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Mês Europeu de Luta Contra o Cancro do Intestino

"Não os vamos deixar sozinhos". Lançado projeto de ajuda a doentes com cancro colorretal

01 mar, 2021 - 07:31 • Ana Carrilho

"Tentamos dar-lhes algum sentido para a vida", diz à Renascença o presidente da Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo. O projeto já recebeu um prémio e vai, para já, apoiar 60 cuidadores e 30 doentes em zonas do interior de cinco distritos.

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A Europacolon Portugal – Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo – vai lançar um projeto de capacitação para os cuidadores e doentes com o objetivo de melhorar os cuidados paliativos prestados a pessoas com cancro do cólon e do reto. É uma das iniciativas para assinalar o Mês Europeu de Luta contra a Cancro do Intestino.

Em declarações à Renascença, o presidente da associação, Vítor Neves, explicou que o objetivo é “acompanhar doentes que estão em regime de cuidados paliativos, em casa, numa fase terminal da sua vida. Tentamos dar-lhe algum sentido para a vida, com apoio psicológico, emocional e espiritual”.

Mas não só. O apoio alarga-se aos cuidadores e envolve diversas especialidades: oncologia, enfermagem, psicologia, nutrição e voluntariado. As equipas fazem visitas ao domicílio e o acompanhamento é totalmente gratuito.

O projeto prevê um acompanhamento durante três meses, mas Vítor Neves garante que poderá ser mais tempo. “Ficamos com a família e os pacientes o tempo que for necessário. Não os vamos deixar sozinhos, para o doente equilibrar a sua sintomatologia, a sua qualidade de vida, mas sobretudo, a sua dignidade nesta fase difícil que é o aproximar do fim da nossa vida”, esclarece.

Para já, o projeto, que foi premiado pela Digestive Cancers Europe, vai apoiar 60 cuidadores e 30 doentes que estão em casa, em regime de cuidados paliativos, em zonas do interior dos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança. As pessoas a apoiar pelas equipas da Europacolon serão indicadas pelas entidades de saúde.

No entanto, Vítor Neves frisa que o programa poderá ser replicado noutras regiões do país.

Urgente retomar rastreios com colonoscopias

Em Portugal, todos os anos são diagnosticados cerca de 10.500 novos casos de cancro colorretal. É o segundo cancro que mais mata: quatro mil mortos por ano, 11 pessoas, todos os dias.

No entanto, a pandemia deverá ter agravado estes números porque muitos doentes adiaram primeiras consultas e com isso uma hipótese de diagnóstico mais precoce. Por outro lado, o acompanhamento de doentes que já estavam estabilizados tornou-se mais difícil.

Por isso, Vítor Neves considera que o Governo e o Ministério da Saúde têm de criar, urgentemente, um plano de recuperação emergente do acompanhamento dos doentes oncológicos.

“Os centros de saúde fechados não estão a sinalizar os doentes com sintomatologias que precisam do acompanhamento da especialidade. Os doentes estão a chegar aos hospitais numa fase mais aguda, com as doenças mais avançadas e tudo leva a crer que a sobrevivência vai diminuir. Por outro lado, os custos com os tratamentos destas pessoas vão agravar-se”, explica.

No caso do cancro do intestino, o rastreio – através de colonoscopia – tem um custo/benefício baixo, já que se for detetado a tempo, é perfeitamente curável, argumenta Vitor Neves, ao mesmo tempo que aponta o problema: através do Serviço Nacional de Saúde não há rastreios desde o início do ano passado e estamos a reduzir a capacidade das pessoas que têm a doença (que não desaparece por haver Covid) viverem mais tempo”.

A colonoscopia é a melhor forma de rastreio do cancro do intestino, “é imprescindível para a sobrevivência das pessoas nestes casos”. Admitindo que é um exame incómodo, Vitor Neves diz que pode ser feito com sedação.

E deixa uma imagem clara: “se perguntar a um doente que anda em tratamento do cancro do intestino se ele prefere uma sessão de quimioterapia ou fazer uma colonoscopia, ele não tem dúvidas em escolher várias colonoscopias ao mesmo tempo. É a escolha entre um exame incómodo ou ter uma doença oncológica que muitas vezes não tem solução”.

Para ajudar quem precisa, a Europacolon tem uma linha de apoio à preparação das colonoscopias: 808 200 199.

O cancro do intestino, estatisticamente, aparece entre os 50 e os 74 anos e leva entre seis a oito anos a crescer. “Portanto, com rastreio, dá-nos tempo de atuar se for feito a partir os 50 anos, como é recomendado para pessoas que não têm antecedentes familiares”.

Mas, em qualquer idade, o melhor é estar atento aos sintomas e procurar o médico: sangue nas fezes, sensação de que o intestino não esvazia, alteração dos hábitos intestinais (para diarreia ou prisão de ventre), dores abdominais, cansaço ou emagrecimento sem razões aparentes.

“Temos de estar atentos aos sinais que o corpo nos dá e o diagnóstico precoce é a melhor solução”, aconselha Vitor Neves, presidente da Europacolon Portugal.

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