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​Professores contratados. Com “casa às costas” e a pagar para trabalhar

14 set, 2021 - 12:50 • Fátima Casanova

Todos os anos há milhares de professores que saltam de escola em escola. Só este ano letivo já foram colocados mais de 15.500 professores. Procuram um horário completo e anual, mesmo que para isso tenham de concorrer a muitos quilómetros da sua residência.

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Todos os anos, Afonso Cardoso tem tido uma morada diferente. Este professor de Economia, residente em Viseu, diz sem hesitar que “anda de casa às costas para poder dar aulas”.

Já percorreu o país de norte a sul, “esta vida já tem 20 anos”, diz Afonso Cardoso, “já percorri desde o distrito de Braga, Cabeceiras de Basto, até Tavira, já andei pelo Alentejo, Campo Maior e Aljustrel, pela zona de Lisboa e do Porto”.

Neste ano letivo, Afonso Cardoso ficou colocado em Alcácer do Sal. É um novo destino, mas com as despesas do costume: em deslocações e alojamento. “A renda de casa, no mínimo são 300 euros”. Este professor diz que “nunca se consegue menos do que isso” e por um quarto, na Amadora, chegou a pagar 400 euros.

Depois a viagem para Viseu fica em 100 euros: 40 para portagens mais 60 para o gasóleo. Este docente vai duas vezes por mês a Viseu, para estar com a família, por isso, “são 200 euros em deslocações”. Fazendo as contas, aos 300 euros de alojamento e aos 200 de deslocações, “metade do salário está gasto”.

“Pagar para trabalhar”

O mesmo acontece com Madalena Garrido, residente em Vila do Conde. Esta educadora de infância foi colocada na Amadora, a mais de 340 quilómetros de casa.

Quanto a contas, já as sabe de cor: “o salário é de 1.140 euros líquidos, 300 euros por um quarto e 200 para deslocações em transporte público”.

No final do mês, Madalena Garrido para alojamento e deslocação gasta 500 euros. “Nós sabemos à partida que 500 euros têm de ser retirados do nosso salário líquido para podermos trabalhar”, diz esta educadora de infância que partilha um apartamento com mais duas colegas.

Madalena Garrido, de 50 anos, começou a concorrer para longe de casa há três anos, depois “da vida familiar estar mais estabilizada”.

Esteve a trabalhar durante 10 anos numa creche, mas neste caso, o tempo de serviço não é contabilizado para graduação profissional, por isso, sabe que, para ter um horário completo e anual, tem de concorrer para regiões do país com mais vagas, como acontece no Quadro de Zona Pedagógica 7, que corresponde à zona de Lisboa e Península de Setúbal ou até para o Algarve.

Um esforço que os professores contratados esperam ver compensado. De acordo com a norma travão, os docentes que cumprem três contratos seguidos em horário completo e anual, têm direito a ganhar um vínculo ao Estado.

Esta terça-feira é o início do regresso dos alunos às escolas, que se prolonga até dia 17 de setembro.

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