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"Correio Solidário"

E se as pessoas sem-abrigo pudessem ter uma caixa de correio?

23 set, 2020 - 11:10 • Liliana Monteiro , Ângela Roque

Promover a autonomia e a responsabilidade de quem tem a rua como morada é um dos objetivos do "Correio Solidário". Projeto-piloto inovador foi lançado pela Associação Conversa Amiga, no Funchal, mas a ideia é alargá-lo a mais cidades.

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Uma morada regular e segura, num local acessível, para quem está em situação de sem-abrigo, é o que a Associação Conversa Amiga (ACA) pretende garantir com o "Correio Solidário". O projeto arrancou na Madeira, na cidade do Funchal, com 20 caixas de correio destinadas a quem tem a rua como morada ou ainda não tem casa definitiva.

Dez pessoas já têm na mão a chave que as ajudará um pouco mais no caminho da inclusão e de um lugar na sociedade. Ali já podem receber correspondência, informações institucionais, no fundo ser “cidadãos contactáveis, responsáveis e autónomos, sem dependência das instituições”, explica à Renascença o presidente da ACA.

“Aquela morada irá garantir a segurança postal destas pessoas, e será menos um fator de stress, porque tal como na questão dos cacifos, o não puderem guardar os seus pertences, este também é um fator de grande stress e desmotivação para estas pessoas”, diz Duarte Paiva, que não tem dúvidas sobre a importância e a diferença que uma simples caixa de correio pode fazer.

“Já imaginou como é para um sem abrigo fazer um Cartão do Cidadão? Coloca logo um desafio: qual é a morada que dá? Muitas vezes estas situações são ultrapassadas temporariamente pelas moradas das instituições que os apoiam, mas a longo prazo, ou até a médio prazo, essa não é uma boa solução”, afirma o responsável da ACA, que espera desta forma ajudar a abrir portas a direitos básicos. “Não só o Cartão do Cidadão, mas também receber uma pensão, um apoio à saúde. E aqui estamos a falar de pessoas que estejam efetivamente na rua ou num processo de inclusão, no início de uma nova fase".

A ideia surgiu depois de várias conversas com sem abrigo e pessoas ainda sem residência fixa, ou com vida pouco organizada. Mas, se a autarquia de Lisboa não respondeu positivamente à proposta, o Funchal agarrou de imediato a ideia. "A câmara do Funchal está muito empenhada em intervir na cidade com projetos que tenham impacto e que sejam inovadores. Foi também feita uma proposta à câmara municipal de Lisboa, porém nunca tivemos resposta”, conta.

Para Duarte Paiva, o ideal seria que este projeto piloto fosse alargado. "Esperamos que, aliando aqui outros parceiros, seja possível daqui a pouco tempo replicar o projeto por todas as cidades do país.”. O responsável remata: “O objetivo é que as pessoas em situação de sem-abrigo ou de grande precariedade tenham uma caixa de correio, e que estas caixas sejam individuais e autónomas, sejam seguras e estejam acessíveis 24 horas por dia, sete dias por semana."

Comentários
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  • luis vieira
    25 set, 2020 Açores 15:53
    O ideal seria que o presidente da ACA atualizasse a sua morada para receber as notificações do tribunal e pagar a quem deve. O seu processo de insolvência assim o obriga!!! Vergonhoso ....

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