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Opinião de João Costa

Os rankings e os Irmãos Dalton

21 mai, 2021 - 00:00

O Ministério da Educação tem vindo a disponibilizar um conjunto de instrumentos e indicadores que nos dizem muito sobre a qualidade de cada escola, a partir de dados absolutos e relativos e nos ajudam a perceber o quanto as escolas contribuem para contrariar o determinismo social em educação.

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Há cinco anos e meio no Governo, parece-me já uma tradição explicar as razões para não ter consideração pelos rankings de escolas que se limitam a fazer uma lista ordenada de estabelecimentos em função de uma média final de notas em exames.

Visão pobre (porque diz mais sobre as coortes de alunos do que sobre as suas escolas), fragmentada (porque ignora que as escolas fazem muito mais do que trabalhar para quatro notas finais de uma prova externa), opaca (porque a transparência nunca é conseguida com dados limitados), indutora de preconceito (porque agiganta o “nós” e “eles” do sistema educativo).

Sobre tudo isto já falei e escrevi, pelo que me focarei num outro aspeto: os efeitos ilusórios dos rankings.

Os que gostam de banda desenhada passam uma fase da vida acompanhados pelos Lucky Luke e pelos seus eternos fugitivos e sempre capturados Irmãos Dalton. Geralmente, os quatro irmãos aparecem em fila, vestidos de igual e com a cara igual, alinhados de acordo com a sua altura. Cristalizamo-los na memória desta forma, mas só conhecemos bem o Joe e o Averell, o mais baixo e o mais alto. Percebemos rapidamente que destreza intelectual e grandeza são inversamente proporcionais e que o que fica em primeiro lugar em centímetros é o que menos acompanha os planos de evasão e fuga do mais baixo.

Os Irmãos Dalton ilustram bem o retrato desfocado e ilusório que os rankings podem alimentar da escola. Apenas alinham por valores absolutos as escolas, a partir de uma pose alinhadinha para o retrato de um dia (o da prova), sem ir ao fundo da destreza e das capacidades de cada escola em situações em que a evasão e a fuga do que parece inevitável se assumem como prioridade central.

Joe Dalton não olha para a prisão como uma fatalidade e faz planos, desenha estratégias, planifica com os outros e, mesmo quando falha, não hesita em voltar a tentar. A sua altura relativa não reflete o trabalho acrescido que faz. A pequenez à primeira vista faz-se maior.

O Ministério da Educação tem vindo a disponibilizar um conjunto de instrumentos e indicadores que nos dizem muito sobre a qualidade de cada escola, a partir de dados absolutos e relativos: resultados escolares por disciplina, percursos diretos de sucesso, conclusão dos percursos em tempo esperado, informação sobre iniciativas das escolas e, desde este ano, o indicador de

equidade, que nos ajuda a perceber o quanto as escolas contribuem para contrariar o determinismo social em educação.

Muitos destes indicadores não permitem retratos com todos alinhados por alturas. Mas ganham em transparência, porque sabemos o que se planeia, pensa e executa, mesmo quando a nota do exame não é a forma de medir. E assim se coopera, para não termos de terminar cantando, como o Lucy Luke, “I’m a poor lonesome cowboy”.

João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação

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