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Marinha

Alegados abusos na Escola Naval. Mãe de cadete relata ambiente de "praxe constante"

20 out, 2021 - 21:40 • Lusa

"Pior do que a parte física é realmente a parte psicológica”, conta esta mãe, que denuncia, ainda, episódios de privação do sono, em que os cadetes alegadamente são forçados a praticar atividades físicas durante a noite.

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A mãe de um dos cadetes do primeiro ano da Escola Naval relatou que o filho sofreu abusos físicos, "mas sobretudo psicológicos", enquanto frequentou esta instituição, num ambiente de “praxe constante” entre alunos.

À agência Lusa, esta mãe de um aluno que tem agora 18 anos - e pediu para não ser identificada por recear repercussões para o filho - relatou um ambiente de “praxe constante” entre cadetes mais velhos e mais novos nos poucos meses em que o filho frequentou esta instituição .

Na noite de terça-feira, já a Marinha tinha divulgado um comunicado em que admitia ter tido conhecimento de uma denúncia sobre “alegados comportamentos abusivos” praticados entre cadetes da Escola Naval, tendo iniciado diligências para averiguar a “veracidade dos factos relatados e eventuais responsabilidades”, sem adiantar mais pormenores.

“Eu não tinha a noção, não tinha conhecimento de um centésimo do que se passava lá dentro, senão nunca na vida teria ficado até este ponto, o meu filho saiu hoje”, disse.

Segundo o relato feito pelo seu filho, “pior do que a parte física é realmente a parte psicológica” e “as ameaças que recebem são muitas, inclusive de não contar em casa o que se passa lá”.

Uma das situações indicadas por esta mãe à Lusa está relacionada com uma privação do sono, em que os cadetes alegadamente são forçados a praticar atividades físicas durante a noite.

De acordo com este relato, os castigos entre cadetes eram “constantes”, sendo tanto físicos como psicológicos, como por exemplo saber informações sobre determinados alunos e responder a perguntas. Às refeições, adiantou, eram “bombardeados” com questões de todo o tipo.


“Ele diz, ‘não sabemos se é pior sentarmo-nos para comer, se é pior mandarem-nos fazer trinta flexões, se é pior termos que nadar durante a noite e dormirmos com os fatos molhados porque não nos deixam trocar de roupa quando chegamos ao quarto. Se é pior fazerem-nos deitar na cama mas sem colchão, as poucas horas que dormimos é em cima de um estrado ou molhados”, relatou.

Esta mãe adiantou ainda que o seu filho testemunhou alunos a levarem “pontapés” dos mais velhos por não estar “na posição correta” em certos exercícios e noutros casos a receberem “cuspidelas na cara”.

"Ele vai para um psicólogo, estou a tratar disso, porque ele diz que não é a mesma pessoa que lá entrou e não sabe se alguma vez o será", disse.

De acordo com o relato deste filho à sua mãe, "toda a gente dentro da Escola Naval tem conhecimento do que se passa".

“Em pleno século XXI isto não cabe na cabeça de ninguém. Eles estão a tentar transmitir valores e eu acredito muito nos valores das Forças Armadas, eu sou familiar de um militar, mas isto não são valores que estão a transmitir”, considerou.

A agência Lusa tentou entrar em contacto com a Marinha mas não conseguiu obter esclarecimentos sobre esta questão.

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  • Petervlg
    21 out, 2021 Trofa 07:47
    Ninguém é obrigado a ir.

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