Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Rogério Samora. País chora morte "precoce" de um ator com "presença forte"

15 dez, 2021 - 16:07 • Maria João Costa e Teresa Paula Costa, com Lusa

Personalidades públicas, amigos e colegas de trabalho recordam profissionalismo do ator que partiu esta quarta feira aos 63 anos.

A+ / A-

O Presidente da República lamentou esta quarta-feira a "morte precoce de Rogério Samora” que considerou “um dos mais carismáticos atores da sua geração".

Em comunicado publicado no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa refere que se trata de “uma grande perda para os seus familiares e amigos, mas também para o público português de teatro, cinema e televisão, que nele encontrou, há décadas, um intérprete de eleição".

"Rogério Samora fez teatro nos anos 80, com Filipe La Féria e Carlos Avilez, tendo trabalhado também com João Lourenço e Luís Miguel Cintra, entre outros; filmou com Manoel de Oliveira, José Fonseca e Costa, António-Pedro Vasconcelos, João Botelho ou Miguel Gomes, tendo-se notabilizado no «Delfim» de Fernando Lopes, onde encarou com brilhantismo um arquétipo do homem português de outras épocas já fora de época. E foi uma das mais constantes presenças em séries e telenovelas, somando ao reconhecimento a popularidade."

Para o Presidente da República, Rogério Samora "era uma presença forte, afirmativa, um ator que deixou marca, em particular no registo por natureza mais perene, que é o do cinema, o que permitirá às gerações futuras entender a admiração e a estima que por ele tiveram os espectadores do nosso tempo".

Um dos mais destacados atores portugueses, diz António Costa

Também o primeiro-ministro lamentou a morte de Rogério Samora, que classificou como "um dos mais destacados atores portugueses", enviando as condolências à sua família e amigos.

Na sua conta da rede social Twitter, António Costa escreveu que recebeu “a triste notícia de que nos deixou Rogério Samora, um dos mais destacados atores portugueses.”

O governante recordou a sua interpretação em "O Delfim", de Fernando Lopes, entre outras que ficam na história do cinema português” e deixou “as mais sentidas condolências à sua família e amigos”.

Um dos mais completos atores da sua geração

Também numa reação através da rede social Twitter, a ministra da Cultura lamentou “profundamente” a morte de Samora, recordando o seu trabalho junto do público, quer em teatro, televisão ou cinema, como um dos atores mais completos da sua geração.

Numa mensagem publicada nas redes sociais, Graça Fonseca afirmou que "numa carreira que o tornou uma presença permanente junto do público português, seja no teatro, no cinema ou na televisão, o talento de Rogério Samora fizeram-no destacar-se como um dos mais completos atores da sua geração".

"Na sua voz e nos seus gestos, as complexidades, os matizes e as contradições da natureza humana ganhavam uma dimensão única, que o público português e os seus pares sempre reconheceram", referiu a ministra da Cultura na nota de pesar.

Um ator de forte personalidade

Carlos Avilez, diretor do Teatro Experimental de Cascais recorda o ator Rogério Samora, que hoje morreu aos 63 anos, como “um ator de forte personalidade”.

Num testemunho à Renascença, Carlos Avilez, que trabalhou com Samora em peças como "Hamlet" de Shakespeare ou "Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente" de Natália Correia, classificou o ator como uma “pessoa de uma presença, força e qualidade muito grandes”.

O encenador lembra também “um amigo”, e “um homem de esforço” que sempre pensou “iria reagir e fazer esta luta terrível com a morte, que é uma luta inglória.”

Diogo Infante. O meio artístico fica mais pobre

Também o ator Diogo Infante lamentou hoje "profundamente" a morte do ator Rogério Samora, considerando que o meio artístico "fica mais pobre".

Num comentário na sua página da rede social Instagram, Diogo Infante referiu que, embora os caminhos entre os dois atores se tenham cruzado "pouco", lamenta "profundamente que o Rogério tenha partido tão prematuramente".

Um ator muitíssimo empenhado

Para Pedro Penim, diretor do Teatro Nacional D. Maria II, Rogério Samora era um ator "muitíssimo empenhado e muito obstinado”. Queria “fazer o melhor todos os dias e ensaiar muito”, ouvindo muito o que os colegas tinham para dizer e preocupando-se muito com o espetáculo, diz à Renascença.

Considerando “louvável” a forma como Samora defendia o espetáculo, Pedro Penim revela que o ator tinha outra faceta, “um lado mais frágil da sua personalidade” que “precisava muito do amor do público e dos colegas.”

“Era alguém que procurava constantemente essa aprovação dos outros e que muitas vezes se desiludia por precisa tanto desse aval e dessa mão amiga”, acrescenta o diretor.

A última vez que Samora pisou o palco de um teatro foi precisamente no D. Maria II, na peça “Worst off”, encenada pelo coletivo Teatro Praga, então dirigido por Pedro Penim, e que subiu ao palco em 2018.

“Durante os ensaios, o Rogério ia repetindo de forma quase profética que achava que aquele seria o seu último espetáculo de teatro e, de facto, assim foi”, conta Pedro Penim. “Uma espécie de fechamento de ciclo em relação à forma como começou no teatro”, dizia na altura Samora, adianta Pedro Penim.

Rogério Samora, que estava em coma desde agosto, depois de ter sofrido uma paragem cardiorrespiratória nas gravações da telenovela "Amor, Amor", em exibição na SIC, morreu hoje no Hospital Amadora-Sintra, para onde tinha sido transportado na segunda-feira.

Rogério Samora contava mais de 40 anos de carreira, com um percurso marcado pela participação em dezenas de telenovelas e outras produções televisivas, como "Nazaré" e "Mar Salgado", da SIC, "Flor do Mar" ou "Fascínios", da TVI, depois de se ter estreado em televisão, na RTP, em 1982, em "Vila Faia".

O percurso de Rogério Samora teve, porém, início no teatro, na antiga Casa da Comédia, e apresenta alguns dos seus mais importantes papéis no cinema, em filmes de Fernando Lopes e de Manoel de Oliveira.

Nascido em Lisboa, em 28 de outubro de 1958, fez o curso de Teatro do Conservatório Nacional, e estreou-se no final da década de 1970, na peça "A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini", de René Kalisky, levada a cena na Casa da Comédia, sob a direção de Filipe La Féria. O desempenho valeu-lhe o seu primeiro prémio, em 1981, o de Ator Revelação, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+