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Covid-19

Gentil Martins lamenta falta de resposta aos médicos voluntários

11 fev, 2021 - 17:23

O cirurgião de 90 anos não consegue perceber o silêncio das autoridades, perante a falta de profissionais de saúde. "Como é que não se aproveitam as ajudas, que ainda por cima são voluntárias", questiona.

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O cirurgião Gentil Martins não compreende a razão pela qual os médicos que se ofereceram para ajudar voluntariamente o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não tenham recebido resposta do Governo, quando há "tanta falta" de clínicos.

Gentil Martins, com 90 anos, é o primeiro subscritor de uma carta assinada por mais de uma centena de médicos, "alguns reformados, mas ativos", enviada ao primeiro-ministro e ao Presidente da República a oferecerem-se para ajudar o Serviço Nacional de Saúde.

"Não houve qualquer resposta e a única coisa que não se consegue perceber é justamente se há tanta falta [de profissionais de saúde] como é que não se aproveitam as ajudas, que ainda por cima são voluntárias", disse o cirurgião pediátrico, que realizou várias operações de separação de gémeos siameses.

Gentil Martins sublinhou que "não se está a pedir dinheiro, está-se apenas a querer ajudar os outros", considerando "realmente extraordinário que não haja uma reposta".

O secretário de Estado-Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, afirmou na quarta-feira na Comissão de Saúde, que já enviou uma carta aos 160 médicos subscritores da missiva para lhes agradecer e dizer que vão remeter essa lista para os organismos competentes.

"Como temos feito com as listas que a Ordem dos Médicos também nos tem remetido e outros profissionais não aposentados, iremos remeter aos principais organismos, nomeadamente à ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde] e às ARS [Administrações Regionais de Saúde] para que possam ser contactados e para que possam exercer atividade que será muito útil, como sempre tem sido nesta fase", afirmou o governante.


Questionado sobre se já foi contactado, Gentil Martins afirmou que não. "Infelizmente só ouvimos palavras lindas, mas a concretização é zero, o que eu não considero que seja correto porque de facto ou as pessoas são verdadeiras ou enganam as pessoas".

"Só para ser politicamente simpático não vale a pena. Isto é para ser concreto e objetivo. Portanto, é para fazer e não para dizer coisas que depois não se concretizam, isso é que eu acho que é terrível", lamentou.

Gentil Martins admitiu que os médicos já não têm a capacidade que tinham quando estavam em pleno, mas sublinhou que isso não quer dizer que sejam inúteis. "Portanto, eles têm que aproveitar o que é aproveitável".

"Ora dizem todos os dias, e toda a gente comprova, que isto está a rebentar por todos os lados, então o que se puder fazer para minorar isso melhor", sustentou.

Classificou ainda como "curioso" o facto de a equipa de profissionais de saúde alemães terem ido trabalhar para o Hospital da Luz, um hospital privado.

"Quantos doentes estão em cuidados intensivos cá e vem uma equipa alemã para tratar e vão pô-la logo num dos melhores hospitais privados do país. Não se foi pôr em São José ou no Amadora-Sintra. Isto não pode ser assim. Não é para enganar as pessoas é para ser objetivo e concreto", criticou Gentil Martins.

Para o cirurgião, "a grande vantagem desta pandemia, que tem sido uma desgraça completa, é provar que tem que se utilizar tudo".

"Tem de se utilizar o privado, social, público e que de uma vez para sempre percebam que não pode ser só o Serviço Nacional de Saúde", concluiu. .

No decreto do Presidente da República que renova o estado de emergência até 01 de março, enviado na quarta-feira para o parlamento, mantém-se a possibilidade de prestação de cuidados de saúde por "quaisquer profissionais de saúde reformados e reservistas ou que tenham obtido a sua qualificação no estrangeiro", mas com uma mudança, estabelecendo-se agora que estes trabalhadores "podem ser recrutados ou mobilizados", onde antes se lia que podiam "ser mobilizados".

A covid-19 já provocou 14.718 mortes em Portugal dos 774.889 casos de infeção confirmados, segundo a Direção-Geral da Saúde.

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