2007, quando Rio era presidente da Câmara do Porto. A publicação teve bastante impacto nesta rede social, com cerca de 1400 partilhas.

Mas foi quando saltou para o Twitter, através de um jornalista, que o tema entrou realmente na campanha. “Acabou por marcar o dia porque depois saltou para as perguntas da campanha, ou seja, os jornalistas na ação de campanha de Rio acabaram por interrogá-lo sobre isso. É mais um daqueles casos em que das redes sociais as coisas emergem para o centro da agenda mediática”, explica Nuno Palma.

O tema acabou por escalar entretanto - “a oposição parece-me tentar mostrar um outro lado de Rui Rio que não é aquele que nós temos visto nesta campanha”, diz o investigador.

“Os próprios comentadores têm caracterizado o perfil como sendo esta personagem genuína e simpática que foi a personagem da campanha, mas efetivamente as redes tentaram ir buscar a outra personagem que conhecemos de há muitos anos , o Rui Rio presidente da Câmara, o político e por isso acho que Rio continua a estar no centro das atenções para o mundo do Twitter, mas acabou por ser por motivos diferentes”.

Uma luta de “claques” políticas

A campanha eleitoral tem evidenciado o caráter polarizador das redes sociais, para o investigador.

“Isso tem-se sentido, começou logo nos debates, que acabaram por ser interessantes para nós vermos que não eram tanto as ideias que eram trazidas para a discussão, era sim um género de confronto de claques”, considera o professor.

Discutia-se mais quem ganhou o debate e menos as ideias. “Acho até que, quando acabaram os debates houve mais alguma discussão online sobre ideias concretas, à medida que os partidos iam fazendo declarações sobre determinada medida, sobre determinada proposta. Nos debates essa polarização foi muito grande”, diz o investigador.

Esta semana, essa polarização voltou a notar-se, com acusações de parte a parte, da esquerda à direita e vice-versa.

Nuno Palma ressalva que “é sempre difícil nós conseguirmos arranjar aqui uma relação de causalidade entre aquilo que se passa nas redes e a intenção de voto das pessoas”, mas admite que as redes sociais possam tem contribuído, nos últimos anos, para uma maior fragmentação do Parlamento, por dar palco a partidos que, de outra forma, não teriam tanto espaço mediático.

Ainda assim, lembra, “quando nós comentamos estas questões das redes sociais e as discussões que vão havendo no dia-a-dia, não conseguimos medir exatamente o impacto que isso vai ter no voto dos eleitores”.

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