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Pandemia

Semáforos contra a Covid-19? “Pode vir a ser uma opção”

24 set, 2020 - 07:20 • Anabela Góis , Marta Grosso , com Pedro Mesquita

“É um mapa de cores para determinadas zonas”, explica Filipe Froes à Renascença. O processo está a ser estudado ao nível europeu e Portugal quer ainda “perceber se é a melhor opção”, diz o secretário de Estado da Saúde.

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O Governo está a estudar a possibilidade de implementar um sistema de semáforos para identificar zonas de maior risco de transmissão da Covid-19.

Em entrevista à SIC Notícias, na quarta-feira à noite, o secretário de Estado da Saúde afirmou que a opção está a ser analisada.

“Essa pode vir a ser uma opção. Estamos a estudar a possibilidade através de planos de elaboração de mapas de risco epidemiológico e temos aprendido também com a experiência de alguns países nessa área”, começou por afirmar.

António Lacerda Sales acrescenta que a utilização de “um processo de semáforos ainda está em discussão também ao nível europeu” e que o Governo português quer “perceber se, de facto, essa é ou não a melhor decisão”.

Na opinião do pneumologista Filipe Froes, o sistema pode ajudar bastante os portugueses a entender o nível de risco.

“É um mapa de cores para determinadas zonas, de acordo com o risco que há naquelas zonas. Na zona de Lisboa, que é grande, podemos ter zonas onde o número de novos casos seja mais alto, o que significa que há maior transmissão do vírus nessa comunidade, e zonas onde seja mais baixo – ou seja, zonas amarelas ou vermelhas e noutras verdes”, explica à Renascença.

“Isto significa que as pessoas, na sua mobilidade, têm de ter em atenção que podem atravessar zonas de maior risco e que isso obriga a comportamentos de maior precaução”, conclui o também conselheiro da Direção-Geral da Saúde.

O sistema já teve uma versão nas praias, durante o Verão.

Já Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa, defende "uma estratégia que passa por descentralizar as decisões relativamente a esta epidemia, para um nível mais local. Pelo menos para o nível do concelho ou, se não for possível, para o nível das grandes áreas de saúde”.

O especialista equipara este modelo aquele que já existe no caso dos incêndios. “Os concelhos deviam ter informação sobre a situação de risco Covid-19 no seu concelho. Não só no seu concelho, mas também nos concelhos vizinhos e, em função do estado de risco em que está o seu município e os vizinhos, deviam ter uma lista clara de medidas que deviam implementar no imediato”, explica em entrevista à Renascença.

“As pessoas nos concelhos sabem muito melhor do que as autoridades centrais no Porto ou em Lisboa, quais são os locais de maior risco para transmissão. Eles sabem onde estão os cafés onde as pessoas se juntam e onde pode haver transmissão. Eles sabem onde é que são as festas, eles sabem onde é que são as sociedades recreativas”, justifica.

Desta forma, com alternativas locais, seria possível evitar um novo confinamento nacional, perante uma segunda vaga mais severa, que se antecipa.

Na entrevista à SIC Notícias, Lacerda Sales afirmou, num outro plano, que, face a um aumento de casos de Covid-19, não é previsível a abertura ao público de recintos desportivos, nomeadamente os estádios de futebol, em breve.

É possível tecnicamente

É tecnicamente possível aplicar o conceito do semáforo de bolso à aplicação StayAwayCovid que já existe.

Contactado pela Renascença, José Manuel Mendonça, o presidente do INESC-TEC, onde foi desenvolvida essa aplicação, diz que seria possivel criar esse Semáforo de Bolso, mas não existiu ainda qualquer pedido das autoridades de saude nesse sentido.

"Sim, é possível tecnicamente, utilizando a mesma tecnologia que o StayAwayCovid utiliza para detectar os contactos entre pessoas. A mesma tecnologia permitiria que o meu telemóvel detetasse quantas pessoas estão num raio de dez metros, por exemplo, se não houver obstáculos, num espaço livre, sem atenuação do sinal, o meu telemóvel pode alertar, 'Atenção, põe a máscara'. A tecnologia permite fazer isso e o bluetooth de baixa energia permite fazê-lo com anonimato total, isto é, os telemóveis recebem os sinais, sabem quantos estão, não têm nenhuma informação de referência técnica, de que telemóvel, de que pessoa, de que número. Sabem só que há ali um telemóvel a emitir sinais", explica.

O especialista indica que seria ainda possível enviar mensagens a utilizadores que entrem em determinados espaços geográficos, à imagem do que já acontece com os incêndios, e que para isso bastaria um acordo com os operadores. "Os operadores sabem em que célula do sistema está cada telemóvel e portanto os operadores - que mandam os avisos dos incêndios no Verão - podiam usar um método análogo."

Ainda assim, josé Manuel Mendonça aconselha a que nada se faça sem antes obter um parecer da Comissão Nacional de Proteção de Dados.

Desde o início da pandemia Portugal já registou 1.928 mortes e 70.465 casos de infeção.

O Plano Saúde Outono Inverno 2020/2021 já prevê a inclusão de dois tipos de teste: testes rápidos em menos de 60 minutos e testes com resultados disponíveis em 24 horas.

O novo coronavírus já provocou mais de 971 mil mortos no mundo.

[Notícia atualizada às 10h40, com declarações de Filipe Froes e Manuel Carmo Gomes à Renascença]

[Notícia atualizada às 19h54 com as declarações de José Manuel Mendonça à Renascença]

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