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​Jornada Memória e Esperança. Três dias para lembrar as vítimas da Covid e “tirar lições”

22 out, 2021 - 06:50 • Liliana Monteiro

A iniciativa arranca esta sexta-feira e procura mobilizar a sociedade civil para homenagens às vítimas da Covid-19, famílias e reconhecimento de todos os que lutaram para ajudar o outro em tempos de pandemia. Iniciativa desafia comunidades de norte a sul a expressarem solidariedade e a olhar para o futuro em conjunto.

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Foto: Mário Cruz/Lusa
Foto: Mário Cruz/Lusa

"Ninguém será esquecido". Esta sexta-feira, sábado e domingo haverá desfiles, sinos das igrejas ou bandas de música a tocar ao meio-dia, casas iluminadas com velas em sinal de homenagem às vítimas mortais da Covid-19, às pessoas que ainda sofrem com o vírus e aos profissionais das mais diversas áreas que estão a ser fundamentais nesta pandemia.

A iniciativa nasceu na sociedade civil e a ela é dirigida. A Jornada de Memória, Luto e Afirmação da Esperança surgiu de um movimento com 100 assinaturas, mas que hoje conta com muitas mais, entre elas a do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Ninguém será esquecido. Responde à procura de reconhecer e de dar visibilidade aos sofrimentos e fragilidades, mas também aos momentos de superação individual e coletiva que todos testemunhamos e protagonizamos em algum momento nesta pandemia”, explica Inês Espada Vieira, vice-presidente do Centro de Reflexão Cristã, que faz parte da comissão promotora.

Além da homenagem às vítimas e reconhecimento a quem nunca conseguiu fazer uma pausa durante a pandemia, há uma dimensão nesta iniciativa que é a da afirmação da esperança.

“Movimento de valorização do que se pode e se deve fazer”

Laborinho Lúcio é outra das personalidades que se junta a esta jornada. O ex-ministro da Justiça e juiz conselheiro jubilado considera que, “no fundo, pretende-se dar um sinal de esperança por parte de um movimento cívico de cidadãos”.

O ex-ministro e escritor destaca a importância da iniciativa para “conservar a memória, mas também alimentar a esperança de que há um mundo à frente e um futuro para construir e aproveitar o que a pandemia gerou entre nós, como movimentos de solidariedade”.

Desde a chegada da pandemia a Portugal, em março do ano passado, estão confirmadas 18.117 mortes, um milhão e 82 mil casos e um milhão e 34 mil recuperados.

Grande parte das vítimas sofreu sozinha, morreu longe dos seus e sem possibilidade de um último adeus.

“Não podemos esquecer os seus familiares e amigos, sobretudo os que não puderam acompanhar e despedir-se dos doentes hospitalizados ou institucionalizados, e de todos aqueles que nem sequer puderam fazer-lhes o funeral”, refere o manifesto da Jornada Nacional Memória e Esperança 2021.

Para Laborinho Lúcio, com o isolamento e a Covid-19 “passámos a dar relevância a outro tipo de profissões como as menos óbvias de recolha do lixo e que no confinamento foi essencial”.

O magistrado deixa claro que este movimento cívico “não pretende ser um movimento de crítica relativamente ao que não se fez, mas um movimento de valorização do que se pode e se deve fazer”.

O que pode ficar desta iniciativa? Inês Espada Vieira, professora na Universidade Católica Portuguesa, espera que “fique uma sensação de serenidade, paz, justiça e uma fortíssima afirmação de esperança na juventude e nos mais velhos no que podemos aprender como sociedade e não voltar ao velho normal e tirarmos lições”.

“Se passarmos por isto sem tirar lições então foi uma tremenda falta de oportunidade de podermos crescer”, adverte Inês Espada Vieira.

A professora catedrática sublinha que “a união faz a força, tudo está interligado e sozinhos não chegamos tão longe”.

Como participar?

As iniciativas da Jornada Memória e Esperança deverão ser organizadas de forma livre e ter um carácter aberto, plural e inclusivo, podendo assumir formas como celebrações cívicas, celebrações religiosas/ecuménicas, concentrações, desfiles, vigílias, tempos (minuto) de silêncio, cordões humanos, instalações artísticas, sessões musicais ou performativas de dança, poesia, teatro ou murais.

Os mentores da Jornada consideram que é preciso “trazer à superfície a condição humana e sermos capazes de não esquecer quem sofreu e nos deixou, quem caiu em situação de pobreza e precisa de atenção especial”. Quer-se ao mesmo tempo “criar essa energia forte de que o futuro está aí e todos nos empenhamos nele e queremos que seja risonho”.

Os interessados em participar na Jornada de Memória, Luto e Afirmação da Esperança podem consultar as iniciativas previstas, por região, através do site Memória e Esperança.

Em Lisboa, no domingo às 16h00, planta-se uma árvore na Cidade Universitária, onde foi montado o primeiro hospital de campanha e centro de vacinação, o mesmo acontece às portas do Hospital de Santa Maria, uma iniciativa que contará com a presença do Presidente da República.

No Santuário de Fátima, além de vários momentos de oração previstos, no próximo sábado ao meio dia os sinos tocam alinhados, num episódio raro. Uma iniciativa que vai ser seguida por várias dioceses do país.

No próximo domingo há um apelo dirigido a todos, estejam onde estiverem, para que às 14h00 parem por um minuto e façam silêncio lembrando os que partiram.

Já esta sexta-feira, a Assembleia da República deverá aprovar um voto de congratulação pela Jornada de memória das vítimas da Covid-19.

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