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“Isto é vergonhoso”. Feirantes protestam contra cancelamento da feira em Vizela

29 out, 2020 - 12:23 • Olímpia Mairos

Autarquia diz compreender as preocupações dos feirantes, mas considera que a saúde pública e a contenção da propagação do surto devem prevalecer.

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Cerca de 60 feirantes concentraram-se esta quinta-feira em frente à Câmara de Vizela, em protesto contra a decisão da autarquia de cancelar as feiras semanais por tempo indeterminado.

“Nós somos sempre os prejudicados, sem fundamento nenhum, e estamos muito revoltados, porque nós estamos a cumprir o que a Direção-Geral da Saúde (DGS) decidiu, que é o uso de máscara e desinfetante, e procuramos manter o distanciamento”, conta à Renascença Luís Gomes, representante da Associação Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN).

O dirigente associativo não entende a decisão da autarquia em encerrar as feiras, quando “toda a gente sabe que as infeções têm mais a ver com os convívios sociais, em recintos fechados, como jantares de famílias”.

“Se as feiras fecharem os casos vão baixar?”, questiona Luís Gomes, para alertar que “se as pessoas deixarem de ir às feiras vão aos shoppings. E não é melhor ir a um shopping, com ares condicionados ligados e tudo fechado”.

Luís Gomes refere que a altura em que mais gente vai à feira é no verão e no verão os casos não aumentaram.

“Vejam quantos feirantes apanharam a Covid, desde que as feiras reabriram”, diz o dirigente.

Cancelar feiras “são decisões caóticas e sem coerência alguma. E só tomam estas medidas e não as que são precisas, porque os feirantes não tiram votos”, acusa Luís Gomes.

"Há feirantes a passar muitas necessidades"

O comerciante vende bolsas, guarda chuvas e cintos e considera “vergonhoso” o cancelamento das feiras em Vizela, “numa altura em que o seu artigo, nomeadamente “os guarda chuvas, têm muita saída”.

“Isto é vergonhoso”, reitera, acrescentando que “há feirantes a passar muitas necessidades”.

“Infelizmente, desde que as feiras abriram, estamos a faturar entre 20 a 30% do que faturávamos anteriormente e temos colegas com muitas dificuldades, porque não temos capacidades para pagar as contas”, afirma Luís Gomes.

Os feirantes exigem a reabertura da feira de Vizela e desafiam a autarquia a colocar as forças de segurança a investigarem, se cumprem ou não as regras.

“Se fechasse tudo, comércios, hipermercados, restaurantes, nós compreendíamos. Assim não compreendemos e exigimos tratamento igual a todos os outros setores”, conclui.

Os representantes da Associação de Feiras e Mercados do Norte tentaram ser recebidos pela autarquia, mas sem sucesso. O presidente da Câmara e os vereadores só entram ao serviço na próxima segunda-feira, após isolamento profilático. Os feirantes terão, então, que formalizar as suas reivindicações por escrito e aguardar por uma resposta da autarquia.

Autarquia compreende as preocupações, mas defende que a saúde pública deve prevalecer

Em comunicado, a Câmara Municipal de Vizela afirma que, “não obstante compreender as preocupações manifestadas pelos feirantes”, considera que “a saúde pública e a contenção da propagação do surto devem prevalecer”.

A autarquia indica três razões fundamentais para a decisão tomada, nomeadamente o facto de “a maioria dos feirantes que participam nas feiras semanais de Vizela” realizarem feiras em concelhos limítrofes, o que, atendendo à escalada dos números de infetados nesses concelhos, propicia exponencialmente a propagação do surto”.

“As feiras semanais de Vizela, para além da população do concelho de Vizela, são, também, bastante frequentadas por pessoas de concelhos limítrofes, o que, pelas razões expostas no ponto anterior, propicia exponencialmente a propagação do surto”, diz o comunicado.

A autarquia recorda ainda que “neste momento verifica-se que três concelhos próximos de Vizela (Paços de Ferreira, Felgueiras e Lousada) já se encontram com a realização das respetivas feiras suspensa, o que faz com que as respetivas populações se desloquem às feiras dos concelhos limítrofes, entre os quais se inclui Vizela, para aí suprirem as suas necessidades”.

A concluir, a autarquia afirma “compreender as dificuldades dos feirantes”, acrescentando que “ponderou devidamente as questões envolvidas, tendo concluído que, no momento da pandemia que atravessamos, com indicadores que nos colocam como um dos concelhos mais afetados do País, numa das regiões mais afetadas do nosso País, devem prevalecer as questões de saúde pública e de contenção do surto face ao agravamento verificado ao longo dos últimos dias”.

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