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Milhares de alunos ainda sem aulas. "Hoje ninguém quer ser professor"

07 nov, 2021 - 12:31 • Marina Pimentel , Fátima Casanova

O presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas diz que na próxima década 58% dos docentes vão aposentar-se, sendo urgente renovar a classe.

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A falta de professores está a agravar-se. As escolas já estão a meio do primeiro período e ainda há milhares de alunos sem os professores todos.

Os estabelecimentos de ensino têm quase 550 horários completos e anuais por preencher - mais de metade deles no distrito de Lisboa.

Filinto Lima, presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, avisa que a tendência é de um agravamento. “A escassez de professores é um fenómeno que não é só nacional… é a nível mundial. Mas, no nosso país, esta a acentuar-se de ano para ano.”

Segundo este responsável, apesar de os diretores das escolas mitigarem o problema, porque atribuem serviço extraordinário a pessoas dos quadros e aumentam o número de horas dos professores contratados. “Neste momento, ainda há turmas que não têm o respetivo professor.”

Revela à Renascença que esta década 58% dos docentes vão aposentar-se, sendo urgente renovar a classe. “Portanto, corremos o risco de não termos professores. Eu até penso que a próxima pandemia no sector da educação será a falta de professores.”

Na sua opinião, esta situação está relacionada “com um problema estrutural, que é a falta de atratividade da carreira docente”.

“Os nossos jovens não querem enveredar por esta carreira. Hoje ninguém quer ser professor.

Horários sem candidatos no concurso nacional

Todas as semanas há horários que transitam para as escolas depois de ficarem sem candidatos no concurso nacional

Na sexta-feira foram colocados 283 professores contratados na reserva de recrutamento número 10. Fazendo as contas, desde o inico de setembro já foram colocados mais de 15.736 professores a que se juntam mais de 6.500 docentes que foram colocados, logo em agosto, na contratação inicial.

Esgotadas essas possibilidades, os horários passam para contratação de escola. Pelas contas do professor Davide Martins, no blogue DeAr Lindo, especializado em educação, dos 547 horários em contratação de escola, 95% estão concentrados em três distritos: Setúbal, Faro e com claro destaque Lisboa, que tem 307 horários disponíveis, metade deles na disciplina de informática.

Há também falta de docentes, entre outras disciplinas, de físico-química, português, matemática e inglês.

Comentários
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  • Pierre Ivaucher
    10 nov, 2021 Maia 20:39
    O José Ferreira disse tudo. Mau planeamento dos diversos governos, desvalorização da carreira, condições de trabalho inconcebíveis, tretas pedagógicas apadrinhadas por arianas, desrespeito sucessivo de alunos e famílias, formação inicial a perder toda a qualidade que teve. Enfim, desastre à vista.
  • JOSE FERREIRA
    08 nov, 2021 Maia 15:53
    Era previsível e foi previsto em devido tempo, os responsáveis políticos é que não quiseram ouvir. E agora como vai ser? Aumentar salários? Economicamente faria todo o sentido, já que o factor multiplicador da profissão docente - a riqueza produzida no futuro por cada euro pago hoje em salários - é um dos mais altos de entre todas as profissões. Mas não faria sentido financeiramente, porque as contas do Estado são calculadas anualmente e não de geração em geração. Qualquer aumento de salários presentes e/ou futuros - e terá de o haver - ficará muito aquém do necessário. De modo que terá de haver outras formas de compensação. Muito menos trabalho burocrático será uma delas, mas terá de incluir a abolição total do "trabalho da treta" a que os professores estão obrigados. Não há nada mais desmoralizador para qualquer trabalhador do que o trabalho inútil, mesmo quando é bem pago; e o dos professores nem bem pago é. Trabalho útil. para um professor, é ensinar. Deixem os professores ensinar - o mais livres possível de tudo o que não seja ensinar, e livres nomeadamente das inúmeras formas de charlatanice pedagógica que a tutela sempre acolheu entusiasticamente e para financiar as quais nunca lhe faltou, misteriosamente, dinheiro a rodos.

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