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Incêndio de Pedrógão foi há quatro anos. “A memória continua viva”, diz Patrícia Gaspar

17 jun, 2021 - 07:48 • Pedro Filipe Silva , Marta Grosso

A atual secretária de Estado da da Administração Interna (segunda Comandante Operacional Nacional em 2017) diz à Renascença o que mudou desde então e sublinha que “mudar um país ou um sistema em quatro ou cinco anos é impossível”.

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Assinalam-se nesta quinta-feira, dia 17 de junho, quatro anos da tragédia de Pedrógão Grande, que provocou a morte a 66 pessoas e deixou 254 feridas. Arderam então cerca de 53 mil hectares.

Em entrevista à Renascença, Patrícia Gaspar, atual secretária de Estado da Administração Civil, diz que parece que foi ontem.

“Confesso que continua aquela sensação de que foi ontem. Ou seja, passou muito tempo, mas a memória continua viva como se não tivesse passado este tempo. O distanciamento faz-nos olhar para os acontecimentos, não digo com outra frieza, mas se calhar com outra clareza, porque a emoção não está tão à flor da pele, mas Pedrógão vai manter-se sempre na nossa memória e, sobretudo, de quem ainda continua a exercer funções nesta área, embora com um espectro diferente, com uma natureza diferente”, admite.

“É inevitável lembrar Pedrógão, não digo todos os dias, mas com muita muita frequência”, acrescenta.

Nesta entrevista, sublinha que desde 2017 a aposta tem sido na prevenção e avisa que o trabalho que tem sido desenvolvido vai dar frutos a médio e longo prazo.

“Há processos que são mais fáceis de implementar, que se consegue com mais rapidez trazer resultados à luz do dia. Temos neste momento novas leis orgânicas dos principais serviços, quer ao nível da Proteção Civil quer ao nível do ICNF; temos um sistema de aviso e alerta já a funcionar com outra capacidade do que existia – conseguimos neste momento emitir avisos muito direcionados para a população em geral –; temos um dispositivo na área do combate mais robustecido, em concreto este ano temos de facto o maior dispositivo dos últimos anos; temos uma execução financeira muito mais equilibrada, temos um rácio que neste momento aponta 55% do dinheiro que é anualmente colocado nesta questão vocacionado para a prevenção e 45% vocacionado para o combate, quando em 2017 esta diferença era 80% para o combate e 20% para a prevenção”, aponta.

Patrícia Gaspar recusa, por isso, demora na implementação das medidas anunciadas para a área da prevenção dos incêndios.

“Estes são os prazos normais de implementação de sistemas ou de programas de transformação desta complexidade. É impensável dizer – nem nunca isso foi prometido – que conseguiríamos mudar um país ou um sistema em quatro ou cinco anos. É impossível”, destaca.

“O plano nacional, por exemplo, que há relativamente pouco tempo foi aprovado para a gestão integrada dos fogos rurais é um programa a 10 anos; o plano nacional de ação é um plano com mais de 100 medidas a 10 anos e, portanto, nós temos de dar tempo ao tempo”, afirma.

A secretária de Estado da Administração Civil não consegue, por outro lado, indicar para já se o Programa Aldeia Segura já evitou problemas maiores junto da população.

Já vamos em mais de três mil incêndios

Neste ano, já foram registados perto de 3.300 incêndios – mais mil que no ano passado. A área ardida ultrapassa os 11 mil hectares, o triplo de 2020.

No entender de Patrícia Gaspar, os números mostram que é preciso continuar a insistir com a população rural para mudar comportamentos.

“Estamos a falar de práticas ancestrais, de uso do fogo sobretudo nas áreas rurais. E aqui temos de continuar o trabalho que já iniciámos, que passa muito pelas ações de sensibilização de proximidade, nomeadamente através da Guarda Nacional Republicana, mas também através dos bombeiros”, defende.

“Passa muito por conseguir explicar que há alternativas a fazer queimas e queimadas nas alturas em que elas não devem ser feitas, ou seja, o fogo pode continuar a ser usado, mas não em determinadas circunstâncias, não sem o acompanhamento devido. Mas aqui trata-se de mudar radicalmente a forma como populações no interior viveram e trabalharam durante anos”, acrescenta.

“Há mudanças que se conseguem por decreto, há mudanças que se conseguem com o tempo e muita insistência”, conclui.

Patrícia Gaspar era, na altura do grande incêndio de Pedrógão Grande, a segunda Comandante Operacional Nacional da Proteção Civil.

Pedrógão Grande. "Foi uma coisa de repente que passou e que parecia o diabo"
Pedrógão Grande. "Foi uma coisa de repente que passou e que parecia o diabo"

[Notícia corrigida às 9h40 na designação do cargo de Patrícia Gaspar no Governo]

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