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Comissão de Justiça e Paz está contra mina a céu aberto junto a Montesinho

06 abr, 2021 - 15:50 • Olímpia Mairos

O organismo da Igreja Católica considera que, além dos impactos diretos sobre as populações, o espetro da degradação ambiental irá afastar potenciais turistas, reduzir o valor dos produtos endógenos e reduzir as potencialidades da região para atrair população que procura uma zona saudável para viver.

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A Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Bragança-Miranda alerta para os perigos que podem advir do projeto de exploração mineira a céu aberto, de estanho e volfrâmio de Valtreixal de Sanabria, em Calabor (Espanha), a cinco quilómetros da fronteira portuguesa.

“A concretizar-se, esta exploração terá também efeitos em Portugal, afetando negativamente o ambiente natural, a economia e a sociedade do Nordeste Transmontano”, afirma a comissão, citando, inclusive, o estudo de impacto ambiental, que expõe os “efeitos ambientais severos ao nível da qualidade das águas, dos habitats naturais e da paisagem, entre outros”.

Segundo o organismo da Igreja Diocesana, o projeto, dada a proximidade com a fronteira, terá também reflexos negativos no território transmontano-nordestino, nomeadamente ao nível da qualidade da água, dos habitats naturais, da paisagem e da saúde pública, nas localidades de Aveleda, Baçal, Varge, Gimonde, e em todas as ribeirinhas do Rio Sabor, até à foz no Douro, e neste, até ao Porto.

Em declarações à Renascença, Conceição Martins, membro da comissão Diocesana de Justiça e Paz, especifica que este “é um exemplo de outros projetos que, a instalarem-se na região, poderão afetar a qualidade de vida das populações, mas, acima de tudo, perturbar a qualidade ambiental desta mesma região”.

“É dessa qualidade ambiental que estas regiões mais desertificadas ou despovoadas, em termos humanos, têm, digamos, as suas mais valias”, alerta a especialista em Ciências do Ambiente.

O projeto de exploração de estanho e volfrâmio tem vindo a merecer preocupação e contestação, nomeadamente em Portugal, pelos impactes ambientais negativos que virá a ter nas bacias hidrográficas transfronteiriças dos rios Calabor e Igrejas, prolongando-se pelo rio Sabor, do qual são afluentes.

Degradação ambiental afasta potenciais turistas

De acordo com Conceição Martins, ao permitir-se, em regiões de alta qualidade ambiental, como é o caso de Trás-os-Montes, a introdução de projetos que venham a comprometer a qualidade ambiental, nomeadamente a qualidade dos recursos naturais, como a água, o ar, os próprios ecossistemas, a fauna, a flora, tal só vai retirar potencialidades à região.

Além dos impactos diretos sobre as populações, o espetro da degradação ambiental irá afastar potenciais turistas, reduzir o valor dos produtos endógenos e reduzir as potencialidades da região para atrair população que esteja em busca de uma zona saudável para viver.

“Ao retirar potencialidades à região, vai empobrecê-la. Vai deixar, por um lado, os recursos ambientais com menor qualidade para as pessoas, mas, também vai deixar menos possibilidades de usufruírem do seu território, de explorarem o seu território, no sentido de poderem atrair turistas de qualidade e outros visitantes, de poderem vender produtos que têm uma boa qualidade de produção, exatamente por serem produzidos numa região de elevado valor ecológico, numa região onde os recursos naturais são de boa qualidade”, explica.

A Comissão Diocesana de Justiça e Paz não tem dúvidas de que “este projeto vai ou poderá empobrecer a região, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista social”.

Em termos económicos e sociais, projetos desta natureza, assinala a Comissão Diocesana de Justiça e Paz, “só trarão malefícios, integrando-se antes no conceito de ‘economia de rapina’, própria do liberalismo económico da primeira metade do Século XX, operada por grandes grupos económicos que extraem riqueza a localidades, regiões ou países, sem pensar nas consequências ambientais e nas sucedâneas destas”.

“São projetos que estão a ser explorados por grandes companhias que deixam no local, além da degradação ambiental e da fragilização dos recursos, pouco mais, porque são projetos que promovem pouco emprego, normalmente de baixa qualidade e de baixo rendimento, pouco e nada qualificado, de baixo rendimento mesmo para as populações locais, muitas vezes recorrendo à mão de obra externa, também mal paga. E do ponto de vista social, isto acaba por não trazer benefícios nenhuns, mesmo em termos de rendimento económico”, alerta Conceição Martins.

Riqueza exportada para outros territórios

A especialista em Ciências do Ambiente sublinha ainda, à Renascença, que “toda a riqueza que ali é produzida e extraída vai ser exportada para outros territórios”, onde vai ser “valorizada e melhor cotada”.

“Nós sabemos que a sociedade humana precisa da utilização de recursos minérios, etc. Mas eles têm que ser estrategicamente bem pensados em termos de exploração e tem que ser com elevada qualidade na sua extração, para serem rentáveis, quer para as regiões onde estão inseridos, em termos sociais, em termos económicos e em termos ambientais”, defende a especialista.

Não é chegar ali, desventrar, levar o que há de útil e de bom e deixar para trás uma comunidade mais empobrecida, porque não ganhou nada do ponto de vista social, não ganha nada do ponto de vista económico, só ficou com os prejuízos da degradação”, conclui Conceição Martins.

O Projeto Valtreixal supõe um projeto de exploração mineira para a obtenção final de concentrados minerais de volfrâmio e estanho, na concessão denominada "Alto de Repilados", localizada nas proximidades de Calabor, município de Pedralba de la Praderia. O projeto situa-se a cerca de cinco quilómetros a norte da fronteira com Portugal.

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