Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Coronavírus

Fecho de fronteiras é “inútil no combate à pandemia e contra trabalhadores transfronteiriços” avisam autarcas do Alto Minho

04 fev, 2021 - 20:03 • Cristina Branco

O presidente da Câmara de Caminha alerta o Governo para a situação de milhares de trabalhadores transfronteiros que podem ter os empregos comprometidos devido ao encerramento de fronteiras. “Deixem trabalhar quem, de facto, está a trabalhar”, apela o autarca, que espera ver a medida revista já na próxima semana.

A+ / A-

O fecho de fronteiras, devido à pandemia de Covid-19, está a provocar sérios constrangimentos aos trabalhadores transfronteiriços, em particular na zona do Alto Minho. É um problema que está a tornar-se grave e que leva os autarcas da região a pedir alterações às medidas do Governo.

Cerca de seis mil trabalhadores transfronteiriços estão a ser seriamente afectados com a toda a orientação do trânsito para a Ponte Internacional de Valença-Tui, para ligar o norte de Portugal à Galiza, sendo a única ligação permitida neste momento.

“Há uma compreensão dos autarcas do Alto Minho e da Baixa Galiza com uma medida que é nacional e neste contexto de pandemia. Mas a verdade é que as medidas têm que ser eficazes, têm que atingir um resultado. E o único resultado que se consegue alcançar com este controlo de fronteiras que afunila numa única passagem – a Ponte de Valença – o trânsito de trabalhadores transfronteiriços, é uma medida contra esses trabalhadores e contra a manutenção de emprego”, afirma Miguel Alves, presidente da Câmara de Caminha, em declarações à Renascença.

No combate à pandemia “é uma medida inútil”, já que ambos os países – Portugal e Espanha – estão em confinamento, sublinha o autarca, também presidente do Conselho Nacional do Norte.

Miguel Alves lembra que, do lado galego, existe um “confinamento duro”, semelhante ao que existe em Portugal, que proíbe a circulação entre concelhos, a abertura de cafés e restaurantes e a realização de eventos culturais. “Isto quer dizer que as pessoas passam a fronteira livremente são apenas aquelas que têm mesmo que passar. Não há perigos de contágio que surjam desta ligação entre os dois lados do rio”.

Com as pontes fechadas, à exceção da Ponte Internacional de Valença-Tui, os trabalhadores transfronteiriços, incluindo profissionais de saúde que trabalham em Espanha estão a ter o dobro dos custos de deslocação para fazer mais 60 ou 90 km para poderem trabalhar.

“Nós estamos a prejudicar esses trabalhadores que têm que andar quilómetros em Portugal e quilómetros em Espanha para irem aos seus locais de trabalho, num contexto em que boa parte destes trabalhadores têm baixos salários, que gastam grande parte do seu vencimento no gasóleo e na gasolina e perdem o seu tempo nas horas em que têm que estar na estrada para ir trabalhar”, detalha Miguel Alves. E há mais: “há muitos enfermeiros e muitos médicos galegos que trabalham em Portugal e vice-versa que não conseguem prestar o seu serviço descansadamente por causa desta medida”.

O presidente do Conselho Regional do Norte afirma que tem tido contacto com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, mas que este não tem respondido às suas reivindicações, colocando como meta de uma possível revisão da medida, com a reavaliação quinzenal do estado de emergência, que acontece na próxima semana.

“O que nós esperamos é que o Governo perceba que há uma fronteira raiana por onde passa mais de 50% do tráfego automóvel entre Portugal e Espanha e que nós estamos a ter um efeito absolutamente nulo em relação ao combate à pandemia e estamos a ter um efeito muito duro sobre os trabalhadores transfronteiriços, sobre o emprego que resiste, apesar das dificuldades”, desabafa o presidente da Câmara de Caminha.

Miguel Alves deixa um apelo ao Governo: “Nós não estamos aqui a pedir uma abertura de fronteiras indiscriminada, o que estamos a pedir é que sejam atendidos aqueles que estão a trabalhar. Que deixem trabalhar quem, de facto, está a trabalhar”.

Está, entretanto, a decorrer uma recolha de assinaturas dos responsáveis das autarquias afectadas para contestar estes encerramentos através das formas legais ao seu alcance, em interesse superior dos trabalhadores transfronteiriços.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+