Tempo
|
A+ / A-

Alunos de Serpa protestam contra frio nas aulas, agravado por pandemia

11 jan, 2021 - 18:08 • Lusa

Com uma temperatura a rondar os zero graus, cerca de 200 alunos da Secundária de Serpa manifestaram-se contra as más condições do estabelecimento de ensino e o frio que, nestes dias mais gelados e de janelas abertas, sentem nas aulas.

A+ / A-

Perto de 200 alunos da Escola Secundária de Serpa, no distrito de Beja, alguns enrolados em mantas e todos com várias camadas de roupa, protestaram esta segunda-feira de manhã, na rua, contra o frio que sentem nas salas de aulas.

Uma situação que se deve às más condições do estabelecimento de ensino, com infiltrações, falta de isolamento térmico, entre outras, e que se arrasta “há anos”.

Agora, em plena pandemia de covid-19, o problema só se agravou porque “as janelas e portas têm de estar abertas”, para arejar as salas, relataram à agência Lusa vários estudantes.

Com um saquinho na mão, tal como diversos dos colegas e dentro do qual se vislumbra uma mantinha, Maria Vitoriano, de 12 anos, explica que este acessório faz parte do material que leva para a escola, quando o frio “aperta”.

“Na minha escola anterior não tinha este frio. Mas, quando vim para esta, deduzi logo que tinha que trazer mantas”, disse, realçando que a sua mãe, antiga aluna da mesma escola, lhe contou que, na sua altura, “também tinha frio e já havia rachadelas nas paredes”.

Mesmo com a manta para a aquecer, nas aulas, Maria nem tira as luvas, senão torna-se “difícil” escrever: “Temos que escrever com luvas, só que o lápis escorrega”.

Dificuldades partilhadas pelos cerca de 200 alunos desta escola alentejana que hoje, ao início da manhã, com uma temperatura a rondar os zero graus, protestaram contra as más condições do estabelecimento de ensino e o frio que, nestes dias mais gelados e de janelas abertas, sentem nas aulas.


“Sala gelada, cabeça parada” ou “Para estarmos ao frio, estamos na rua” foram alguns dos cartazes exibidos pelos jovens, de turmas desde o 7.º ao 12.º anos, enquanto gritavam “Estudantes unidos, jamais serão vencidos”.

Nesta escola há dois anos, Patrícia Ferro, de 17 anos, já sabe o que “a casa gasta” e, por isso, o frio que se faz sentir mais intensamente desde há dias não a apanha desprevenida. Mas nada resolve.

“Costumo trazer gorro, luvas, às vezes três ou quatro blusas, por vezes térmicas, e até pijama, calças e collants ou três pares de meias e casaco. Muita roupa, para não passar tanto frio, mas mesmo assim tenho frio”, indicou, embrulhada numa manta polar.

A concentração dos alunos, enquanto estão nas aulas, “é em estarmos quentinhos, não em trabalhar”, relatou, frisando que, este ano, “por causa da pandemia, ainda é pior, porque tem que abrir as janelas e portas para arejar a sala”.

“Queremos que melhorem a escola, pelo menos o mínimo, para termos melhores condições e conseguirmos escrever, sem os dedos gelarem”, reclamou, criticando: “Para outras escolas houve milhões, para nós nem um euro”.


Depois de cerca de uma hora de protesto, inclusive com a adesão de alguns professores que também se concentraram no exterior, os alunos rumaram até à Câmara de Serpa, onde uma delegação da associação de estudantes foi recebida pelo executivo.

Cá fora, quando chegaram aos Paços do Concelho, o vice-presidente do município, Carlos Alves, dirigiu-se aos estudantes e transmitiu-lhes a solidariedade da autarquia, sugerindo que a iniciativa deveria ter decorrido “junto ao Ministério da Educação, em Lisboa, porque esta obra é responsabilidade do Governo”.

O autarca assegurou, contudo, que o município “vai avançar com o projeto da obra” enviado pelo Governo e que, agora, vai ter de ser adaptado a esta escola e candidatado a fundos comunitários.

“Estamos a falar com o ministério há anos sobre esta escola, já devia estar feita”, afirmou Carlos Alves.

Francisco Oliveira, diretor do Agrupamento de Escolas N.º 2 de Serpa, onde este estabelecimento se insere, lembrou que há anos que faltam obras e também um acordo entre o Ministério da Educação e a câmara.

“Sempre que as condições climatéricas são complicadas, os miúdos é que pagam dentro das salas de aulas. Nunca se chegou a acordo e nós é que vamos ‘pagando as favas’”, frisou o diretor.


Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Anónimo
    11 jan, 2021 Lisboa 19:36
    É para isto que estamos a mandar os miúdos para as escolas? Para apanharem Covid ao mesmo tempo que morrem de frio? Para isso mais valia CONFINAR que era o que já devia ter sido feito em Outubro, por mais que doa a toda a corja capitalista!

Destaques V+