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Covid-19. Dezenas de ambulâncias à porta do Santa Maria e o país a romper pelas costuras

29 jan, 2021 - 07:25 • João Cunha , Anabela Góis

Às seis da manhã desta sexta-feira, a fila junto ao maior hospital do país não engana. Há ali doentes desde as 14h00 de ontem. “Parece que estamos à espera que alguém morra ou tenha alta”, diz uma bombeira. A região de Lisboa está no limite da capacidade.

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Ainda não amanheceu, mas a noite foi passada dentro da ambulância para muitos destes doentes, que aguardam vez na triagem no Hospital Santa Maria, em Lisboa.

Ainda não amanheceu, mas a noite foi passada dentro da ambulância para muitos destes doentes, que aguardam vez na triagem no Hospital Santa Maria, em Lisboa.

Por volta das 6h00, são cerca de 25 as ambulâncias à espera. A fila de veículos de emergência ocupa toda a zona frente à entrada principal do hospital. No seu interior, os doentes, alguns deles há 19 horas obrigados a “viver” naquele espaço, onde inclusive têm de fazer as suas necessidades fisiológicas.

Perto do fim da fila, dois bombeiros aguardam pela sua vez há cerca de seis horas. De vez em quando, entram numa grande tenda dos bombeiros de Queluz, instalada numa zona ajardinada, onde se fornece água e alguns alimentos para ajudar a passar as longas horas de espera.

Ali têm chegado donativos de cidadãos anónimos e é a partir deles que, numa viatura dos bombeiros, se fornece água e alguns alimentos para ajudar os bombeiros a passar as longas horas de espera.

No início da fila, está um doente numa ambulância desde as 14 horas de quinta-feira. A situação explica-se assim: não foi considerado um doente urgente e, por isso, aguarda para ser visto por um médico.

Já quem chega numa situação de urgência devidamente triada, dá entrada no hospital.

Pelas 9h00, já estavam 30 ambulâncias paradas à porta das urgências.

“Parece que estamos à espera que alguém morra”

Para reduzir a fila de ambulâncias e as horas de espera à porta do hospital, o presidente do Centro Hospitalar Lisboa-Norte (de que faz parte o Santa Maria) anunciou na quinta-feira que, já a partir desta sexta-feira, elementos do INEM e da Proteção Civil passam a fazer uma pré-triagem de doentes.

"A partir de amanhã [sexta-feira], nós teremos aqui uma equipa do INEM, acompanhada por uma equipa da Proteção Civil, que vai fazer uma pré-triagem das situações", anunciou Daniel Ferro, garantindo que, dessa forma, as situações urgentes que justifiquem tratamento na unidade serão atendidas "com mais tranquilidade".

Para as situações não urgentes, "foi já combinado com os ACeS [agrupamentos de centros de saúde] de Sete Rios e de Odivelas, que vão receber todas aquelas situações para as quais eles têm cuidados de igual qualidade", assegurou.

Contudo, alguns dos bombeiros que aguardam esta manhã junto às ambulâncias suspeitam que o problema na origem de tamanha fila não seja a triagem, mas sim falta de camas para acolher os doentes.

"Até parece que estamos à espera de que alguém morra ou tenha alta para que outros possam ocupar as suas camas", confessa, emocionada, uma jovem bombeira.

Hospitais no limite dos limites

Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, são muitos os hospitais no limite da capacidade. O Hospital Fernando da Fonseca (conhecido por Amadora-Sintra) tem 323 camas ocupadas; 29 doentes estão nos cuidados intensivos – isto, apesar de nos últimos dias ter transferido dezenas de doentes para outros hospitais e unidades de retaguarda.

No Hospital São Francisco Xavier, o edifício principal está totalmente dedicado a doentes Covid-19.

Em Loures, o Beatriz Ângelo tem, nesta altura, 259 doentes internados e 22 ventilados.

Durante esta semana, o hospital Garcia de Orta, em Almada, registou uma taxa de ocupação de 309%, com mais de duas centenas de internamentos devido a infeção por Sars-Cov-2, 19 dos quais em cuidados intensivos.

Várias unidades hospitalares do país têm dado conta, nos últimos dias, de uma situação de rutura nos serviços, devido à pressão de doentes internados com Covid-19.

Na quarta-feira, os dois hospitais do distrito de Portalegre tinham ocupadas todas as camas em enfermaria para doentes com Covid-19.

Os hospitais e Beja e Évora estavam com ocupação plena nos cuidados intensivos.

Nos hospitais do Norte do país, o número de internamentos desceu nas últimas 24 horas, mas a situação é de enorme pressão nos serviços. Nos próximos dias é esperado um aumento de admissões. A ARS Norte contabiliza 1.575 camas ocupadas e 289 doentes em cuidados intensivos.

Segundo o último boletim da Direção Geral de Saúde, Portugal voltou a registar, na quinta-feira, novos máximos de casos e óbitos com Covid-19. Só em Lisboa e Vale do Tejo houve 8.621 novas infeções pelo novo coronavírus, o dobro dos da região Norte (4.057). Em LVT morreram 142 pessoas no espaço de um dia e no Norte foram confirmados 60 óbitos.


[Notícia atualizada às 11h15]

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