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Morte de Otelo vista de Madrid

"Portugal convive melhor com o 25 de Abril do que com os capitães que o tornaram possível", escreve o jornal "El País"

04 ago, 2021 - 15:13 • João Carlos Malta

Diário espanhol escreve sobre como a morte de Otelo Saraiva de Carvalho pôs o país a pensar sobre a forma como olha para os militares que fizeram a revolução de abril.

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"Portugal convive melhor com a Revolução dos Cravos do que com os capitães que a tornaram possível", escreve o jornal "El País", na edição online.

O artigo tem como ponto de partida a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, a 25 de julho, ele que foi o estratega da ação militar que a 25 de abril de 1974 pôs fim a uma ditadura de 48 anos.

O jornal espanhol, com sede em Madrid, diz que o desaparecimento de Otelo alimentou o debate sobre o tipo de reconhecimento oficial dos militares que possibilitaram a chegada da democracia a Portugal e a independência das ex-colónias africanas.

O "El País" escreve ainda que Otelo Saraiva de Carvalho "despertou na hora da morte as mesmas paixões conflituosas que gerou em vida". O períodico espanhol reconhece que quase ninguém contesta o papel do militar no sucesso na revolução de 1974, mas refere que alguns dos episódios seguintes da vida do capitão de abril são alvo de forte controvérsia, especialmente a participação no grupo terrorista FP-25 − que causou 17 mortes e foi responsável por 108 roubos nos sete anos de existência (1980-1987 )

Otelo foi condenado a 15 anos por envolvimento na organização e posteriormente anistiado pelo Parlamento.

O peso simbólico da Revolução dos Cravos, segundo a historiadora Maria Inácia Rezola, é enorme. Estima-se que cerca de 1.500 ruas e praças evoquem o dia 25 de abril. "A ponte sobre o rio Tejo destaca-se pelo seu simbolismo, que mudou do nome do ditador Salazar para a data histórica em que terminou com o seu legado. A rebelião é muito evocada, mas os rebeldes menos", considera.

“O dia 25 de abril foi uma ação coletiva e muitos estiveram envolvidos na preparação e execução do golpe que derrubou a ditadura. É muito difícil homenagear ou preservar a memória dos protagonistas sem correr o risco de ser injusto e esquecer atores importantes ”, indica Rezola em respostas por e-mail ao "El País".

Já Vasco Lourenço faz uma distinção entre reconhecimento popular e o reconhecimento institucional. “O povo português expressa-nos o seu apreço de forma permanente, até o notamos na rua. As instituições têm duas atitudes distintas: formalmente mostram muito apreço, mas isso materializa-se em muito pouco ”, afirma o presidente da Associação 25 de abril.

No mesmo artigo recorda-se ainda que em 1988, o Governo de Aníbal Cavaco Silva bloqueou a concessão de pensões aos militares de abril, algo que concederia alguns anos mais tarde a dois inspectores da PIDE.

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