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4 anos depois

Incêndios de outubro. “Houve uma total falta de gestão dos dinheiros públicos”

15 out, 2021 - 10:36 • Carla Fino , Marta Grosso

Estão por cumprir muitas das promessas feitas em 2017. Há primeiras habitações ainda por construir. Nuno Tavares Pereira, do Movimento Associativo de Apoio às Vítimas, sublinha na Renascença que os concelhos afetados “trazem riqueza ao país”.

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Neste dia 15 de outubro, há quatro anos, o país acordava para mais uma tragédia num ano que já marcado por um grande incêndio em Pedrógão Grande. A região Centro voltava a ser devastada pelos incêndios, por causa dos quais morreram 50 pessoas e mais de 70 ficaram feridas. Prometeu-se apurar responsabilidades, reconstruir e ajudar a população. Mas o balanço não é positivo.

“Existem ainda muitas famílias que nunca tiveram a primeira habitação que tinham; existem pessoas na parte agrícola que nunca tiveram qualquer apoio – estamos a falar de apoios e de medidas contempladas, quer pela União Europeia quer pelo nosso Governo, quer até pelas autarquias locais”, afirma à Renascença Nuno Tavares Pereira, do Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões.

Nuno Tavares Pereira faz ainda uma denúncia grave: “ainda existem autarquias com dinheiro dos portugueses em contas solidárias que nunca foram entregues às pessoas. E passaram quatro anos”.

E mais. “Existem obras que foram feitas na parte da habitação que nunca foram concluídas e as pessoas tiveram de pagar a água e a luz do seu bolso, quando isso não estava previsto – o que estava previsto era ser a CCDR a assumir”.

“Foi feito tão pouco quando os milhões davam para tudo”

Durante todos estes anos, o Movimento procurou respostas, fez o levantamento das necessidades e encontrou falhas que não compreende no processo de reconstrução.

“Foram feitas habitações que nunca deveriam ter sido feitas – ou porque as pessoas já tinham falecido ou porque estavam em zona de risco, mas foram feitas. E depois existiram outras que não foram feitas”, avança Nuno Tavares Pereira.

Na opinião deste responsável do Movimento de Apoio às Vítimas, “houve uma incompetência das pessoas que estavam a gerir todo o processo, quer na parte da agricultura quer na parte da indústria quer na parte da habitação. Ainda hoje existem muitas coisas que nunca foram feitas e foram chumbadas e depois não se consegue saber porquê”.

Mas aquilo que deixa Tavares Pereira mais apreensivo “é que foram gastos milhões” quando “foi feito tão pouco” e “quando aqueles milhões davam para tudo”.

“Houve, portanto, uma completa falta de gestão dos dinheiros públicos e é isso que tem de ser chamado à atenção e fiscalizado e saber-se o porquê. Porque existem culpados”, considera.

Pedrógão Grande. Os incêndios de 15 de Outubro apagaram a esperança de Sandra
Pedrógão Grande. Os incêndios de 15 de Outubro apagaram a esperança de Sandra

“O país tem de ser repensado”

O incêndio de 15 de outubro de 2017 atingiu perto de 40 municípios, sobretudo no Centro do país. Além das vítimas, foram destruídas pelo fogo mais de 800 casas de primeira habitação e perto de 500 empresas.

Nuno Tavares Pereira diz que a região ficou ainda mais esquecida, apesar de ser das zonas do país como maior potencial de produção.

“Estes concelhos todos afetados pelos incêndios de outubro, se fizermos bem a contas, exportam mais de 2000% do que aquilo que compram, porque têm uma capacidade exportadora enorme e na balança comercial do país são interessantes, porque trazem riqueza – quando temos concelhos que compram mais do que o que vendem. Nós aqui é ao contrário. Portanto, o país tem de ser repensado num todo, porque é muito pequeno, é fácil”, defende.

Nestas declarações à Renascença, o representante do Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões critica a “balança de apoios para muito investimento no litoral, muitos investimentos grandes em zonas que já têm muito investimento” sem haver “investimento no interior e nas ligações para o interior para que as pessoas possam ir mudando e equilibrar o país”.

Os incêndios destruíram 220 mil hectares de território, dos quais 190 mil de floresta.

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